Lyra
Arena Poliesportiva, Cidade de Cherrygrove
Sábado, 30 de abril
A primeira fase do concurso tinha sido incrível. Lyra só tinha visto algo parecido como aquilo na televisão, ver ao vivo era diferente. A mãe de Pierce havia conseguido assentos na frente e ver tudo dali tinha maravilhado as pupilas da garota, todos aqueles coordenadores se movimentando com seus treinadores, ela já tinha seus favoritos, no caso três favoritos: Min, Aleks e Kara.
A performance que mais gostara, ela não iria mentir era a de Aleks, ele tinha convencido a todos que durante a apresentação havia derretido sua Bellsprout com aquele spray ácido, quando na verdade ela estava em sua cartola como num truque de mágica. Ela queria muito saber como ele tinha feito aquilo.
A segunda apresentação da qual mais gostou tinha sido a de Kara, todo aquele tema de espaço sideral e a explosão e as cores pastéis, tudo incrível, uma pena que os jurados haviam sido pesados em sua nota com ela, mas na hora do público da plateia avaliar ela havia feito questão de votar usando o tablet disponibilizado pelo Comitê da Fita e também pelo seu PokéGear e convencido os amigos a fazerem o mesmo. Kara merecia vencer!
A apresentação de Min, por outro lado, ela não tinha gostado tanto quanto as outras duas, mas ela não podia fazer muito a respeito, talvez ela tivesse entendido bem o conceito, era tudo tão estranho e confuso.
Após ver a apresentação de Aleks, que tinha deixados todos extasiados, bem menos Pierce, ela já queria que a rodada de batalhas começasse logo, mas tinha um monte de coordenadores pela frente e ela já estava para lá de entediada, quando pensava em pegar seu celular para ver as redes sociais um ping de notificação viera do aplicativo de mensagens, se tratava de Kara.
Kara 🌺💃🏿
Hey, topa comer churros? — 11:22 AM
um amigo me chamou — 11:22 AM
queria saber se vc e os meninos também iriam querer vir — 11:23 AM
Lyra:
eu estou faminta 😖 — 11:23 AM
vou ver se os meninos vão querer tbm — 11:23 AM
te encontro na frente do bazar — 11:24 AM
Ela bloqueou o seu PokéGear e guardou-o no bolso do seu macacão e olhou para os amigos, cutucando Luca que estava sentado ao seu lado e olhou para ele e disse:
— A Kara está chamando a gente para comer alguns churros — disse a menina de New Bark.
— Churros? — indaga Luca.
— Comer algo seria bom — comenta Ren.
— Eu não comi nada desde que cheguei — disse Pierce que se sentou ao lado do irmão e já estava meio entediado pelo que seu semblante mostrava. — Mama, tem algum problema a gente sair?
Christina, a mãe de Pierce, uma doce mulher de cabelos longos como os do filho, assentiu, ela estava sentada do lado de uma mulher loira gordinha e com olhos violetas bastante chamativos, ambas estavam conversando. Atrás delas estava um rapaz alto e loiro que era muito familiar à Lyra, era o atendente do caixa do konbini onde ela e Kara haviam ido ontem.
— Sem problemas, amor — sorriu Christina que pegou a sua bolsa que estava no chão e pegou algo de dentro dela, eram alguns ienes, ela entregou ao filho mais velho — Compre algo para vocês.
— Obrigado, Mama — disse ele — Vamos, pessoal.
— Também vou com vocês — disse o atendente do caixa do konbini — Preciso esticar as pernas um pouco. Já volto, tia Milla.
Seguindo Lyra, os adolescentes caminharam até a entrada do ginásio poliesportivo e de lá para o bazar que era uma confusão de barracas e carrinhos, pessoas comprando coisas, cheiros de comidas, uma festa para os sentidos. Ela tentou localizar Kara em meio à multidão, seria difícil não ver uma garota de cabelos rosas e em um traje tomara-que-caia semicromado.
— Onde será que ela está? — pergunta Lyra tentando procurar pela amiga.
— Ali — apontou Pierce.
— Lyra! — Kara acenou para ela, gritando.
Ao lado de Kara estava Min, ele parecia um soldadinho de brinquedo com aquela sobrecasaca preta com botões dourados, a calça branca, as botas longas, além da espada falsa na cintura, mas quem realmente atraiu os olhares de Lyra, adicionados aos de Ren, era quem estava mais atrás.
Um rapaz loiro e alto usando uma cartola chamava a atenção de todos, ele acenava e mandava beijos no ar. Os olhos violeta elétricos estavam esfumados e com um delineador que deixavam ele com uma aparência felina, além da combinação inusitada de colete com espartilho por cima da camisa social, os detalhes em courino e pelica das luvas, a calça e as botas pretas, ele parecia um mágico de circo. Era Aleks. Lyra havia zerado a vida, ela havia conhecido dois de seus idols favoritos de seu grupo predileto.
— Ly, Rennie — disse Kara alegre correndo na direção deles e abraçando a menina de cabelos castanhos. — Que bom que vieram!
— Ah pronto — resmungou Pierce baixinho. — O príncipe perfeitinho está aqui. Vou indo comprar algo para a gente comer, volto já, pessoal.
— O que deu nele? — indaga ela.
— Não sei — disse Lyra.
— Então esses são seus amigos? — indaga Aleks sorrindo para Lyra que corou profundamente, ela observou Ren ter a mesma reação — É um prazer enorme conhecer vocês, prazer, sou Aleksey, mas podem me chamar de…
— Aleks — murmura Lyra.
— Ou Lyosha… — completa Ren.
— Oh, são fãs? — ele sorriu e virando-se para Min. — Por que você está com cara de que sabia quem eles eram, Min-ho?
— Por que eu os conheci antes — disse, rindo e dando de ombros.
— Como sempre, o último a saber das coisas, Aleksey — diz o atendente do caixa aos fundos, ele olhava Aleks com certo desdém.
— Irmão, eu… — ele engoliu em seco. — Não te vi aí… Eu… Me desculpa por antes, Viktor, eu usei as palavras erradas e… Não foi minha intenção dizer aquelas coisas… Me perdoa, eu não te odiaria por você ser quem é… Você é meu irmão acima de tudo e eu não quero ficar errado contigo…
— Irmão? — disse Lyra surpresa, ela observou e eles tinham certa semelhança.
— Tá, Aleksey, eu entendi — disse ele se aproximando do irmão — Eu… Quer saber? Está okay, sei que se sente culpado pelas coisas que disse e vamos superar isso, está bem?
Aleks assentiu com a cabeça.
— O que aconteceu? — perguntou Min.
— Apenas um desentendimento bobo entre irmãos, nada que você precise se preocupar — disse Viktor — Agora, me diz, onde estão esses churros? Eu preciso de algo para adoçar a vida.
— Churros! — exclamou Luca — Queremos churros!
— É, isso mesmo, queremos churros! — disse Kara em um grito de guerra.
— A barraca não deve ser muito longe daqui — diz Min — Por que não vamos todos juntos? Dá tempo de comermos, darmos uma voltinha e ainda por cima esperar o fim da rodada de apresentações e do intervalo.
— Se-seria uma boa — murmura Ren, suas bochechas encobertas em um rubor.
Os adolescentes seguiram Min por aqueles corredores labirínticos de barracas e estandes, eram tantas coisas sendo vendidas ali que ela queria comprar tudo o que via pela frente, mas sabia que não poderia gastar tanto assim se não nem teria dinheiro antes de chegar a Violet e seu pai não a mandaria dinheiro tão cedo.
Eles pararam perto do food truck onde vendia churros, Min havia pago tudo para eles. Ela havia pego dois, sendo um para Pierce que não havia voltado até agora desde que havia saído. Enquanto estavam ali sentados na calçada, Lyra permitiu-se perguntar coisas a Aleks e a Min, assim como Ren, já que ambos eram grandes fãs do boy group ao qual os meninos pertenciam, Kara parecia chocada porém não surpresa com tudo aquilo enquanto Luca, por sua vez, estava com o rosto sujo de açúcar com canela e doce de leite dos doces, devorando tudo vorazmente.
— Você é o irmão do Pierce, não é? — indaga Aleks olhando diretamente para o mais novo dos adolescentes ali.
— Meio-irmão — corrigiu o menino de treze anos. — Meu pai se casou com a mãe dele, só somos irmãos completos da Pam, a minha irmã bebê.
— Oh, a Christina teve um bebê — disse Aleks em choque.
— Isso que dá ficar sumido por tanto tempo, Alyoshen’ka — riu Viktor.
— Mas voltando ao assunto, como está o seu meio-irmão? — pergunta Aleks. — Não conversamos desde aquela briga boba quando tínhamos doze anos… Eu queria me desculpar com ele…
— Bem, ele ainda te detesta — responde Luca para o idol — Não quer vê-lo nem pintado de ouro.
Lyra olhou surpresa para Aleks, ela não sabia que ele já conhecia Pierce, ela virou-se para Ren que era melhor amigo de Pierce e silenciosamente perguntou se ele sabia sobre assunto, mas ele negou.
— Não o culpo, eu fiz algo horrível — ele olhou cabisbaixo. — Eu também me odiaria depois de espalhar um rumor falso… — Aleks suspirou, ele parecia muito triste com aquilo, até seu tom de voz deixava isso óbvio, mas ele tentou não transparecer — Desculpa trazer isso à tona, galera, acho que acabei ferrando o clima aqui deixando ele tenso.
— Não, está bem, Aleks — disse Viktor, seu irmão, dando tapinhas no ombro dele. — Não se sinta culpado, okay, algumas pessoas vão aceitar seu perdão e suas desculpas e outras não. É a vida. Bem, acho que está quase dando a hora de retornarmos o intervalo já deve estar quase no fim.
— Verdade, verdade — disse Kara. — Eu quero saber se vou conseguir passar, os jurados pesaram a mão comigo… — ela suspirou. — Não quero decepcionar o pessoal de casa…
— Vai dar tudo certo, Kara — Min tentou alegrá-la.
— E se não der sempre há mais chances até o Grande Festival — disse Viktor por sua vez. — Vamos, levante a cabeça, vamos voltar para o poliesportivo e ver essas batalhas, hoje é meu único dia de folga e eu quero aproveitá-lo bem.
De volta até o ginásio poliesportivo, o grupo ficou diante de um telão que havia do lado de fora e lá aparecia a face de Lilian Meridian, a mestra de cerimônias, o intervalo havia encerrado-se e ela estava pronta para anunciar os competidores que iriam passar para a fase de batalhas do concurso de Cherrygrove.
— Olá, olá, Cherrygrove, estamos de volta dos comerciais e agora prontos para a rodada de batalhas do concurso — disse a mestra de cerimônias. — Depois das votações serem contabilizadas e após este longo intervalo temos os trinta e dois que lutarão entre si pela fita Cherrygrove.
E no telão, fotos como cartas de baralho distribuídas numa mesa, espalharam. Uma por uma, os coordenadores ali apareciam, a décima-primeira foto tinha sido a de Min o que fez ele sorrir, mas isso só aumentou a tensão entre Aleks e Kara que se entreolhavam, Lyra segurou a mão de sua amiga enquanto Viktor segurou a de seu irmão mais novo.
Vinte fotos e nada de Kara nem Aleks, tudo parecia tão devagar, mas nem trinta segundos haviam passado. Vinte e oito. Vinte e nove. Trinta. Trinta e um… A trigésima-primeira foto a aparecer no telão tinha sido a de Aleks e ele abriu um enorme sorriso e pulou, saltitando em comemoração.
— Isso! — exclamou. — A maldição de Cerulean acabou!
— Ah… Que bom… — disse Kara cabisbaixa, a trigésima-segunda foto apareceu no telão e não era a dela, seus lábios tremeram. — Boa sorte para os dois… Não tive tanta sorte assim…
— Da próxima vez você consegue Kara — Aleks se virou para ela. — Sei que vai conseguir se superar da próxima vez, que vai conseguir passar para a próxima fase.
Lágrimas se formaram, a maquiagem de Kara estava começando a borrar, Lyra abraçou a amiga em consolação, Ren e Luca fizeram o mesmo. Viktor olhou para os meninos e apenas disse:
— Vão, ela precisa de espaço um pouco — disse o mais velho — Ela ficará bem, ela só precisa chorar um pouco e respirar e dos amigos e vocês dois, vão, vocês tem um concurso para vencer. Ela ficará bem, eu prometo.
Os dois adolescentes assentiram para Viktor e foram para dentro do ginásio poliesportivo, mesmo apreensivos. Lyra guiou a chorosa Kara até um banco não muito longe dali e tirou da bolsa uma caixa de lenços umedecidos e ajudou-a a limpar o rosto como podia, embora precisaria de um demaquilante depois, mas por agora ela havia tirado boa parte da maquiagem borrada pelas lágrimas.
— Eu… eu… eu decepcionei minha família… Meu irmão nunca mais vai olhar na minha cara… A Natasha, ela… — ela soluçou. — Eu… não quero voltar para casa… I don’t wanna go home… I-I… I don’t wanna…
— Kara, em kanto-johtoniano, por favor — pediu Viktor que segurou sua mão firme. — Olhe para mim, vá. Você é de outra região, não é?
— De Galar — ela respondeu.
— Ah, entendo, em Galar as coisas são assim, não é? — indaga Viktor. — Competitivas?
Ela assentiu com a cabeça.
— Nos showcases por lá, se você perde, você não pode voltar a participar tão cedo, você tem que esperar por um longo tempo e tem que recomeçar de baixo… — ela disse chorosa. — Isso aconteceu com meu irmão na Liga… Eu não quero voltar para casa por que perdi no meu primeiro concurso aqui… eu… eu decepcionei a minha família… Casper deve estar com vergonha de mim…
— Calma, calma, você pode participar de outros — ele acalentou-a. — Não sou um perito em concursos nem nada, mas eu acompanho por conta do meu irmão mais novo e acontecem muitos concursos até a data do Grande Festival, você pode participar, seu sonho não acabou, okay?
— Você pode participar do próximo e do próximo e do próximo — diz Lyra. — Até você ganhar sua primeira fita. Sua segunda. Sua terceira e assim vai. Estaremos torcendo por você, amiga, agora vem cá, vamos tirar esse resto de maquiagem e trocar essa roupa, okay?
A galariana assentiu com a cabeça.
— Thanks, você é uma ótima amiga — ela sorriu. — Eu fico feliz de ter conhecido você aqui em Johto.
— Também fico feliz de ter te conhecido — diz Lyra — Agora vem cá, rainha alienígena, temos que realmente limpar essa carinha antes que fique manchado.
Aleks
Ver Kara triste havia abalado Aleks, ele sabia como estar no lugar dela, em Cerulean ele havia caído durante sua apresentação e envergonhado havia corrido do palco antes mesmo dos jurados darem a nota. Ter visto Kara chorar daquele jeito tinha sido como mil facadas em seu coração…
Ele suspirou, ela conseguiria se recompôr. Agora era hora de focar e batalhar, ele estava com a Pokébola de seu Aipom preparada, ele iria enfrentar seus oponentes e caminhar até as finais para conseguir a sua primeira fita de cinco.
— A batalha agora é de Aleksey Stepanov, nativo da cidade de Cherrygrove contra Nikita Lopez da Ilha de Cinnabar na região de Kanto — disse Lilian Meridian olhando para ambos.
A garota contra quem Aleks iria batalhar era uma garota de pele bronzeada vestida em um estilo geek chic e com tranças com fitas coloridas nas sete cores do arco-íris, ela parecia do tipo de nerd fofa saída de algum mangá shoujo ou dorama escolar. Ela olhou para Aleks ferozmente e segurou sua Pokébola.
— Cinco minutos na tela — disse Lilian e o relógio no telão começou a contar regressivamente. — Comecem!
— Ilya, é hora de fazer mágica! — Aleks arremessou a Pokébola e estrelas multicoloridas saíram dela.
Em meio às estrelas um Pokémon primata de pelos roxos se revelava, sua face amarela-creme tinha um grande sorriso estampado, na ponta de sua longa cauda ele tinha um apêndice em formato de mão com três dedos.
— Koffing, vá! — a garota jogou a Pokébola ao ar dela, saindo um Pokémon redondo e roxo, com calombos que lembravam pequenas crateras lunares — Coma a sua berry e use Belch!
A garota jogou uma Sitrus Berry para seu Pokémon Venenoso que imediatamente comeu-a e logo soltou um arroto roxo que explodira na cara de Aipom que fora jogado do outro lado do campo.
— Ilya revide com Sand Attack! — diz Aleks — E depois ataque com Water Pulse!
O macaco bateu no chão da arena com o seu apêndice-mão e levantou uma cortina na cara do Koffing que ficou impossibilitado de ver o que acontecia, diminuindo a sua precisão e com isso fazendo Nikita Lopez perder severos pontos. Logo em seguida, captando gotas de umidade no ar, Aipom condensou-as em uma esfera que pulsou em direção do Pokémon Venenoso explodindo em cheio, mais pontos haviam sido perdidos, uma vez que Koffing ao receber aquela pancada de água na cara parecia desnorteado.
Isso, ele estava confuso!
— Koffing coma esta Berry e engula, depois use Belch! — a garota geek pegou de seu bolso uma Lum Berry, bastante conveniente para aquela situação, como se estivesse prevendo tudo, mas Aleks era mais esperto.
— Thief! — disse Aleks assim que a fruta verde foi arremessada ao ar, Aipom saltou e ágil roubou a Berry e a comeu antes que Koffing pudesse se curar e arrotá-la. O macaquinho devorara a fruta no ato e Aleks assentiu com a cabeça — Acrobatics e Swift! É hora de fazer as estrelas se acenderem!
— Koffing revide com Flamethrower! — ordenou a treinadora, mas parecia ser em vão, o Pokémon atordoado flutuava errático, ele mal sabia para onde disparar suas plumas de chamas.
Ao ter consumido o item, no caso a Lum Berry, Aipom havia ativado parte do efeito do golpe Acrobatics que ao perder um item segurado o dano do golpe era aumentado. Girando e rodopiando no ar, cercado por inúmeras estrelas multicoloridas, Aipom caiu em direção à Koffing que não tinha como revidar, apenas caíra no chão, nocauteado.
Era o fim da batalha. Aleks havia vencido sua primeira batalha no concurso de Cherrygrove, faltava mais algumas até as finais.
— E com menos de dois minutos faltando, Aleks se sagra como vencedor desta batalha — diz Lilian Meridian. — Uma batalha bastante interessante, diga-se de passagem, utilizar-se de condições de status e efeitos de itens. Fascinante!
Ele sorriu fraco e recolheu seu Pokémon para a Pokébola e foi em direção aos bastidores, Nikita Lopez foi atrás dele com uma expressão de desgosto, algumas pessoas não aceitavam perder. Muitas vezes uma batalha se tratava de usar o que o adversário tinha a seu favor e em um concurso não seria diferente, ele tinha sido ágil como um trovão e usado as berries de Koffing e o fato que sua precisão havia sido diminuída e a confusão para atacar e dar-se uma janela de abertura para atacar com um golpe como Acrobatics que tinha ganhado mais força assim que Aipom consumira a berry que roubou de Koffing.
— Foi uma vitória rápida, hã — diz Min que estava de braços cruzados o olhando. — Gostei do que vi, mas será que você chega até a final?
— É o que mais quero — ele disse enquanto segurava a Pokébola de seu Aipom, ele tinha que no mínimo chegar à final. — Preciso chegar a final e vencer.
— Então boa sorte, Aleks — Min sorriu. — Por que aquela fita está com meu nome nela.
— É o que vamos ver.
Aleks se sentou em um dos bancos e pelo telão observou as batalhas, ele mentalmente se preparou para a próxima rodada e para a seguinte. Logo trinta e dois coordenadores se tornaram dezesseis e esses dezesseis diminuíram para oito e de oito sobraram apenas quatro, em uma hora e meia o concurso de Cherrygrove já havia ido para as quartas de final.
Aleks batalhou contra cada coordenador de maneira diferente usando seu Aipom e a gama de golpes que ele aprendeu durante os treinamentos e pelos TMs que ele havia comprado nesses últimos meses, ele precisava chegar às finais, precisava da fita, precisava provar para Naomi-san que ele estava apto a viajar sozinho como seus outros colegas, que a agência podia confiar nele, que seu manager podia confiar nele viajando sozinho e desafiando os concursos e subindo nos rankings até chegar ao Grande Festival.
Era agora ou nunca.
As quartas de finais logo logo tinham se transformado nas semifinais, coordenadores eram derrotados e Aleks e Min subiam os degraus aos poucos, parecia que ambos estavam obstinados a ganhar aquela fita. Colegas de trabalho agora eram rivais declarados. Quando as finais chegaram, Aleks sentiu um nó na garganta quando Lilian Meridian anunciou os nomes dele e de Min:
— Uau, que loucura, os nossos competidores das finais do Concurso de Cherrygrove de hoje são colegas de longa data — disse a mestra de cerimônias — De um lado temos o compositor e main rapper de um dos grupos masculinos mais bombados de Kanto e Johto, 3vennight. Seus fãs, os Sunnies, o chamam de Absolute Zero Rapper, deem uma salva de palmas para ele: Choi Min-ho da cidade de Celadon!
E Min veio caminhando, em sua sobrecasaca, parecendo um soldado quebra-noz, marchando, a espada de mentira na cintura, ele sorria com certa frieza e elegância que assombrava Aleks.
— Deste lado da nossa arena temos ele, nosso Cavaleiro das Flores, o xodózinho, o caçulinha do grupo e dançarino principal — anunciou Lilian Meridian — Os fãs avidamente esperavam o comeback dele após Cerulean e parece que nosso Cavaleiro das Flores finalmente floresceu. Todas as palmas para eles, Aleksey Stepanov!
Aleks caminhou até a arena e do lado oposto olhou para mim, ele havia chegado às finais, agora era hora de provar-se, de colocar os treinos e coreografias à prova, as semanas lidando com ansiedade e nervosismo, o medo de perder e de decepcionar as pessoas mais importantes em sua vida como um idol.
— Cinco minutos no telão e Pokémon à arena!
— Gloom, traga o frescor das flores após um longo inverno! — ele lançou ao campo seu Pokémon.
Envolto em um selo com efeito de fumaça branca um Pokémon de pele azulado, olhos cerrados e lábios grossos cujo pingavam um fio de baba nectário, no topo de sua cabeça havia um floração bulbosa vermelha com extensões folhosas, era o Pokémon assinatura de Min, que ele havia trago consigo desde que eles eram meros trainees o qual Aleks havia conhecido como um singelo Oddish.
— Ilya, é hora de fazer mágica!
E do selo de estrelas, o Aipom de Aleks saíra, exibindo seu típico e largo sorriso.
— Sunny Day — ordena Min — e depois atire Bullet Seed pelo chão!
No chão? O que ele estava tramando?
A raflésia gerou uma esfera de luz como um sol falso do topo de sua flor e lançou-a para o alto, iluminando a arena e em seguida cuspiu uma rajada de sementes pelo chão, cravando-as ali.
— Ilya contra-ataque, use Swift e em seguida Water Pulse!
Min deu um meio-sorriso carregado de maldade, Aleks sabia que o golpe não seria nada super-efetivo em Gloom, mas ele tinha que se garantir com o que tinha em seu arsenal e proporcionar uma confusão na raflésia.
O macaquinho gerou um halo de estrelas ao redor do punho do apêndice de sua cauda e captando a água do ar que podia, gerava uma esfera hídrica que pulsava e atirou-a contra o Gloom, sem efeito e infelizmente sem confusão, aquilo só havia molhado a planta e as sementes que havia cravado no chão.
— Gloom use Sweet Scent!
— Desvie.
Mas era tarde demais, da raflésia de Gloom uma névoa odorosa atingira Aipom, o que fez Aleks perder alguns pontos no contador do telão e diminuindo a evasão de seu Aipom, tornando-o um alvo fácil dos golpes de Gloom.
— Acrobatics — ordena Aleks — E combine com Ice Punch!
— Apelando para o super-efetivo, Aleks? — Min riu — Gloom use Grass Knot!
E erguendo os bracinhos, Gloom fez das sementes disparadas por seu Bullet Seed brotar touceiras de gramas que se trançaram e seguraram Aipom fazendo ele tropeçar antes que pudesse realizar sua acrobacia seguida de um soco de gelo. O campo agora estava coberto por um gramado trançado, brilhoso com as gotículas d’água do Water Pulse e brilhante ao sol falso do Sunny Day, era como se Min tivesse planejado tudo!
— Use Mega Drain agora, Gloom!
E usando das touceiras de grama que prendiam os pés de Aipom e prendiam-o ao chão, Gloom sugou as energias do macaquinho fazendo seus pontos de saúde serem absorvidos pela raflésia em esferas brilhosas de clorofila, nutrindo a planta.
Aleks já havia perdido cinquenta por cento de seus pontos enquanto Min deveria estar com oitenta e poucos, ele tinha que agir, já tinham se passado cerca de três minutos, faltavam dois minutos.
— Destrua esse gramado com Ice Punch e se livre daí — ordena o loiro ao macaco. — E desfira uma série de socos contra o Gloom combinado com Swift!
Aipom fez o que foi ordenado. Com sua cauda-apêndice, ele socou o chão de gelo, destruindo as touceiras de grama que o imobilizaram e depois saltou no ar e com seus membros superiores em combinação com o punho na ponta de sua cauda ele disparou uma saraivada de socos de gelo que caíam como meteoros gélidos em direção ao Gloom, as estrelas multicoloridas davam a impressão da cauda de um cometa enquanto os punhos-cometas atingiam a raflésia fazendo Min perder muitos pontos igualando-se a Aleks.
Faltavam um minuto agora.
00:59…
00:58…
00:57…
— Gloom reúna energia, vamos executar nosso finale — disse o celadoniano. — Solar Beam!
As pétalas da raflésia embranqueceram-se emanando luz, o sol falso do Sunny Day apenas intensificava aquilo, Aleks engoliu em seco, não havia como desviar de um Solar Beam em uma condição daquelas, ele apenas pode engolir em seco e pensar em algo.
— Ilya agora utilize Acrobatics — ordena o coordenador — E desça com toda força com um forte Ice Punch!
00:40…
00:39…
Gloom então disparou de sua boca um potente feixe de luz solar condensada na direção do primata que no ar fazia uma acrobacia arriscada e como um cometa ainda mais potente, descia com um soco de gelo em vão para aquele disparo de sol.
Uma explosão. Vapor e estilhaços de gelo preenchiam o ar, impossibilitando Aleks e Min de ver o que tinha acontecido, a bruma diminuía aos poucos e logo o campo de batalha ficava mais visível. As touceiras de grama que antes tinham sido encobertas pela geada dos socos de Aipom, agora estavam amareladas e secas, murchas e em meio àquela campo o pequeno Pokémon macaco lutava para ficar de pé. O coração de Aleks martelou em seu peito, eram os segundos finais, ele ainda tinha que lutar e conseguir a fita, ainda dava tempo.
Até que não deu.
Aipom caiu em campo, fora de combate, impossibilitado de continuar. O relógio do telão havia sido zerado, Aleks havia perdido. A foto de Min havia aparecido grande na tela e as palavras VENCEDOR apareciam em letras grandes e garrafais.
O loiro retornou o Pokémon à bola e suspirou. Ele havia conseguido e ao mesmo tempo não, ele havia chegado às finais, mas não tinha vencido. Deixando que Min recebesse os louros por sua vitória, ele foi em direção aos bastidores, quase não havia ninguém ali, a maioria dos competidores já tinha ido embora, havia apenas uma figura ali no meio de tudo, sentado e observando Aleks com aqueles olhos escuros e sem vida.
Gideon Navarre era seu manager, a pessoa que gerenciava a vida e a carreira de Aleks, mas que estava subordinado às ordens de Naomi que era a CEO da agência. Em seu terno risca-de-giz e com os cabelos penteados de jeito estiloso, ele ajeitou seu relógio de prata no pulso e depois pegou algo no bolso do paletó e entregou ao garoto: era uma passagem de ônibus para Violet.
— A Naomi me falou que eu deveria deixá-lo ir em jornada caso chegasse às finais — disse Gideon — E você chegou, mas isso não quer dizer que eu tenho que pegar leve com você. O ônibus para Violet sai às nove horas da noite, já dei check-out em seu quarto de hotel e despachei sua mala.
— Mala? No singular?
— E precisa de mais de uma? — Gideon devolve a pergunta. — Sua mochila está feita. Quer seguir viagem como os outros meninos do seu grupo, então levará o necessário, o quero em Violet na semana que vem e na seguinte, fechei um acordo e fará uma publicidade para uma rede de cafés.
— Só uma publi? — pergunta Aleks.
— Bem, você e uma outra de nossas coordenadoras agenciadas estarão fazendo a publicidade, um comercial breve, fotos e alguns posts para as redes sociais — disse Gideon — E eu quero também que treine. Se desta vez você chegou às finais que da próxima vez consiga a fita, me entendeu?
Aleks assentiu com a cabeça.
— Que bom que entendeu — disse o manager se levantando — Você ainda tem algumas horas até o ônibus, passe um tempo com a sua família, passeie por Cherrygrove, dê um oi aos seus antigos amigos do colégio, faça o que quiser, mas eu quero você esta noite naquele ônibus e em um quarto de Centro Pokémon me ouviu?
— Sim, senhor — assentiu.
— Perfeito, eu pedirei para que me assistente ligue para você assim que eu precisar de você — Gideon espanou um pó invisível da lapela do paletó e saiu dali. — Até mais, Aleksey.
O menino então segurou a passagem de ônibus e engoliu em seco. Naomi havia cumprido com a sua palavra e ele poderia enfim ser como os outros adolescentes da sua idade e sair em uma jornada, se dedicar aos concursos, mas isso não mudaria em nada no seu cronograma enquanto idol, mas ele iria ajustar-se.
— Bem, ainda há muito o que fazer até as nove — disse ele — O que irei fazer primeiro?
A sensação de liberdade era estranha a Aleks, a maioria dos coordenadores da Karakuri Entertainment geralmente ficavam às custas da empresa, ele não estaria mais viajando por aí em trens e aviões, navios ou táxis para se deslocar de um local para o outro, se ele tinha a permissão de viajar ele teria que se virar e Gideon havia dado a última ajuda.
— Você está por conta própria agora, Aleks — disse para si mesmo.
Ren
Kara estava na frente do Centro Pokémon com suas três malas gigantescas. Se despedir da nova amiga que tinham feito era difícil, mas eles iriam revê-la e continuariam mantendo contato com a coordenadora, era assim que funcionam as amizades pela estrada em um momento se conhecia alguém e fazia amizade e no momento seguinte tinha que despedir-se.
— Eu queria que você pudesse ficar mais um pouco — disse Lyra — Que viajasse com a gente.
— Seria bom ter mais uma garota com a gente — diz Luca que logo foi beliscado por Pierce — Ai! Qual é!
— Seria realmente bom — concorda Lyra — Uma pena que você tem de partir, queria que viesse com a gente.
— Ai, amiga, eu queria mesmo, mas eu já prometi à Natasha — disse a coordenadora. — Combinamos de nos encontrar e prometemos viajar juntas, mas vamos nos encontrar de novo, Lyra. Bye-bye friends, we’ll see you again!
E assim ela despediu-se, acenando, eles a veriam novamente, Ren sabia disso, mas por agora eles tinham que se organizar e sair em jornada, Pierce e Luca já estavam com suas mochilas em costas e Lyra também, apenas ele não estava preparado, ele tinha que passar em casa e pegar a sua bolsa de viagem e o case da guitarra e ugh… pegar o dinheiro que sua mãe havia falado.
— Venham, temos que passar na minha casa — disse o garoto que só tinha a sacola com os mangás que havia comprado no bazar mais cedo. — Vai ser rapidinho, não moro longe daqui.
— Você vai ficar surpresa com o que vai ver, Lyra — disse Pierce, entre risos, Ren apenas ficou corado.
Os quatro amigos vagaram pelas ruas de Cherrygrove alguns quarteirões acima de onde ficava o Centro Pokémon, as lojas e casas mais simples davam espaço a residências mais sofisticadas, com estátuas de Pokémon como Arcanine, Ninetales e Persian na entrada de suas casas, carros que haviam lançado naquele ano estacionado em suas garagens e árvores de cerejeira tão rosadas que chegavam a doer os olhos, Ren vivia em um bairro diferente, de classe média alta, já que sua mãe tinha um assento na câmara de conselheiros da cidade.
Sua casa fica no final do quarteirão, uma construção grande de cinco andares com um jardim imenso com arbustos de hidrângeas logo na entrada, a mãe de Ren havia colocado algumas estátuas de um Pokémon estrangeiro que ela achava bonito, embora Ren não apreciasse tanto assim, uma criatura pescoçuda chamada Espathra, decorando o gramado cortado bem rente. Ele engoliu em seco, ele não gostava de mostrar o lugar onde morava, não gostava do status e da carreira política da mãe, mas esboçava um meio sorriso ao apresentar a Lyra, que nunca tinha vindo ali, onde ele morava.
— Arceus do céu, você mora numa mansão… — Lyra estava boquiaberta.
— Não é uma mansão… — disse ele corado. — Tá mais para uma prisão, mas é a casa que a minha mãe quis… ela é…
— Não importa o que ela é, vai lá buscar o que você precisa para a gente vazar — disse Pierce empurrando-o — Vamos esperar aqui fora.
— Não podemos entrar? — indaga Lyra.
— Bem, eu não posso entrar — disse Pierce — E por questão de parentesco, o Luca também não pode.
— A Mismagius Velha não vai com a nossa cara — disse Luca.
— Ah… Então eu fico aqui com vocês — disse Lyra — Vamos te esperar aqui, migo.
Ren assentiu com a cabeça e engoliu em seco e entrou em casa, ele havia tirado os tênis na entrada e ido em direção ao andar superior direto para seu quarto onde havia deixado tudo pronto, seu Houndour fora logo atrás para ajudá-lo. O garoto de cabelos fúcsias pegou a mochila que estava em cima da escrivaninha enquanto o cão preto puxou com os dentes a alça do case da guitarra e levou até seu dono.
— Bom garoto — ele acariciou a cabeça de Styx que abanou o rabinho e estirou a língua — Vamos só dar uma conferida para ver se tudo está aqui.
Ele abriu a mochila e deu uma olhada pela última vez, ali havia repelente, alguns itens de camping, havia seu saco de dormir, seu notebook, carregadores, repelente, lanterna, pilhas, duas camisas e uma bermuda extra, além de roupa íntima, itens de higiene. É, tudo estava ali, até mesmo seus óculos de natação e a bermuda de compressão, embora não tivesse a intenção de nadar, mas velhos hábitos nunca mudavam.
— Agora temos que… temos que pegar o dinheiro com a mamãe — ele suspirou, frustrado.
Ele saiu do quarto com a mochila no ombro e o case da guitarra no outro e desceu até o segundo andar e vagarosamente caminhou em direção até o escritório da mãe, ele sabia que ela estava ali e que esperava ele chegar apenas para dar o dinheiro e junto disso um sermão humilhando-o pelas escolhas de vida que não seguiam os desejos pessoais dela.
Ele abriu a porta do escritório e encontrou a mãe lá, de costas observando os jardins, os cabelos cacheados e escuros caíam pelas costas, seu terninho borgonha brilhava quase rubi à luz vinda de fora.
— Que grupo curioso você escolheu para chamar de amigos, meu filho… Temos um projeto de bandidinho, um pirralho criado por Pokémon selvagens e, olha só, uma novidade, a filha de um zé-ninguém que, céus, não consegue nem se vestir direito — disse ela, com os olhos fixos no grupo lá embaixo, visível pelas janelas envidraçadas do escritório, sem sequer olhar nos olhos do filho. — Um verdadeiro circo de aberrações. Tem certeza de que quer viajar com esse bando? Você ainda pode escolher ficar em casa e seguir com a vida que tem… Para quê continuar com essa infantilidade?
Ren recuou. A mãe sabia como tocar em uma ferida apenas para assustá-lo, mas ele já estava tão convicto de tudo que agora não teria mais volta atrás.
— S-sim, mamãe — ele gaguejou. — E-eu ainda quero s-sair em uma jornada…
Sylvia não o encarou; continuou de costas.
— Não me chame de “mamãe”, acabou de perder esse privilégio — disse, fria e ríspida. — Fiz tanto por você, Renato. Você poderia ir para as melhores escolas, mas escolhe frequentar aquele muquifo apenas para preservar uma amizade de jardim de infância. Poderia estar ganhando troféus e medalhas de ouro, mas prefere uma guitarra velha que seu pai te deu por que você praticamente implorou — Sylvia Caniedo soltou um prolongado suspiro. — Por que insiste em me envergonhar, Renato? Me responda!
Ele abaixou a cabeça, apenas olhando para seu Houndour, que soltava ganidos de medo diante da presença sombria de Sylvia. Se não fosse o ar condicionado, Ren diria que a sala tinha congelado com a presença de sua mãe.
— Já que me rejeita tanto assim, leve isto — Sylvia disse, apontando para um envelope amassado na mesa, cheio de notas. — Oitenta mil ienes. Mais do que suficiente para sobreviver no meio do nada por algumas semana. Quando o dinheiro acabar, você estará por conta própria. Entendeu? Não apareça na minha porta novamente, garoto ingrato.
Para Sylvia Caniedo, oitenta mil não era nada, só troco de bala. Mas para Ren, era a linha entre se virar sozinho ou sucumbir à falta de recursos, especialmente pensando no grupo que iria acompanhar na jornada por Johto. Sem responder, ele pegou o envelope e o guardou na mochila em silêncio.
— E agora — ela continuou, o tom implacável — você não tem mãe, nem casa para voltar. Você fez essa escolha, Renato, então arque com ela. A partir de agora, você não é mais meu filho. Nenhum filho meu rejeitaria a vida que ofereci. Você fez esta cama, agora deite-se nela.
Ren sustentou o olhar dela brevemente, engolindo as palavras amargas. O conceito de “amor materno” de Sylvia era tão frio e rígido que parecia uma língua estrangeira que ela nunca se preocupou em aprender. Ele respirou fundo, apertou as alças da mochila e fez o possível para manter a voz firme, embora cada palavra dela tivesse ferido profundamente.
— Não vou me arrepender disso, mamãe — disse ele, virando as costas, sentindo o gelo correr pelas veias enquanto se afastava. — E eu não voltarei. Não precisará me ver de novo.
Ele saiu antes mesmo que a mãe respondesse, correu dali e junto com Houndour foi em direção aos amigos, ele não quis comentar nada, apenas saíram das proximidades da casa de Ren que antes de dobrar a esquina encarou o rosto da mãe uma última vez.
— Eu… eu… argh… — ele estava trêmulo — Podemos ir em jornada agora, finalmente podemos.
— Próxima parada: fazenda do vovô! — disse Pierce otimista — Que bom que saímos de perto do covil da Mismagius Má do Oeste, aquele lugar me dá uma vibe terrível!
— Também não gostei de ficar ali — disse Lyra — Me deu arrepios só de ver ela nos encarando da janela.
— Eu também não gostei de ficar ali — comenta Ren — Mas é a última vez, vamos, acho que conseguimos chegar à fazenda do Mr. Pokémon antes do sol se pôr.
— Isso é um desafio? — disse Luca puxando o skate que estava preso à mochila — Os vejo na Rota 30, Slowpokes!
E o menor então começou a manobrar em cima da prancha, remando com um dos pés enquanto ganhava velocidade, Pierce foi logo atrás em protestos, gritando com o irmão enquanto Lyra ria alto, Ren também sorriu enquanto perseguia os amigos.
Ele esperava que os dias em jornada fossem sempre assim, muito melhor que ser um prisioneiro num mundo cheio de regras criadas por alguém que marioneteava cada passo de sua vida desde que havia nascido. Ele estava livre, livre como o vento e esperava permanecer naquela brisa enquanto pudesse.
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