sexta-feira, abril 04, 2025



 Pierce

Fazenda de Mr. Pokémon, Rota 30

Domingo, 1 de maio


Quando Pierce acordou já eram seis da tarde. Ele tinha tirado mais que uma soneca, ele havia dormido como um Snorlax após se empanturrar e havia acordado um tanto desorientado. Ele estava na casa de seu avô, se lembrou.

Ele saltou da cama de cima do beliche do quarto e ainda desorientado, ele caminhou até a cozinha em passos trôpegos, o corpo ainda estava tentando se orientar onde estava, era sempre assim quando ele dormia em um lugar diferente. Bocejando, ele abriu a geladeira e pegou algo para comer, algo que preferencialmente não tivesse carne nem nada de origem Pokémon dado às suas restrições alimentares enquanto vegano.

Yawn… Queria poder dormir mais um pouquinho — disse para si mesmo enquanto coçava a nuca, ele sentiu algo peludo passar por entre o vão de suas pernas, era seu recém-capturado Sentret que o olhou com aqueles olhinhos pequenos e vidrados — Oi Sentret, tudo bem?

O tanuki guinchou e se pôs de pé, apoiando-se na cauda e apontou para algo em cima da mesa da cozinha, um PokéGear de capinha cor de rosa, era o de Lyra. Ele coçou os olhos e depois virou-se para o pequeno Pokémon mamífero.

— O que está tentando dizer, Sentret?

Antes que o tanuki guinchasse de novo, alguém entrou na cozinha, era Luca ele tinha um olhar exasperado como se estivesse procurando por algo ou talvez por alguém.

— Que bom que acordou — disse Luca, o rosto estava avermelhado, ele estava um bocado suado — Você sabe onde a Lyra foi?

— A Lyra? — perguntou, entre bocejos, ainda se coçando um pouco — Ela disse que ia… — bocejo. — … que ia capturar um Pokémon. Ela não voltou ainda?

— Claro que não — constatou o meio-irmão — Estamos procurando ela faz um bom tempo, ela sumiu.

— Como assim sumiu? — indagou ele.

— Ela sumiu. Evaporou. Desapareceu. Escafedeu-se. — respondeu seu irmão — Estamos procurando ela nas cercanias, mas nenhum sinal dela e nem do Totodile dela.

— Ela deixou o celular aqui — apontou Pierce para a mesa da cozinha — E acho que não levou mochila ou a Pokédex.

— Acha que não tentamos ligar para ela? — pergunta Luca constatando o óbvio — Veste uma calça e vamos procurar ela, o vô-drasto e o Ren tão a sul da Rota 30 e o Joey foi ver na fazenda de apricorn aqui perto, eu estava querendo ir até o norte da rota, mas eu não tenho nenhum Pokémon e…

— Entendi — disse o mais velho — Vou com você.

— Primeiro veste uma calça, pelo amor de Arceus — aponta Luca — Ninguém quer te ver de samba-canção no meio da Rota 30.

— Ah, certo, certo — ele deu uma meia-gargalhada — Vou me trocar e te encontro na porteira, okay?

O seu meio-irmão assentiu.





Lyra

Caverna Escura, a nordeste da Rota 31


Lyra havia seguido o estranho Pokémon até uma rede labiríntica de cavernas. O interior era escuro como breu, ela mal conseguia ver nada além de dois palmos à sua frente, então confiava no tato e na audição para saber onde estava indo enquanto ainda seguia o rastejante Pokémon serpentino.

Totodile a seguia e a ajudava evitar tropeçar em algum Geodude ou Graveler ou até bater de cara com um enxame de Zubat enquanto seguiam aquele Pokémon. Se aventurar em uma caverna escura não estava nos seus planos de hoje, mas ela iria capturar aquele Pokémon ou seu nome não era Lyra Beatrice Winterfeldt.

— Será que ele está indo para seu ninho? — indagou ela enquanto persistia a seguir aquele Pokémon.

A menina continuou andando mais alguns metros pelo negrume da caverna junto de seu Totodile até que chegaram a uma galeria que parecia mais iluminada que o restante da caverna, o estranho Pokémon levou-os até ali e escavou com sua cauda de broca um buraco no chão, fugindo, deixando Lyra e o pequeno crocodilo sozinhos, o que frustrou a garota que veemente queria pegar aquele Pokémon e colocá-lo em seu time

Ela olhou para as paredes da caverna e virou-se para trás, ela não sabia que caminho tinha tomado para chegar ali, ela tinha se guiado às cegas até chegar ali e agora não sabia como voltar. Ela suspirou e apenas olhou para o buraco pelo qual o Pokémon serpentino havia escavado, havia vários pelo chão e pelas paredes, mas o que mais assustava Lyra era um maior que ela própria. Que Pokémon poderia ter escavado um buraco daquele diâmetro?

Um pequeno tremor abalou a caverna fazendo Lyra perder o equilíbrio. Estalactites caíram do teto da caverna, até a água de um manancial subterrâneo próximo ali ondulou, talvez Lyra iria descobrir mais cedo o que quer que tinha escavado aquele buraco em uma das paredes da caverna.

Rastejando e causando pequenos tremores vinha um Pokémon parecido com o anterior que Lyra havia perseguido até ali, porém maior, muito maior. Os olhos não eram cerrados, mas entreabertos e nulos de pupila e íris, eram brancos e sem alma. Em seu queixo haviam três protusões pontiagudas e seu corpo tinha não um, nem dois, mas três segmentos com asas atrofiadas e que se encerrava em uma cauda em formato de broca que tinha uma ponta cônica azul bastante afiada.



A criatura em questão era grande o suficiente para rondar Lyra e seu Totodile e encurralá-los. A serpente massiva inflou seu primeiro segmento e de sua boca soprou uma forte rajada de vento com a força de um tufão, varrendo Lyra e seu Totodile em direção a uma das paredes, mas ela segurou-se firme em uma estalagmite para não bater com a espinha dorsal contra as rochas.

A serpente parecia irritadiça por Lyra ter invadido seu ninho, outros espécimes menores assistiam-na de suas tocas na parede. Totodile então reagiu e atacou, sem que Lyra ordenasse, disparando rajadas de água e desferindo arranhões.

— Totodile cuidado! — gritou sua treinadora quando a serpente massiva atacou o crocodilo com a broca de sua cauda mandando-o longe, debilitando-o.

Aquele Pokémon era forte demais, Totodile ainda era bem fraco e nem com treino o suficiente ele conseguiria se equiparar com aquele estranho Pokémon, ela precisaria sair dali o quanto antes ou seria ela a próxima vítima da broca da cauda daquela serpente.

Ela agarrou Totodile em seus braços e correu dali em direção ao breu da caverna, mas parecia que ela não estava sozinha, a serpente e sua ninhada a seguia pelos túneis escuros da galeria labiríntica, ainda tentando não tropeçar em nenhuma pedra ou Geodude no caminho, a menina, ofegante, seguia às cegas com esperança de conseguir voltar por onde entrou.

— Ho-Oh sagrado — disse enquanto via, em meio ao negrume, a forma de três segmentos daquela dantesca serpente que sibilava, lambendo o ar com a sua língua bifurcada na esperança de saber onde Lyra estava com seu olfato — Por que que eu fui seguir aquele Pokémon até essa caverna? Que dia ruim, que dia ruim!

Ela continuou correndo até chegar em outra galeria da caverna, esta maior que a anterior e iluminada por uma fresta no teto, um pequeno manancial de água brotava das rochas em uma das paredes criando um pequeno laguinho onde Goldeen e Magikarp nadavam despreocupados, ao longe do outro lado do laguinho ela viu um Donphan e seu filhote Phanpy bebendo água.

Pela fresta no teto um vento frio soprava fazendo o corpo quente e suado de Lyra por conta da corrida sofrer com um breve choque térmico, mas nada que a desestabilizasse ali. O que era um choque térmico leve em comparação com a possibilidade de virar refeição de um Pokémon monstruoso como aquele, ela precisava sair dali o quanto antes.

A serpente com seus três segmentos tinha vindo em sua direção, dantesca e sibilando, abanando suas asas atrofiadas, ela encarava Lyra com aqueles olhos vazios e brancos. A criatura dantesca abriu a bocarra, mostrando a língua bifurcada. Lyra e Totodile não tinham para onde correr.




Luca

Caverna Escura, a nordeste da Rota 31


Os dois irmãos tinham seguido em direção a uma caverna ao norte, era o único lugar em toda a rota que ainda não haviam olhado. Com a lanterna em mãos, Luca seguiu na frente junto de Sentret, remando em seu skate enquanto seu meio-irmão ia logo atrás acompanhado por seu Gligar que planava logo acima usando sua ecolocalização para poder saberem por onde Lyra poderia ter passado.

Passando pelos corredores, túneis e galerias da caverna, Luca reparava rastros, eram pegadas, Lyra havia estado ali, mas também tinha reparado também o rastro de algo enorme, um Pokémon que parecia ter a seguido. Ele engoliu em seco e guiou-se com o skate pela caverna seguindo o Sentret de seu irmão que farejava o chão e estava atento a todo barulho.

O garoto, desviando de qualquer Geodude e Graveler e do eventual enxame de Zubat que sobrevoavam pelas estalactites, foi até uma grande galeria por onde a luz do céu noturno adentrava uma fresta no teto de onde um vento frígido soprava. Logo a frente de Luca havia um dantesco Pokémon reptiliano e serpentino cujo corpo era composto por três segmentos com asinhas atrofiadas e diante dele estava quem estavam procurando: Lyra, que estava apavorada e encurralada, só com um lago atrás dela enquanto o enorme Pokémon a rondava.

Luca pegou a Pokédex da menina que havia trago consigo e mirou para o Pokémon escaneando-o.


Dudunsparce, o Pokémon Serpente da Terra. Forma de Três Segmentos. Tipo Normal. Um estudo recente mostrou que os segmentos no corpo de Dudunsparce são determinados por um fator genético. Este gentil Pokémon irá carregar qualquer um que tenha entrado em seu ninho de volta por onde entrou.


 Luca olhou para Dudunsparce, aquele Pokémon não parecia nada gentil, muito pelo contrário, ele parecia bravo com Lyra. A serpente girava a broca na ponta de sua cauda ameaçadoramente e inflava o seu segmento dianteiro para assustar Lyra, o que parecia dar certo.

— Lyra! — ele gritou por ela.

A garota virou-se para ele, assustada, mas o Dudunsparce também tinha se virado, percebendo a presença de Luca e soprando o ar inflado de seus pulmões em um mini-furacão fazendo ele ser mandado para longe junto com Sentret, mas antes que ambos batessem de costas contra as pedras da parede da caverna, Pierce tinha aparecido e segurado tanto ele quanto o tanuki.

— Gligar ataque com Poison Sting! — ordenou ele.

O escorpião-morcego desferiu uma saraivada de agulhões embebidos em veneno na direção da dantesca serpente, fazendo que ela virasse seu alvo para o Gligar, soprando seus furacões na direção do Pokémon Terrestre/Voador dando oportunidade para Lyra e Totodile fugirem dali.

— Caraca, Lyra, como você fez para ser perseguida por um bicho desses? — questionou Pierce puxando-a pelo braço.

— Eu estava seguindo um dos… um dos menorzinhos — disse ofegante, os cabelos grudavam na testa devido ao suor. — O que tem um segmento só.

— Aquele dali? — questionou Luca apontando para um dos menores que observava tudo de um buraco na parede enquanto a batalha continuava.

— Temos que fugir logo daqui — disse Pierce — Aquele bicho parece muito irritado com a gente.

Luca olhou para trás, o grande Dudunsparce de fato parecia irritado, mas também transparecia outro sentimento. Ele olhava para os Pokémon menores parecidos com ele, todos tremendo em suas tocas, como se estivessem com medo. A grande serpente estava protegendo sua ninhada, estava atacando porque sentia-se ameaçado, não por que via Lyra ou os outros ali como seus inimigos.

Os pequeninos, os pequeninos devem ser protegidos — ele continuou olhando para o Dudunsparce e ficou incrédulo e virou-se de um lado para outro tentando entender de onde tinha vindo aquela voz, ele deveria ter ficado louco. — Os pequeninos têm medo. Os humanos dão medo aos pequeninos.

De olhos arregalados e concentrado na figura de Dudunsparce, Luca caminhou devagar até o grande Pokémon serpente que ainda batalha contra Gligar e depois virou-se para o seu meio-irmão que segurava Lyra pelo antebraço como se esperasse para saírem dali. Ele disse:

— Pierce chama de volta o seu Gligar — disse o garoto caminhando em direção ao Dudunsparce — Agora!

— Luca, não vai aí, não chega perto desse bicho! — exclamou o seu meio-irmão. — É perigoso!

— Se afaste — pediu Lyra, mas isso não impediu que Luca desse mais um passo.

— Eu sei o que estou fazendo — avisou ele — Chame Gligar de volta, eu sei que parece loucura, mas o Dudunsparce não quer batalhar.

Relutante, Pierce chamou o seu Gligar de volta enquanto observava o irmão ir até o furioso Pokémon serpentino, que o encarava com aqueles olhos enormes e vazios, brancos como um nevoeiro. Luca estendeu as mãos a frente do corpo mostrando que não queria fazer nada ao Pokémon e Dudunsparce não recuou.

— Eu não vim te fazer mal, Dudunsparce — ele disse.

A serpente sibilou, sua língua bifurcada lambendo o ar.

— Minha amiga só queria pegar um dos pequeninos — ele disse, replicando o mesmo termo que escutara em sua cabeça, voltando seu olhar para os pequenos Pokémon parecidos com o Dudunsparce — Ela não tinha intenção de assustá-lo ou…

Ele tocou na pele escamosa do Pokémon Serpente da Terra que abaixou a cabeça e encarou-o direto nos olhos. O ofídio lambeu o ar com a língua e sibilou, sem dizer nada Luca apenas sentiu, era como um segundo coração batendo, uma pulsação ao seu entorno que fazia os pelos de sua nuca arrepiarem.

— Está bem, está bem — ele acalmou a criatura — Não tínhamos a intenção de entrar no seu ninho e assustá-lo, sei que estava só querendo proteger a sua ninhada.

— O que está fazendo? — perguntou Pierce — Puta merda, meu irmão endoidou!

Lyra foi em direção a Luca, ela não parecia achar ele doido, Totodile foi junto dela, ela também tocou na testa escamosa da serpente que se mostrou mansa depois de tudo, ela não parecia sentir a pulsação que Luca sentia, mas deu um suspiro e dissera:

— Me desculpa — disse a menina — Eu que segui um dos seus filhotes e acabei parando no seu ninho, me desculpa se eu assustei você e eles, eu só queria capturar um deles. Me desculpa se eu acabei perturbando você e eles, não foi minha intenção.

A serpente sibilou, Luca não conseguiu ouvir a voz de antes vinda dela, mas ela parecia ter entendido o pedido de desculpas vindo da menina. O Dudunsparce abriu a boca e chamou um de seus pequeninos, o que estava observando tudo, que rastejou até Lyra e Totodile e depois se afastou dando espaço para eles.

— Ele quer… ele quer que você batalhe com o pequenino? — interpretou Luca.

Dudunsparce chamou pelos outros pequeninos, que vieram rastejando, alguns eram parecidos com ele, mas com dois segmentos, enquanto os menorzinhos apenas tinham apenas um. Todos lotaram aquela galeria na caverna. A serpente-mor com seus três segmentos tomou uma das estalagmites como seu assento VIP e sibilou como se estabelecesse as regras de uma batalha, Luca queria realmente entender o que aquele Pokémon falava como tinha acontecido momentos antes, mas talvez fosse só impressão sua.

O pequenino se posicionou de um dos lados da caverna e Lyra do outro, ela comandou Totodile a tomar posição no campo de batalha e o crocodilinho alegremente foi.

— Totodile comece com Leer!

O crocodilo fez uma cara ameaçadora, fazendo com que o pequenino tivesse suas estatísticas de defesa reduzidas. A serpente alada contra-atacou com uma saraivada de lama o que tornou mais difícil atacar com precisão.

Scratch!

Totodile, mesmo com lama na cara, desferiu um arranhão contra o Pokémon adversário que mordeu a ponta de sua cauda e começou a girar e contra-atacar. A batalha continuou, rolando, o Pokémon serpente atacara Totodile com mais força a cada turno, fazendo com que Lyra ficasse em uma saia justa, aquele Pokémon era bom demais batalhando o que parecia agradar o Dudunsparce.

— Lyra, a cada vez que ele vem em sua direção rolando o dano do golpe aumenta! — gritou Pierce.

— Tente pará-lo — gritou Luca.

— Okay, pensarei em algo — disse a menina — Totodile pule e faça múltiplos disparos de água no solo!

Ela comandou que Totodile saltasse e disparasse vários Water Gun seguidos contra o chão enquanto o Pokémon serpente, como um rolo compressor, vinha em sua direção, atropelando tudo. Totodile seguia as ordens de sua treinadora, correndo da serpente que vinha em sua direção passando por cada poça de água que havia se tornado lama no chão da caverna, deixando o adversário coberto com lama e lenteando-o e dando a janela perfeita de oportunidade de Lyra agir.

— Totodile dispare um último Water Gun!

Inflando os pulmões e arqueando a cabeça para trás, o crocodilinho disparou um forte jato de água que mandara o pequenino para longe, debilitando dando a chance para Lyra pegar uma Pokébola e jogar nele.

A esfera fora arremessada, capturando a serpente, chacoalhando uma, depois duas e uma terceira vez. Luca ficou tenso, ele tinha visto o seu irmão capturar Sentret mais cedo, mas aquilo era diferente, era outra situação. A Pokébola parou de mover-se, Lyra engoliu em seco, Luca e seu meio-irmão seguravam a mão um do outro esperando que a captura se confirmasse.

Click. Brilhinhos saem da Pokébola. A captura fora concluída, Lyra abriu um largo sorriso e o Dudunsparce pareceu sorrir também. A serpente e seus pequeninos foram em direção à Luca e os amigos e assentindo e sibilando, os menores que possuíam dois segmentos pegaram os adolescentes e colocaram nas costas da serpente-mor que saltou em direção ao chão abrindo um buraco.

Era como uma montanha-russa, os três adolescentes passavam pelo túnel cavado pelo Dudunsparce e sua ninhada, sendo transportados às cegas por aqueles labirintos sem saber por onde estavam sendo levados até que a luz do céu noturno do lado de fora se mostrava visível e esperando por eles do lado de fora na Rota 31 estava um preocupado Mr. Pokémon e Ren que estava com seu Hondour que balançava o rabinho de felicidade por vê-los. Joey e seu Rattata estavam logo atrás olhando tudo quando os três saíram do túnel, boquiaberto.

— C-como… — essas foram as palavras do treinador do Rattata.

— Parece que Xatu estava certo — disse Mr. Pokémon apoiado em sua bengala, olhando para seu pássaro psíquico que estava ao seu lado, com os olhos vidrados no grupo — Vejo que você se aventurou muito com os Dunsparce e Dudunsparce, hein Lyra.

Ele estendeu a mão para ela ajudando-a a sair do buraco cavado por Dudunsparce, ela puxou Luca e depois Pierce, os três já estavam do lado de fora. Dudunsparce e sua ninhada os olharam e sibilaram e depois submergiram na terra tapando o buraco por onde vieram, retornando para a caverna, com o grande Dudunsparce de três segmentos olhando para Lyra com aqueles olhos brancos cor de névoa e olhando para a Pokébola nas mãos da garota.

Ele havia sibilado, lambido o ar com a língua bifurcada como se quisesse dizer algo.

— Eu vou cuidar dele, eu prometo que ele ficará bem comigo — disse a menina e a serpente assentiu, sumindo no subsolo em seguida.

— Uau — disse Ren surpreso — Vou querer saber tudo o que aconteceu depois.

— Vocês batalharam contra aquele grandalhão?! — indagou Joey  impressionado.

— A gente fugiu mais do que batalhou — disse Pierce com Gligar em seus ombros e Sentret aos seus pés.

— Principalmente eu — Lyra deu uma risada nervosa. — Mas enfim eu tenho meu primeiro Pokémon capturado.

— Um Dunsparce, que sorte a sua — analisou Mr. Pokémon — São Pokémon raríssimos de se encontrar na natureza, menos de um por cento de chance de encontrá-los nas cavernas desta serra montanhosa entre Violet e Blackthorn.

— Sério?

— Sim, minha menina — disse o velho cientista — Poucos são os que se aventuram na Caverna Escura na sorte de achar um e você vai e ainda encontra um e sua linha evolutiva. Acho que em todos os meus anos nunca vi um Dudunsparce com Três Segmentos como agora.

— Agora eu estou com inveja! — disse Joey — Se eu não posso batalhar contra o grandalhão, então quero uma batalha contra o seu e eu vou usar meu Rattata top dos tops!

Luca revirou os olhos, Joey era irremediável, ele tapou seu rosto em vergonha, não queria ser associado com um maníaco por batalhas e Rattata como aquele menino.

— Não me acha ruim por eu ser uma garota? — provocou Lyra.

— Quer saber? Não me interessa se é um menino ou menina — ele disse em voz alta — Todos são meus rivais e eu e Rattata vamos chegar ao Planalto Índigo, você vai ver só, mas primeiro eu quero batalhar contra você!

— Bem, eu preciso de um banho e de lavar essas roupas — ela disse — Estão sujas de terra e eu estou fedendo depois de fugir de um bichão daqueles.

— E o jantar está sendo preparado — disse Mr. Pokémon — Venham, hoje a noite comeremos agedashi dofu.



Blue

Cidade de Goldenrod


Blue arrumava o batom na frente do grande espelho e dava um jeitinho nos cabelos castanhos. Ela não queria estar ali, mas o dinheiro era bom demais para ela recusar a proposta e bem, diferente de Red e Green, ela estava sem nada para fazer por um bom tempo, voltar a ação parecia interessante.

— Desculpa te chamar assim tão repentinamente — disse uma voz masculina, era a pessoa que havia contatado-a — Mas é que depois de três anos parece que finalmente tenho notícias dele e acho ser ele quem eu tanto procuro.

— Seu filho? — Blue virou-se, guardando o batom em sua bolsa.

O homem que havia contatado-a era um homem em seus quarenta anos com cabelos loiros e olhos rosados, ele vestia um terno verde-esmeralda com uma gravata rosada, o rosto dele era familiar para Blue, mas ela não sabia de onde. Talvez um ator de cinema? Não. Era alguém da política? Não parecia o caso. Tanto faz, ele havia contatado-a e requisitado um trabalho vindo dela.

— Oh não, não, não — ele riu — Não posso ter filhos, graças a Arceus, e mesmo que eu pudesse, não iria querer ter um.

— Se não é seu filho, então por que me chamou para brincar de detetive, moço? — ela se sentou na mesa com ele, eles estavam em um restaurante muito chique com salas de jantar particulares que tinham uma vista muito bonita de Goldenrod e seus arranha-céus. — Quem é o garoto?

— O nome dele é Dante — disse o homem — É o filho de uma antiga amiga minha, eu suspeitei que quando ela desapareceu seu filho também havia desaparecido, mas parece que ele foi visto em New Bark.

— New Bark? — ela coçou o queixo.

— Sim, você viu o noticiário? — indagou ele. — Parece que um menino roubou um inicial no laboratório do Professor Elm, mas que ele foi aliciado por grunts da Equipe Rocket.

— A Equipe Rocket? Eles voltaram? — ela olhou incrédula, ela pensou que aqueles patifes tivessem desbundado depois que Chase e os outros enxotaram eles em Saffron no incidente na Silph Co. — Não pode ser.

— Talvez sejam grunts sem vínculo com a organização depois que ela se desfez há três anos — deduziu o moço — Sabe como tem andado o crime em Kanto e Johto depois que Giovanni sumiu três anos atrás. Gangues e pequenos grupos tem ocupado os nichos que eles abandonaram, mas não com o mesmo impacto de antes.

— É, eu vi isso no Kanto News — ela disse para ele — Mas voltando ao garoto, por que você quer que eu encontre ele?

— Você era a única acessível — ele suspirou. — Ninguém sabe onde Red ou Chase estão e eles também não querem ser encontrados; Green Carvalho é um líder de ginásio com suas próprias ocupações; Lucy também desapareceu e alguns acreditam que ela foi de volta para Hoenn e bem sobrou você e a Elaine e bem…

— É, eu sei, eu estava dando sopa — ela deu de ombros. — A proposta pareceu bem generosa quando você ligou, eu estou curta de grana e bem, uma garota tem que se divertir de vez em quando e seguir em frente, já que o Pokémon da Caverna Cerulean não está mais ali.

— Então irá me ajudar?

— Posso tentar — disse ela. — O que você tem sobre o garoto?

— Alguns documentos e fotos — ele pegou uma pasta em sua maleta e entregou para Blue que analisou, o menino nas fotos tinha cabelos ruivos curtos e olhos prateados, se ele estava sumido fazia três anos, então sua aparência havia mudado — Posso providenciar mais, mas por ora estou de mãos vazias, só tinha esses arquivos.

— Acho que já é o suficiente — diz a menina kantoniana — Posso começar as buscas, mas já aviso que não sou nenhuma detetive, não sou como o famoso Looker da Polícia Internacional.

— Sei disso, mas sei que você conseguirá achar ele — o homem soou esperançoso — Depois que ela desapareceu eu ao menos quero saber onde Dante está e se ele está bem e seguro depois de todos esses anos.

— Posso fazer uma pergunta? — indaga Blue.

— Já fez, mas faça outra.

— O que esse Dante é seu? — questiona a menina — Se não é seu filho, nem nada, por que você quer que eu o encontre?

— É uma longa história — ele suspirou — Mas estou fazendo um último favor à sua mãe, é tudo que posso dizer.

— Então tá… — ela estreitou os olhos em suspeita — Senhor, hã…

— Erlking. Jay Erlking — ele disse.

— Senhor Erlking — continuou — Eu tentarei achar Dante, te informarei melhor se caso eu achar mais pistas sobre.

— Muito obrigado, Srta. Blue — ele apertou a sua mão — Muito obrigado mesmo.

— Não precisa agradecer, não ainda — ela disse — Eu vou cumprir meu trabalho primeiro, me agradeça depois, mas antes quero um adiantamento.

— Já previa isso — ele puxou um talão de cheque da sua maleta e entregou para a menina que arregalou os olhos com a quantidade de zeros — Saque este dinheiro e use como preferir, é só a primeira parte.

— Primeira parte? — pergunta, incrédula. — Tem mais?

— Bem, se fizer certinho tudo, eu vou te pagar o restante — disse ele — O dobro do que está no cheque. Me contate em meu número particular, gostaria de ter atualizações há cada duas ou três semanas se possível.

— O-okay — gagueja Blue. — Vou começar assim que possível, Sr. Erlking.

— Não se apresse, senhorita, vá a seu tempo — disse o homem — Agora se me permitir, deixe que eu lhe pague uma refeição antes de partirmos, acho que já te dei todas as informações que precisa.

Ela assentiu. Erlking pigarreou e chamou por um garçom para trazer o cardápio para pedirem, Blue apenas olhou para o gordo cheque em sua mão e para a pasta de arquivos, ela tinha que encontrar o menino. Ou ao menos tentar.


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