quinta-feira, julho 31, 2025



Pierce
Cidade de Violet, Johto
Domingo, 15 de maio


Harper estava indo embora naquela manhã de domingo. Sua turma da escola havia ficado na cidade por uma semana inteira por conta da excursão a cerca dos pontos turísticos e da cultura de Violet, por sorte ele tinha aproveitado um tempo com Pierce, Lyra e os meninos e curtido um pouco quando não tinha que ir à templos ou torres de monges e, com ajuda do Squad, o relatório tinha sido até mais fácil de ser feito. Vê-lo partir tão cedo quanto tinha pouco ficado com Pierce e os outros era doloroso, mas ele sabia que iria revê-lo hora ou outra em sua jornada.

— Por favor, cuida do papai e da vovó por mim — Lyra diz dando um abraço apertado no garoto. — Fala para eles que eu mandei um abraço.

— Pode deixar — o garoto dá um sorriso em resposta. — E vocês tratem de cuidar da Lyra, ouviram?

Os meninos assentiram. Luca deu um último toca-aqui em Harper, prometendo que da próxima vez andariam de skate juntos quando se reencontrassem e Ren deu um abraço no seu kouhai que segurava firme sua mochila nas costas e ia em direção do ônibus junto de uma miríade de estudantes em blazers preto e dourados. Pierce olhou para Harper e apenas acenou, ele era um garoto legal de se ter no grupinho deles.

— Pierce?

— Sim, que foi? — ele piscou, saindo do seu devaneio.

— Você não vai dizer tchau? — pergunta Harper encarando-o com aqueles grandes olhos cor de avelã, encarando-o como um filhotinho.

— Erm… Tchau, foi mal, é que minha cabeça tá meio cheia, sabe? — ele coçou a nuca. — Toda a coisa com a minha namorada têm me encucado, desculpa.

— Não é culpa sua — fala o menino. — Sei que você vai conseguir lidar com isso tudo.

Ele riu, talvez se sentisse um pouco tranquilizado com tudo aquilo apesar da ansiedade que batia à porta constantemente.

— Obrigadão, cara — ele sorriu e se aproximou do garoto e bagunçou seus cabelos espetados. — A gente se vê por aí.

— É, até mais — ele diz acenando e indo em direção do ônibus escolar. — Nos vemos depois, pessoal, tchau!

Ele entrou no ônibus junto de seus outros colegas de equipe e os quatro adolescentes ficaram ali, em frente ao Centro Pokémon, apenas encarando a esmo a rua sem saber o que fazer a seguir. Luca havia sugerido que todos fossem almoçar, já era meio-dia e aquele domingo já estava hiper preguiçoso, talvez surgisse alguma ideia de programa para a tarde.

O movimento no refeitório do CP de Violet havia diminuido drasticamente com o passar da semana. Com os treinadores deixando o recinto e retornando às suas viagens, o bandejão estava com menos pessoas, mas não significava que havia menos comida. O lugar estava impugnado pelo aroma de comida quente e deliciosa.

Havia muitas opções àquele dia. Não era bem a comida caseira de sua mãe, mas tinha gohan e sopa de missô, cortes de carne e peixe, embora ele não comesse. Legumes em conserva, pãezinhos recheados ao vapor, brotos da bambu e frutas da estação estavam ali para ser servidos à vontade. Por ser primavera, havia sakura mochi de sobremesa. O estômago de Pierce roncava tanto que ele poderia devorar uma árvore inteira se deixasse.

Para os Pokémon, o Centro oferecia rações e alimentos que iam de acorda com a dieta específica e a tipagem do Pokémon, além de berries e apricorns. Pierce pegara para seu Gligar algumas berries de casca mais dura, enquanto Sentret preferia as mais macias, já sua Pineco por ser um inseto, ele pegara néctar doce.

Os seus amigos também pegaram comida para si e para seus Pokémon, claro, com exceção de Luca, que ainda carregava aquele ovo para cima e para baixo. Ren e Lyra tiveram a mesma ideia de dar nacos de carne crua ao seus Houndour e Totodile, respectivamente, enquanto o Meowth de Lyra comia tiras de peixe cru. A Dunsparce de Lyra mastigava cogumelos desidratados e raízes, por sua vez a Murkrow de Ren ciscava um prato de sementes.

— Irmão… — Luca estalou os dedos à frente dos seus olhos, Pierce piscou e sacudiu a cabeça, saindo de seu devaneio. — Você pescou de novo. ‘Cê tá muito aéreo, Pierce.

— É… foi mal — ele coça a nuca.

— Ainda tá com aquela lá na cabeça, cara? — pergunta Ren.

Pierce acena que sim. Ele ainda pensava em Caitlin. Não… Catherine. Esse era o real nome dela. Ele ainda se sentia traído por ter descoberto que ela mentira para ele esse tempo todo, mas talvez ele só não percebera os comportamentos dela com atenção o suficiente para notar o quão abusiva era a sua relação com ela nos últimos dezoito meses.

Ele enviava cartas e presentes, mas quase nunca havia respostas ou retribuição por parte dela. Sempre que ele ligava, ela nunca parecia retribuir os “eu te amo” ou as demonstrações de afeto de Pierce e quando ele dissera que iria desafiar a Batalha da Fronteira e que ele sairia em jornada com Ren e Luca ela ficara possessa e ciumenta, coisa que se agravou mais quando ele mencionou a possibilidade de Lyra viajar com ele e os meninos.

— Eu vou terminar com ela — disse, coçando a nuca. — É o certo a se fazer, sabe?

— Cara, eu não sei… Ela é maluca — recorda Ren. — Mas se você sabe o que é o certo para você, vá e faça. Eu apoiarei você.

— Eu também — diz Luca. — Ninguém magoa meu irmão. Aquela maluca não tem o direito de fazer isso.

— Você não tinha combinado de se encontrar com ela? — pergunta Lyra e o menino assente com a cabeça.

— Eu e o Ren-ren vamos juntos, não é? — ele se vira para o menino de cabelos fúcsias. — Já conversou com o Min sobre isso, né? Vocês ficaram esses últimos dois dias só passeando.

As bochechas de Ren ganharam um rubor que, combinado aos olhos esparsamente arregalados, fez ele abaixar o rosto em vergonha. Ele deu uma breve recuada e falou baixinho, quase murmurando:

— É que… eu e ele só ficamos falando de mangás BL… — sua voz quase nem saía da boca. — Ele pediu outro volume do mangá que comprei e começou a me fazer mil e uma perguntas.

— Já é tarde para ele — Pierce brincou. — Seu vírus fudanshi contaminou ele por completo.

Ren deu um soco de leve no ombro do amigo.

— Se um dia você e o idol altão se casarem eu posso ser o pajem? — provoca Luca que ria.

— Eu quero ser madrinha — ri Lyra. — Posso ficar por conta da organização também? Eu tenho muitas ideias de decoração!

O rosto do menino ficou ainda mais vermelho, ele tapou-o com as palmas das mãos e se encolheu ali no banco do refeitório, os amigos riram um pouco mais, mas logo pararam.

— Mas e aí, você conversou com ele sobre vir…

Ren-chan!

Antes que a pergunta de Pierce pudesse ser feita uma voz interrompeu a fala de Pierce. Era grossa, porém canora, o quarteto se virou e viu de onde vinha a voz. Falando no diabo, a voz vinha justamente de Min que ia em direção à mesa junto de Aleksey, ambos os idol causavam certa comoção só de estarem ali no CP de Violet, mas com a diminuição na movimentação de pessoas, a atenção chamada para ambos era menor.

— Oi, Ren-chan — o idol alto sentou-se ao lado do melhor amigo de Pierce, passando o braço por cima dos ombros do garoto que ficara ainda mais vermelho que antes. — Oi, pessoal. Tudo bem?

— Oiê — Aleks acena e se senta ao lado de Pierce que sentiu um breve arrepio só de ficar perto do garoto louro, seu santo ainda não batia com o dele. — Hey, Piers, como você tá?

— Estava melhor antes de você dar as caras — ele dá um breve resmungo e se levanta, pegando sua bandeja já vazia e se afastando um pouco da mesa.

— O que aconteceu com ele? — perguntou Aleksey olhando de soslaio para trás depois voltando seu olhar violáceo para Lyra e os meninos. — Achei que esse sangue ruim entre nós dois havia acabado.

— Ele está passando por algumas coisas difíceis — diz Ren. — Ele acabou de descobrir que a namorada dele fazia catfishing com ele e isso abalou ele um pouco. Estávamos conversando sobre encontrarmos com ela, bem… eu e ele iríamos e eu pretendia convidar o Min-kun junto.

— Poxa, Ren-chan, já está me convidando para um date assim de cara? — provocou o idol moreno. — Só saímos uma vez. Parece o que aconteceu no capítulo seis do…

— Para, para, para, não é isso… — ele interrompe, envergonhado. — É que…

Min deu um sorriso e bagunçou os cabelos fúcsias de Ren. Aleks também deu um riso, igual a todos na mesa.

— Não é para você me acompanhar como casal, nem nada, é só para, você sabe… dar apoio ao Pê — diz timidamente. — É que eu e ele somos amigos há tanto tempo e…

— Por que eu não vou? — diz Aleksey. — Eu também conheço o Pierce tem um bom tempo.

— Acho melhor, eu não quero me meter em confusão de casal — fala o moreno kantoniano. — E eu tenho que resolver algumas coisas na cidade, já que hoje a noite eu vou pegar o trem de volta para Goldenrod, então não vou poder ficar.

— Eu também já estou de partida — diz Aleksey. — Mas só devo colocar os pés na estrada amanhã, então para mim tá bem de boa e.. bem… é uma forma de me perdoar com o Pierce pelas coisas que eu fiz no passado…

Ren, ainda um tanto acanhado, as bochechas róseas em vergonha.

— Você quem sabe… — disse, tímido, sem encarar o menino louro nos olhos.





Kousei
Rota 36, Johto
Domingo, 15 de maio


Havia uma floresta de pedra ali perto de Violet. Árvores fossilizadas misturavam-se com as ainda vivas ali na Rota 36. Quando ele e a irmã haviam passado por ali, correndo às pressas de seus sequestradores não haviam reparados nos torrões de madeira petrificada e opalizada ao sul da rota a caminho da cidade, mas também como que alguém iria reparar em algo quando estava tentando correr para viver.

Pelo chão da floresta, os irmãos gêmeos e Silver tentavam mais uma vez encontrar pistas que pudessem levar ao paradeiro dos sequestradores de Minoru. Eles com certeza deveriam ter deixado algo cair, pelo menos era o que Tenma preferia acreditar. Depois de tanto vasculhar a floresta, ele sentou-se embaixo de uma árvore petrificada e, frustrado, deixou todo o ar escapar dos pulmões na forma de um suspiro. Ele queria nutrir as esperanças de achar o irmão e talvez voltar a vida que tinham antes, mas ele sabia no fundo que não seria simples assim.

— O que será que o pai e a mãe tão pensando? — ele se perguntou, segurando sua garrafinha d’água em mãos, Vulpix estava em seu colo. — Sei que devem estar em Kanto na residência da família lá, mas… Será que estão sentindo nossa falta?

Ele fechou os olhos, apoiando a cabeça contra a árvore de pedra, e deixou a garrafa escorregar de suas mãos. A água derramou-se lentamente, escorrendo pelo solo ressecado até uma pequena planta que lutava para crescer ali perto. Ele nem percebeu. Sua mente estava longe, perdida nos labirintos de memórias que preferia esquecer. Seus pais nunca foram ideais e, na verdade, ele duvidava que houvesse alguém verdadeiramente bom em sua família.

— O pai deve estar cagando e andando para mim e a Masako ou o Minoru — ele diz. — E a mãe deve estar se esnobando para as amigas dela que não estamos acabando com a vida dela. Eles devem achar que voltamos para Galar…

Tenma soltou um suspiro. Ele tinha divagado demais. Ele se levantou de debaixo da árvore petrificado, mas antes que desse o primeiro passo ele notou a plantinha que a poça criada pela sua garrafa d’água tremelicar e o chão enlameado começou a remexer-se o que fez o garoto recuar quando um pequenino Pokémon saltou da terra.

A criatura lembrava uma pequena árvore bonsai em um vaso, seu corpo lenhoso era de um tom marrom quente, com manchas amarelas espalhadas pelo rosto. No topo de sua cabeça, três protuberâncias redondas, perfeitamente aparadas, davam a impressão de folhas podadas em um topiário. Apesar de sua aparência peculiar, era inegavelmente fofa, se não fosse pelo fato de ser um chorão.



Vulpix deu um passo para trás instintivamente, suas seis caudas eriçadas enquanto soltava um rosnado baixo, pequenas chamas tremulando nas bordas de sua boca. O pequeno Pokémon bonsai não perdeu tempo e avançou contra a raposa, balançando a cabeça descontroladamente em um ataque desesperado. Se Tenma não estava enganado, aquele era o movimento Flail.

— É um Pokémon do tipo Grama, não é? — ele murmurou, analisando a pequena criatura. Pokémon do tipo Grama eram fracos contra ataques de Fogo, então essa luta deveria ser fácil. — Vulpix, ataque com Ember!

A pequena raposa respirou fundo antes de lançar chamas azul-arroxeadas, disparando brasas incandescentes na direção do Pokémon que parecia uma planta. Para surpresa de Tenma, no entanto, o fogo mal deixou marcas na pele semelhante à casca de uma árvore.

Em vez de recuar de dor, os olhos redondos do Pokémon se encheram de lágrimas. E então, começou a chorar. Lágrimas escorreram por seu rosto enquanto soltava um grito agudo e lamentoso. Vulpix hesitou, sua postura defensiva vacilando enquanto recuava, as orelhas baixando com o som angustiante.

Tenma sentiu um aperto no peito.

— Desculpa, pequenino... Não queríamos machucar você, — ele murmurou, agachando-se e pegando cuidadosamente o Pokémon em seus braços. — Acho que não deveríamos ter te atacado.

Assim que o choro cessou, ele soltou uma risada aliviada e estendeu a mão para acariciá-lo. Mas, antes que pudesse tocá-lo, o pequeno bonsai subitamente bateu com força suas protuberâncias bem no meio da testa de Tenma.

— Ai! Isso doeu! — Tenma exclamou, recuando enquanto o Pokémon travesso saltava de seus braços.

Ele havia fingido o choro o tempo todo, enganando tanto Tenma quanto Vulpix para que baixassem a guarda. Agora livre, preparava-se para atacar novamente, com ainda mais entusiasmo.

— Seu…! — Tenma murmurou entre os dentes cerrados. — Vulpix, use Ember de novo!

Sem hesitar, Vulpix lançou mais uma rajada de chamas azul-arroxeadas. O solo ao redor do pequeno Pokémon bonsai foi chamuscado pelo calor, mas, mais uma vez, sua pele de casca resistente permaneceu intacta. Tenma cerrou os punhos.

— Mais uma vez! — ordenou.

Dessa vez, Vulpix não disparou brasas, em vez disso, uma língua de fogo se estendeu como um chicote, atingindo o pequeno Pokémon com muito mais intensidade. O golpe acertou em cheio, causando um dano visível.

Vendo a oportunidade, Tenma enfiou a mão no bolso de trás, pegou uma Poké Bola e a lançou contra o adversário enfraquecido. A bola acertou o alvo, se abrindo no impacto e sugando o Pokémon para dentro.

Ela balançou uma vez. Duas vezes. Três vezes. Então, com um suave clique, selou-se completamente.

Tenma soltou um suspiro profundo, limpando o suor da testa. Aquilo tinha exigido mais esforço do que ele esperava. Mas, ao pegar a Poké Bola e girá-la na palma da mão, um sorriso se espalhou pelo seu rosto. Seu time tinha mais um membro.

Ele pegou a Pokébola e abriu-a, liberando o pequeno bonsai. O pequenino olhou para o príncipe e saltou em seus braços e lá se acomodou, olhando para ele como um bebê olhava para o pai. Tenma soltou um suspiro, aquele Pokémon era um enganador de uma figa, mas até que era fofo.

Com seu novo parceiro consigo, ele e Vulpix foram ao encontro dos outros, eles não deveriam estar longe dali, já que tinham se separado para procurar por mais pistas. Por entre as árvores petrificadas e opalizadas, havia as de madeira lenhosa e viva ainda, rumando por entre elas, Tenma notou algo por entre as raízes de uma árvore. Um broche dourado estava no meio de uma pequena colônia de cogumelos vermelhos com manchas amarelas.

— Os mesmos cogumelos do Parasect… — ele deduziu. — Será que…?

Nii-san! — alguém gritou, era uma voz feminina, ele virou-se instantaneamente, se tratava de sua gêmea.

— Estou aqui!

Passos foram ouvidos em sua direção e os arbustos farfalharam, deles saíram a sua irmã acompanhada por seus dois Pokémon, Igglybuff e Ledyba, ela parecia visivelmente cansada. Ela também estava investigando sob o paradeiro de Minoru.

— Ah, aí está você — ela sorriu. — Encontrou algo?

— Encontrei um broche — ele pegou o objeto do meio dos cogumelos e mostra à irmã. — Acho que a mulher que levou ele deveria estar usando esse broche quando mandou o Parasect nos perseguir.

Era um broche de ouro em formato de um navio. Gravado no broche estava um nome: Takarabune.

— Eu não cheguei a reparar — confessa a irmã. — Acho que o pânico de querer salvar a própria vida faz com que não reparemos nas coisas, mas Takarabune… Que nome peculiar, nunca vi nada assim…

— E se for a organização que levou o Minoru?

A irmã apenas dá de ombros, sem saber o que dizer.

— Talvez deveríamos procurar mais sobre depois — ela fala. — Silver deve estar esperando pela gente no balão, ele escondeu a cesta numa gruta aqui perto, vamos partir amanhã.

— Certo — ele assente, guardando o broche no bolso.

— Aliás achei fofo esse Pokémon novo que você capturou — ela comenta. — É um Bonsly, não é?

— Eu acho que sim… — ele deu de ombros. — Agora nós estamos empatados no número de Pokémons, nee-chan.



Pierce
Restaurante Bellflower, Cidade de Violet, Johto


O Bellflower era um daqueles restaurantes sofisticados que as pessoas não paravam de postar nas redes sociais. Tinha todos os elementos do luxo moderno: uma iluminação suave e ambiente que banhava o salão em um brilho acolhedor, a melodia rica de um piano ao vivo flutuando de um canto e um cardápio repleto de pratos cujos nomes eram tão impronunciáveis quanto caros. Pierce já se sentia deslocado antes mesmo de entrar.



Ele teve sorte por já haver uma mesa reservada para ele e seus amigos naquela noite, embora, claro, ele não pudesse levar crédito por isso. No fundo, sabia exatamente quem havia feito a reserva. Catty.

— Você e seus… — O maître d' hesitou por um breve instante, seu olhar analisando sutilmente o grupo. Sua postura profissional permaneceu impecável, mas não havia como ignorar a avaliação momentânea em seus olhos. — …amigos podem me acompanhar até o segundo andar. Lady Caitlin está esperando por vocês.

Pierce mordeu o canto da boca, sentindo uma pontada de irritação. Por um momento fugaz, desejou que todos tivessem ficado no andar de baixo, em vez de o acompanharem. Esse era um problema dele. E ainda assim, sentia-se grato por não estar sozinho. Aquilo não era apenas um jantar, era mais um acerto de contas no caso. Um confronto. Ele precisava encarar Catty de uma vez por todas, finalmente obter a verdade sobre tudo o que ela havia feito. O catfishing, as mentiras, a manipulação, ele precisava de respostas. E talvez, só talvez, precisasse do apoio dos amigos mais do que estava disposto a admitir. Mesmo que isso incluísse Aleks, cuja presença nem sequer estava nos planos, mas como Min estava voltando para Goldenrod naquela noite, Ren insistira que Aleks fosse junto.

Eles tinham feito o melhor que podiam para se vestir para a ocasião, mas seus esforços estavam mais para "se virar" do que para "impressionar". Pierce usava um smoking desgastado e puído nas mangas preto com abotoaduras em madeira com um colete vermelho-cereja. Sua gravata preta era presa por um modesto alfinete de prata, e ele ao menos havia penteado o cabelo mesclado de preto e branco, ainda que se sentisse como uma criança brincando de se vestir bem.

Seu meio-irmão mais novo, Luca, vestia algo parecido, embora seu smoking fosse azul-safira, o colete preto e a gravata um vermelho profundo. A diferença de cores fazia com que parecessem peças de xadrez desalinhadas em vez de dois irmãos prontos para um jantar formal.

Lyra conseguiu montar um visual delicado, usando um vestido desbotado de babados em tons de arco-íris, sua elegância sutil complementada por uma blusa de seda creme que envolvia seus ombros. Até mesmo trançara o cabelo castanho com fitas vermelhas, um detalhe que adicionava um toque refinado ao seu visual.

Ren, por outro lado, optou pela simplicidade: uma camisa azul, uma gravata borboleta, um colete preto de lã e calças sociais que não combinavam perfeitamente, mas eram formais o suficiente.

A maioria das roupas tinha vindo de uma caixa de papelão com os dizeres “Achados e Perdidos” na lavanderia do Centro Pokémon. A enfermeira permitira que as pegassem, explicando que haviam sido deixadas para trás depois de uma festa realizada no centro anos atrás. Ninguém nunca voltara para buscá-las. Eram peças esquecidas por outros, mas, para aquela noite, seriam o suficiente.

A única exceção era Aleks. Ele sempre dava um jeito de se destacar. Enquanto o restante do grupo usava roupas de segunda mão, Aleks parecia pertencer àquele ambiente sofisticado. Sua camisa social bem ajustada e suas calças feitas sob medida caíam perfeitamente, como se tivessem sido feitas para ele. Seus sapatos de bico fino brilhavam sob a iluminação quente do restaurante, e o chapéu fedora pousado sobre seu cabelo tingido de loiro lhe dava um ar de canalha confiante. Um casaco roxo repousava sobre seus ombros, completando a imagem de um convidado que parecia pronto para uma gala da alta sociedade, em vez de um jantar tenso.

Enquanto subiam a escadaria sinuosa até o segundo andar, a grandiosidade do Bellflower se tornava ainda mais evidente. Lustres de cristal pendiam sobre mesas de mogno polido, lançando padrões de luz intrincados sobre as toalhas de linho impecáveis. O murmúrio educado das conversas misturava-se ao distante tilintar de talheres, criando uma atmosfera de sofisticação refinada.

Apesar de toda a elegância ao redor, Pierce não conseguia se livrar da sensação de peso que pressionava seu peito. Então, do outro lado da sala, uma voz preguiçosa e quase sonolenta quebrou o silêncio.

— Ah… então vocês finalmente vieram.

Sentada a uma mesa forrada de linho, havia uma jovem mulher, sua postura relaxada, mas imponente. Uma cascata de cabelos dourados caía por trás da cadeira, suas ondas capturando a luz de forma delicada. Seus olhos azuis como a superfície de um lago – semicerrados e sonolentos – pareciam que poderiam se fechar a qualquer momento.

Ela usava um longo vestido branco, tão etéreo que fez Pierce pensar em uma camisola muito chique ou talvez um penhoar de uma mulher rica de um daqueles filmes de época. Sobre a peça, um xale de seda translúcido em tom de rosa descansava suavemente em seus ombros, quase imóvel com sua respiração. No topo de sua cabeça, repousava um chapéu redondo branco, posicionado com um ar despreocupado, mas deliberado.

Ela exalou lentamente, apoiando o queixo sobre as mãos entrelaçadas, os cotovelos escorados na mesa.



— Então você deve ser aquele que minha irmã está namorando... Hmm... — Seu olhar deslizou sobre ele com uma curiosidade desinteressada. — Eu sou Caitlin. Prazer em conhecê-los. Todos vocês. — Ela soltou um bocejo discreto, sem sequer tentar disfarçar. — Demorou um pouco para eu vir de Unova até aqui, mas... — Outro bocejo interrompeu sua fala. — ...mas eu vim resolver essa confusão em que minha irmã se meteu…

As palavras saíam devagar, como se falasse no meio de um sonho. Então, após uma breve pausa, seus olhos sonolentos se estreitaram ligeiramente.

— Qual de vocês que é Percival Featherstone? — ela perguntou.

O garoto levantou o braço, hesitante, e deu um breve aceno.

— Sente-se. Sentem-se todos. — disse ela, fazendo um gesto leve com a mão. Seu tom de voz era calmo, quase preguiçoso, mas sua presença era marcante.

O grupo ocupou os assentos ao redor da mesa elegantemente arrumada. O restaurante estava silencioso naquela parte do segundo andar, e o tilintar dos talheres nos pratos parecia mais distante ali, como se estivessem isolados do resto do mundo.

— Peço desculpas por toda essa situação embaraçosa — continuou Caitlin, recostando-se levemente na cadeira, apoiando o rosto nas mãos. — Mas, honestamente, eu já deveria saber que Catherine estava armando algo. Ela tem estado impossível ultimamente. Felizmente, Darach é meus olhos e ouvidos sempre que estou fora de Johto ou Sinnoh durante a temporada da Batalha da Fronteira.

— Você era a Dama do Castelo antigamente, não é? — perguntou Pierce, recordando-se do que Thornton e Mira haviam comentado certa vez.

— Oh, sim, eu era — Caitlin respondeu com um meio sorriso. — Por um tempo, mas agora vivo em Unova. Tenho uma residência por lá, e quando o campeão soube que eu era uma treinadora excepcional de Pokémon Psíquicos, ele me convidou para integrar a Elite dos Quatro. Foi quando passei o título de Dama do Castelo para minha irmã mais nova, esperando que ela pudesse crescer como pessoa.

— Uau! Você é da Elite dos Quatro de Unova? Que incrível! — Lyra exclamou com os olhos brilhando. — Eu sou treinadora também. Bem, ainda estou começando, mas um dia quero desafiar a Liga Índigo e…

— Se tornar uma Campeã? — Caitlin a interrompeu com um sorriso, observando-a com interesse. — Seu entusiasmo me lembra um garoto que conheci em Unova no ano passado. Uma figurinha rara, tenho que admitir.

Ela soltou um bocejo breve e cobriu a boca com a mão de maneira delicada, como se cada movimento fosse calculado para manter sua postura elegante.

— Mas enfim, não foi para falar sobre batalhas que eu vim aqui hoje — disse ela, voltando a encarar Pierce. — Percival?

Ele endireitou-se na cadeira.

— Sim, madame…

— Por favor, não me chame de madame. Me faz sentir velha. — Caitlin fez uma careta breve e relaxou a postura. — De qualquer forma, lamento muito que minha irmã tenha manipulado você. Usar meu nome, mentir... Por Arceus, onde ela estava com a cabeça? Como você se sente com tudo isso?

Pierce hesitou por um instante.

— O que quer que me diga agora, saiba que eu já conversei com Catherine sobre isso — acrescentou ela, cruzando as mãos sobre a mesa. Seu olhar era doce e sincero, tão diferente do olhar frio e carregado de soberba que Catty exibia. — Sei que deve ser como a morte por mil cortes descobrir algo assim, mas pode confiar em mim. Desabafe comigo.

Ele respirou fundo. As palavras saíam devagar no começo, mas logo começaram a fluir. Os amigos permaneceram em silêncio, apenas ouvindo. Caitlin também escutava com paciência, sem interrompê-lo, apenas assentindo de tempos em tempos. Pierce falou sobre o relacionamento unilateral com Catherine, sobre como sempre sentiu que era o único que se esforçava. Contou que Catty era evasiva e possessiva, tão ciumenta a ponto de querer impedir sua jornada com os amigos – e, especialmente, com Lyra.

— … e no fim, quando descobri a verdade lá na Fábrica de Batalha, eu só… sei lá — ele coçou a nuca, frustrado. — Só senti que talvez ela nunca tenha realmente querido fazer parte do que tínhamos. E que eu estava insistindo à toa. Ela queria alguém para se gabar, um boneco pendurado em fios para mexer como bem entendesse. Eu? Eu nem sei o que eu queria, para ser sin…

— Não precisa dizer mais nada — interrompeu Caitlin, sua voz suave, mas firme. — Deve estar um turbilhão de emoções aí dentro. Já conversamos demais. Coma um pouco, acredito que todos vocês não vieram para ouvir o amigo de vocês ter uma sessão de terapia gratuita.

Ela bateu palmas delicadamente, e, como se fosse mágica, garçons surgiram trazendo carrinhos repletos de pratos cobertos por cloches. Quando as tampas foram erguidas, um verdadeiro banquete se desenrolou diante deles. Os pratos eram chiques, muitos de origem estrangeira, todos servidos em louça tão chique que Pierce duvidava que sua mãe usaria algo assim nem mesmo quando os parentes apareciam para as festas.

Ao final, com todos empanturrados, Caitlin ergueu-se graciosamente da cadeira e ajeitou as dobras de seu vestido. Seu sorriso, ainda que gentil, parecia esconder algo cansado, como se aquela noite tivesse exigido mais dela do que aparentava.

— Eu vou ter que me despedir de vocês, por ora. Não se preocupem, a conta já está paga. Podem pedir algo para viagem se quiserem ou alguma sobremesa, está tudo incluso — disse a Elite dos Quatro, com um leve aceno de despedida. — Tenho que pegar um voo de volta para Castelia pela manhã, mas creio que esta não será a última vez que nos veremos, meus queridos.

— Você já vai? — Pierce se levantou de súbito, a cadeira arrastando-se para trás no piso polido. Ele hesitou, como se estivesse segurando algo dentro de si. — Eu precisava… eu precisava conversar mais com você sobre…

Caitlin o olhou com seus grandes olhos cristalinos e sonolentos, a paciência transbordava deles como a água plácida de um lago.

— Não precisa. Você não precisa mais, meu rapaz — disse ela com um sorriso tranquilo. — O que você precisa agora é conversar com ela. Eu não posso ser sua agente intermediária, você terá que despertar a fera e lidar com ela. E você sabe disso.

Despertar a fera. Ele não podia mais contornar. Aquilo já estava bloqueando o caminho por tempo demais.

Ele engoliu em seco e sentiu uma pressão no peito, mas reuniu o pouco de coragem que tinha. Tinha que encarar Catherine. Acabar com aquilo de uma vez por todas.

— E onde ela está? — perguntou.

— Vá para o terraço — respondeu Caitlin. — Minha irmã preferiu ficar sozinha lá do que ter que me ouvir ser a adulta racional e não jogar os joguinhos dela. Vá lá, é seu direito terminar com quem te fez mal e mentiu. O amor que damos deve ser proporcional ao amor que recebemos, mas quando não recebemos nada… será que vale a pena continuar dando esse amor?

— Uau — murmurou Aleksey, enquanto ele e Ren apenas assistiam à cena, impressionados.

Pierce assentiu e caminhou para a escadaria que levava ao terraço do Bellflower. Seus passos eram rápidos, determinados, mas, a cada degrau ele queria voltar enquanto um nó se formava na sua garganta com tudo que ele queria dizer. Ao chegar ao topo, encontrou um espaço arejado, iluminado pela luz suave dos postes e pelo brilho distante das estrelas sobre a cidade de Violet.

Catherine estava ali. Sentada sozinha sob um caramanchão, de frente para a paisagem noturna, sua postura era impecável, de alguém criada em meio ao luxo e à nobreza. Os cabelos cor de mel cascateavam pelas costas da cadeira, e os olhos azuis e frios encaravam Pierce, como lâminas de gelo que perfuravam sua determinação.



Ao lado dela, imóvel como uma estátua, estava um homem de postura rígida e olhar afiado. Seu terno estava impecavelmente alinhado, os cabelos negros e dourados perfeitamente penteados, e os óculos arredondados refletiam a luz ambiente. Sem dúvida, aquele era Darach, o mordomo de Caitlin e, aparentemente, a sombra constante de Catherine. Seu olhar sobre Pierce carregava um vestígio de pena.



— Catty.

— Percival.

A voz dela era fria, desprovida de emoção.

Ele engoliu em seco, sentindo uma nova onda de adrenalina percorrer seu corpo. Mas, desta vez, não era medo. Era decisão.

— Eu estou terminando com você — ele disse, as palavras saindo antes mesmo que pudesse hesitar. Elas estavam presas na sua garganta por tempo demais. — Eu só queria saber… por quê?

— Por que fiz tudo isso? — Catherine repetiu a pergunta, sem um pingo de surpresa, as mãos entrelaçadas sobre o colo. Ela desviou o olhar por um instante, observando as luzes da cidade, como se estivesse lembrando de algo distante. — No começo, foi uma brincadeira — ela disse, um pequeno suspiro escapando de seus lábios. — Ser como Caitlin por um tempinho, rir disso um pouco. No fim, você continuou a brincadeira quando eu já não via mais propósito. Você foi o tolo que quis permanecer nisso. Tão simplório.

Pierce sentiu o estômago revirar. Aquela não era a menina de um ano e meio atrás. Não era a Catherine que ria de suas piadas bobas, que parecia gostar da sua companhia. Essa era a Catherine de verdade. A marionetista. A que puxava os fios, indiferente ao que acontecia com quem estava do outro lado.

— Achei que podia manter essa brincadeira por mais tempo sem que machucasse você — continuou ela, pegando uma taça de suco de Pomeg Berry da mesa. — Mas você que se machucou. E, bem… eu não beijo dodóis.

Ela levou a taça aos lábios, pausando apenas para lançar um olhar entediado para ele.

— Eu te disse para não sair em jornada. Para não ir com seus amigos. Para não desafiar a Batalha da Fronteira. Quis te poupar e agora você está aqui, se humilhando.

Pierce franziu o cenho.

— Você se escuta? — sua voz saiu carregada de incredulidade. O cinismo dela era tão escancarado que chegava a ser absurdo. — Quer saber, Catherine… procura outro para fazer de palhaço, porque eu cansei.

Ele deu um passo à frente, os olhos firmes nos dela.

— Na próxima, a gente vai se resolver na Batalha da Fronteira. Ouviu bem?

Ela não reagiu. Não moveu um músculo. Apenas bebeu o suco, como se a conversa fosse um mero incômodo passageiro.

— Não quis que eu desafiasse a Fronteira por medo de eu descobrir seu joguinho barato? — ele afrouxou a gravata. — Bem… saiba que eu vou desafiar você. E vencer no seu próprio jogo.

Ele se virou, sem esperar uma resposta. Desceu as escadas com passos firmes, sentindo o coração batendo rápido, mas pela primeira vez… leve.

Quando voltou para o salão, seus amigos ainda estavam à mesa. Caitlin já havia partido, e um garçom servia um bolo de chocolate em camadas finas, folheando-se, talvez era algo kalosiano e muito requintado, por que até a apresentação era bonita. Ele se jogou na cadeira, pegou uma fatia e um garfo.

— Como que foi? — perguntou Lyra, a voz carregada de expectativa e um pouco de cautela.

— Não foi — respondeu Pierce, soltando o ar pesadamente. Ele passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais, e franziu o cenho. — Ela é... argh. Como que eu fui gostar dela?

— O amor nos deixa cegos — disse Aleks, dando de ombros. — Mas e agora? Se sente mais leve?

Pierce ficou em silêncio por um instante, como se tomasse um tempo para avaliar seus próprios sentimentos. Então, respirou fundo, recostando-se na cadeira com um meio sorriso cansado.

— Como se eu tivesse retirado uma bigorna do meu pescoço.

Os outros riram baixinho, mas havia um certo alívio compartilhado na mesa.

— Eu tenho que agradecer a Mira depois — continuou ele, pegando o garfo e brincando com um pedaço do bolo. — O conselho dela valeu a pena. Até que, para um Toco de Amarrar Ponyta, ela é espertinha. Isso eu tenho que admirar de uma rival minha.

— Olha só — provocou Aleks. — Você admitindo que alguém pode ser esperto. Esse dia vai para os registros históricos.

— Ah, cala a boca, louro de farmácia — resmungou ele, mas sem qualquer real irritação.

O grupo riu novamente, e a atmosfera que antes parecia tensa agora estava muito mais leve.

— Agora o que você vai fazer a seguir, Pê? — perguntou Ren, cruzando os braços sobre a mesa.

Pierce endireitou-se na cadeira e olhou para os amigos. Pela primeira vez em muito tempo, sentia que tinha um caminho claro à sua frente.

— Continuar viagem com vocês — respondeu simplesmente. — Eu estou desafiando a Fronteira, preciso ficar cada dia mais forte. Então vocês vão me ajudar, e eu vou ajudar vocês.

Ele fez uma pausa dramática antes de acrescentar, com um sorrisinho:

— E, bem, quem precisa daquela lá? Eu tenho vocês. E... bem... tem o Aleks, também.

— Ei! — protestou Aleks, fingindo indignação, mas logo riu junto com os outros.

— Eu ainda não vou com a sua cara, você nem viaja com a gente, cara. — continuou Pierce, apontando o garfo para ele. — Mas estou começando a tolerar você, já que parece que está sempre metido nos nossos rolos. Então, bem… podemos ser, como você disse, mesmo? Aminimigos?

Aleks ergueu a sobrancelha, fingindo pensar no assunto, mas logo sorriu de lado e estendeu a mão.

— É, podemos ser aminimigos.

Pierce apertou a mão dele rapidamente, como se quisesse encerrar o momento antes que alguém fizesse um comentário piegas.

— Agora vamos comer esse bolo — disse ele, voltando a focar na sobremesa. — Porque depois de conversar com a Catty, minha boca ficou amarga.


Deixe um Comentário

Regras:
-Não pode xingar;
-Não pode falar de forma explícita pornografia e/ou palavrões;
-Não pode desrespeitar;

Inscreva-se | Inscreva-se para comentar

- Copyright © Neo Pokémon Johto - Distribuído por Blogger - Projetado pela Neo Aliança -