quinta-feira, novembro 07, 2024




 Aleks

Cidade de Cherrygrove, Johto

Sábado, 30 de abril


O concurso havia atraído pessoas de muitas partes de Johto e Kanto, Aleks podia dizer até de outras regiões, pessoas que haviam vindo para ver a conexão entre pessoas e seus Pokémon numa arena em coreografias e batalhas únicas. E lá estava ele, pronto para competir de novo, o nervosismo fazendo suas mãos suarem e as pernas tremerem, ele nunca se sentiu tão ansioso quanto em seu primeiro concurso no começo da temporada em Cerulean poucos meses atrás.

Ele conseguia ver ali do bazar, várias garotas entre nove a vinte e poucos anos com camisas e lightsticks do grupo que ele pertencia carregando pelúcias dele e de Min, era estranho pensar que até um ano e meio atrás ele era só um garoto desconhecido de Cherrygrove que havia tirado a sorte em uma audição e conseguido entrar para a Karakuri Entertainment e debutado como um idol para o grupo masculino 3vennight. Ainda era difícil pensar na fama que ele havia conseguido em tão pouco tempo.

— Nervoso, superestrela? — indagou Min, que estava sentado ao seu lado.

Choi Min-ho, ou só Min, era um dos colegas de Aleks no grupo, eles tinham idades próximas e tinham se conhecido nos primeiros ensaios antes do 3vennight debutar oficialmente, além de que ele era bastante criativo e compunha as músicas e ajudava nas coreografias quando Aleks não conseguia pensar em nada. Min era poucos centímetros mais alto que Aleks e tinha cabelos escuros e lisos, olhos côncavos cor de café além de uma tez porcelanada e sem nenhum traço de acne ou oleosidade, fazendo ele parecer mais um boneco do que um humano.

— Um pouco — ele deu uma gargalhada nervosa, ele não podia decepcionar Naomi, aquela era a sua chance de provar que conseguia uma fita. — Não quero cometer a mesma burrada de Cerulean de novo.

— Ah, sei bem como é… — disse Min. — Eu pisei na bola naquela apresentação em Viridian no mês passado, eu mal consegui passar para a fase de batalhas, enquanto isso o senpai já deve estar indo para a quarta fita e eu só com uma.

— Ao menos você tem uma — disse Aleks, cabisbaixo. — Se eu não conseguir essa eu vou estar em maus lençóis com o Gideon e a Naomi-sama.

— É… eles também estão pegando no meu pé — disse o garoto kantoniano. — Vou ali comer algo antes de ir para os bastidores me preparar, vai querer algo?

— Não, meu estômago fica todo bagunçado quando eu fico nervoso — responde Aleks. — Acho que vou direto trocar essa roupa e esperar o concurso começar.

— Você quem sabe, cara, o concurso vai começar daqui há uma hora e meia, ainda são oito da manhã — diz Min se afastando. — Vejo você lá, quebre a perna!

— Você também — diz Aleks de volta.

Ele vai em direção ao ginásio poliesportivo, uma das maiores construções em toda a cidade de Cherrygrove, era ali que shows e eventos esportivos de diferentes modalidades ocorriam, até batalhas Pokémon aconteciam ali então não seria diferente de um concurso organizado pelo Comitê da Fita de Kanto e Johto.

Coordenadores de diferentes partes das duas regiões e mesmo de outras regiões mais distantes tinham vindo para Cherrygrove, Aleks suspeitava de ao menos cento e vinte coordenadores ali, todos se preparando para o concurso daquele dia.

Os concursos em Kanto e Johto seguiam um formato diferente de outras regiões como Hoenn onde eles haviam se originado ou os de Sinnoh que eram destacados por sua beleza e complexidade. Os concursos eram divididos da seguinte forma: havia quatro ranks sendo eles Normal, Great, Ultra e Master. Os concursos de rank Normal eram para coordenadores iniciantes com uma ou duas fitas; os concursos de rank Great eram para aqueles que tinham de duas a três fitas possuindo um certo nível de dificuldade maior que o rank Normal; já os Ultra eram os mais difíceis já que para participar deles precisava-se ter três fitas no mínimo enquanto os concursos Master que geralmente ocorriam com mais frequência pro final da temporada eram os mais difíceis de todos com coordenadores almejando sua quinta fita e poucos conseguindo-se consagrar aptos de participar do Grande Festival que acontecia uma vez por ano.

Além dos ranks cada concurso entrava em uma de cinco categorias que definiam o tema geral das performances e batalhas, sendo essas categorias: Fofura que julgava a adorabilidade do coordenador e seu Pokémon em palco e como cativavam o público com seus atributos mais chamativos; Carisma, onde tanto coordenador quanto Pokémon eram julgados pelo seu estilo e elegância, quebrando com tudo que a categoria anterior pregava sobre ser fofinho e bonitinho; Dureza que julgava a força e a resistência de um Pokémon e seu coordenador, sendo uma das categorias mais difíceis para quem queria ser fofo ou carismático; Inteligência que buscava julgar a maneira que o coordenador e seu Pokémon agiam e se comportavam em determinadas situações e apresentações e por último a mais difícil de todas as categorias, a de Beleza que julgava a beleza dos Pokémon e do coordenador em seu cerne, sendo uma das mais difíceis de ser julgada uma vez que havia subjetividade e critérios altíssimos nessa categoria.

Infelizmente o concurso de Cherrygrove apesar de ser rank Normal entrava na categoria de Beleza, o que deixava Aleks um tanto preocupado já que ele sabia que os jurados eram mais severos, mesmo com iniciantes nessa categoria. Era fácil ser legal e maneiro, fofo, durão e até inteligente, mas conseguir demonstrar beleza ao ponto de cativar uma bancada de três jurados, uma plateia inteira e o público de casa? Não. Isso era basicamente impossível.

Ele suspirou e foi em direção aos bastidores, basicamente um vestiário que havia sido modificado às pressas para o concurso, lá alguns garotos haviam percebido a presença dele, ele chamava atenção por ser idol. Alguns haviam pedido fotos ou um autógrafo, ele não negou, ele amava os fãs, mas o nervosismo e a ansiedade tomavam conta do loiro que mal conseguia ficar parado.

— Ansioso, Alyoshka? — uma voz chamou-o, ele virou-se e viu de quem vinha.

Um rapaz alguns anos mais velho que ele, loiro e com olhos iguais aos de Aleks usando um capuz largo e jeans rasgados além de botas, era o irmão do meio de Aleks, Vitya. Ambos se abraçaram, fazia um bom tempo desde que ele havia visto o irmão.

— Quando você ia dizer que já estava na cidade, pentelho? — Vitya deu um soquinho no ombro de Aleks que havia doído um pouco — A tia tava triste por que você não apareceu em casa na quinta.

— Foi mal, foi mal, foi mal — repetiu Aleks. — Estive preso no hotel treinando e ensaiando para o concurso de hoje.

— Que vidinha, hein — disse seu irmão do meio. — Queria eu estar num hotel cinco estrelas, o máximo de luxo que eu tenho é ir a Violet para ver o Marvin.

— Quem é Marvin? — indaga Aleks.

— Ah é, não te apresentei ele, você estava ocupadíssimo com suas coisas de idol dando entrevistas na rádio Goldenrod, fazendo vlogs diários, coreografias, assinando autógrafos e blá-blá-blá que nem busca falar com a sua própria família pra saber das notícias.

Aleks revirou os olhos, quem dera ele estivesse fazendo isso nas últimas semanas, o grupo estava em hiato por tempo indeterminado, ele estava concentrado em não foder tudo no próximo concurso que iria participar depois de recobrar a confiança depois do fiasco em Cerulean.

— Mas esse aqui é o Marvin, olha — Viktor puxou seu PokéGear e na tela mostrou a foto de um rapaz.

Tratava-se de um rapaz mais velho, talvez vinte e um anos, ele tinha cabelos escuros em um undercut estiloso. Na fotografia ele estava de óculos escuros e usando uma jaqueta de motoqueiro por cima de uma camisa de gola rulê, além de jeans justos, ele evocava carisma, como se nada abalasse ele.



— É seu amigo? — pergunta Aleks.

— Bem, não — responde seu irmão. — Estamos ficando, ainda não é nada sério, mas eu combinei de ir em um encontro com ele.

— Ficando? Encontro? — ele continuou com as perguntas, algo não estava somando em sua cabeça. — Tipo um encontro romântico? Tipo…

— É, Aleksey, um encontro romântico. Porra, sei que você é loiro, mas precisa ser burro?

Ele ignorou o comentário do irmão.

— Então isso quer dizer que… — ele estava lentamente chegando à uma conclusão. — Que você é…

— Que eu sou gay? Uau, Aleksey, literalmente a última pessoa a saber — disse Viktor. — Porra, achei que era óbvio.

— Mas quando… Mas quando foi isso? — ele continuou perguntando, ele nunca desconfiaria que o irmão era gay, ele saberia melhor, tinha vivido a vida inteirinha com Viktor e a irmã mais velha, Katerina, não tinha como não saber. — Por que nunca me contou?

— E por que eu precisaria? Você precisou dizer para mim que gostava de meninas? — indagou de volta. — Não vai dizer que não me aceita, né?

— Não, não é isso, é que… sei lá… Não sei dizer o que penso disso — essa foi sua resposta, Vitya olhou incrédulo para ele, ele havia falado merda. — Vitya, não é o que está pensando, eu estou feliz por você, eu acho, mas eu nunca… eu nunca pensei que… Nada contra é que…

— Quando alguém diz “nada contra” eu já sei do que se trata — diz Viktor, revirando os olhos. — Achei que fosse melhor que isso, Aleks. Estarei com a tia Lyudmilla, quando você sair desse seu choque de realidade e estiver com vontade de ver sua família vamos estar nas arquibancadas.

E assim ele se virou, deixando Aleks nos bastidores ainda um tanto surpreso, receber aquela informação sobre seu irmão do meio sobre sua orientação sexual tinha sido um baque maior do que quando Katya, a sua irmã mais velha, havia dito que iria fazer Enfermagem Pokémon em Goldenrod, onde estava nos últimos dois anos estudando para se tornar uma Enfermeira Joy. Viktor tinha dado algum sinal? Aleks nunca percebera, ele não era tão oblívio assim, ele teria notado e não tinha nada contra, sua namorada Heather tinha amigos que eram gays com quem atuava no dorama, ele só tinha ficado surpreso ao saber que o irmão também era.

— Vitya, espera…




Ren


Ren tinha vindo ao ginásio poliesportivo no carro de sua mãe. O motorista havia deixado-o em frente ao bazar que estava abarrotado de pessoas comprando comida, pelúcias de Pokémon e de coordenadores famosos, usando camisetas estampadas e bastões coloridos de lightsticks, o concurso de Cherrygrove tinha atraído centenas de pessoas todas vindo para ver seus coordenadores favoritos e ali estava ele, pronto para ver Aleks e torcer por ele, mas também por Kara, a nova amiga que ele havia feito ontem.

— Volte para casa após esta palhaçada acabar — dissera sua mãe da janela do carro abaixando seus óculos escuros, aqueles olhos cor de café fixos nele.

— Mas hoje eu vou dormir na estrada hoje — ele disse de volta para a mãe — Se esqueceu que eu vou partir em viagem hoje?

— Mesmo assim passe em casa — pediu ela. — Se estará saindo eu tenho de me certificar que terá o dinheiro necessário e as provisões já que você realmente quer se enfiar no meio do mato com o filho delinquente daquela mulherzinha.

Ele assentiu com a cabeça, a mente da mãe não havia mudado nos últimos dias, nem mudaria tão cedo, ela preferia ver Ren numa piscina quase morto de exaustão do que tendo suas próprias decisões e saindo por aí, viajando com amigos, descobrindo o mundo e o que ele queria ser.

— Só lhe darei dinheiro para as próximas duas semanas, está me entendendo? — disse ela e ele acenou com a cabeça. — Se quer continuar nessa infantilidade, então terá que ganhar seu próprio dinheiro. Não irei sustentar as suas tolices, Renato.

— Sim, mamãe — ele a respondeu.

— E se caso se arrepender disso, não venha esconder-se nas minhas saias, ouviu? — ela recolocou os óculos escuros. — Não criei um desistente. Se precisar de mim, ligue para meu secretário, estarei em uma reunião importante com os outros conselheiros.

O vidro do carro levantou-se lentamente, deixando Ren sozinho ali em frente ao ginásio poliesportivo encarando seu reflexo no vidro do carro chique de sua mãe antes de ele partir. Ele encarou e olhou para seu Houndour e suspirou, ele estava por conta própria por agora se ela estava dizendo a verdade.

Caminhando pelas barraquinhas e bancadas, ele procurou pelos amigos, mas não havia nenhum sinal deles, nem as mensagens no grupo que haviam feito eles tinham respondido. Ele suspirou, restava a ele apenas vagar pelo bazar e comprar algo antes de se encontrar com eles.

Em uma barraquinha ele havia comprado um nikuman, um bolinho de massa feito no vapor recheado com carne de Piloswine, batata, vegetais e especiarias, além de alguns petiscos de carne seca picante para Styx, seu Houndour. Os dois continuaram a caminhar pelas barracas e pela multidão, parando para olhar as mercadorias, mas nunca comprando.

Ele parou em frente a uma barraquinha, mas essa não vendia nenhum cacareco relacionado aos coordenadores ou ao concurso, muito menos comida, era uma banquinha de livros, revistas e mangás, poucas pessoas paravam por ali. Ele ainda tinha um tempo até encontrar os amigos, eram oito e pouca da manhã, dava pra comprar um mangá ou dois.

Ele olhou por entre os volumes na prateleira, a maioria eram shounen, havia alguns shoujo também, mas nada que chamasse sua atenção. Enquanto olhava por algum que chamasse sua atenção ele viu um que tinha uma capa um tanto sugestiva além de um título legal e chamativo: Prestidigitation.

Era um boys’ love, um mangá dentro da demografia shoujo, voltado para meninas, que geralmente mostrava histórias focadas em romance entre dois meninos. Na capa do mangá havia um rapaz loiro usando um smoking preto e uma cartola de mágico de onde tirava um Pokémon pássaro e ao seu lado estava um rapaz moreno mais baixo de bochechas coradas encantado com o truque. Ele pegou e folheou, parecia legal o bastante.

— Uh, esse é um dos bons, você vai a-mar! — comenta uma voz feminina, Ren quase pulou para fora da própria pele. — Desculpa se te assustei.

Ele virou-se e viu de quem se tratava, era a dona daquela barraca, uma mulher caminhando para seus trinta anos de idade, a pele clara e os cabelos curtos, em seu crachá ele conseguia ler seu nome: Ruka.

— E-eu só estava olhando — gaguejou.

— Não precisa se acanhar — ela deu um risinho. — Não irei te julgar, eu mesma sou uma ávida consumidora de mangás boys’ love! Reconheço um fudanshi quando vejo um!

Fudanshi? — ele riu nervoso e arqueou uma das sobrancelhas.

Fudanshi, ou “menino podre”, era o termo usado para designar rapazes que consumiam mangás e animes boys’ love, mas de uma maneira mais obsessiva, quase maníaca, a versão feminina era chamada de fujoshi. Ren não se intitulava bem como um fudanshi, mas ele também não negava, apenas escondia sobre as coisas que gostava já que ele só conseguia ser ele mesmo perto de Pierce.

— Relaxa, baby, a Mamãe Ruka aqui não vai contar aos quatro ventos que você gosta de ler mangás sobre meninos que beijam meninos — ela gargalhou. — Mas acho que amará esse, é sobre um menino que é obcecado por um mágico e sempre vai aos shows dele, não dou mais spoilers que isso, mas sei que é perfeito para você?

— Como sabe?

— Eu tenho um dom! — exclamou ela. — Eu sei qual mangá combina com cada pessoa e baby, este é o seu! Faço um precinho bacana para você, vendo os cinco primeiros volumes por um precinho bacana, que tal?

— Hã…. Pode… Pode ser — disse enrubescido, ele não tinha muito a perder já que nem na casa da mãe estaria e sairia em viagem aquela tarde. — Por quanto?

— Um volume costuma custar 400 ienes, se eu multiplicasse por cinco seriam 2000 — disse Ruka — Te faço pela pechincha de 1200, que tal? Te salvo uns 800 ienes ainda.

— Não sei não… — ele ri nervoso pegando seu porta níquel em formato de Qwilfish, ele não podia gastar muito, pretendia comer mais coisas com os amigos mais tarde. — 800?

— 1150 e não se fala nisso?

— 1000 ienes — disse Ren como se estivesse em um leilão.

— Okay, okay, eu saio no vermelho nesta, mas vai por mil — ela suspirou enquanto Ren passou sua única nota de mil ienes na carteira. — Embalarei para você, eu juro que você se apaixonará por esse mangá.

Ele deu um meio sorriso enquanto ela pegava os cinco volumes e os colocava em uma sacola escura para que ninguém visse o que tinha dentro.

— Tenha uma boa leitura! — disse ela e Ren apenas acenou de volta.

Assim que ele se afastou da banca, ele continuou andando pelo bazar e quando ninguém estava vendo puxou o primeiro volume daquele mangá e começou a lê-lo, distraidamente andando ao lado do seu Houndour, sem prestar atenção em nada além da história.

O mangá começava um pouco triste, o protagonista vinha de uma família difícil e era criado apenas pelo pai, que parecia ser um homem de negócios frio pelas impressões de Ren. Ele continuou lendo atentamente, apenas desviando das pessoas que vinham na sua direção, enquanto Styx alertava de outras, mas quando Ren menos notou ele tinha esbarrado em alguém que vinha em sua direção e parecia menos atento ainda.

Os dois se trombaram, Ren havia caído e a sacola havia ido junto, com medo que o estranho visse o que ele tinha comprado ele pegou na pressa e tentava se recompor, levantar-se, mas antes que pudesse uma mão esticou-se para auxiliar ele a levantar-se.

— Deixe-me te ajudar — disse a pessoa, era uma voz masculina, Ren virou-se para cima e viu de quem se tratava e imediatamente sentiu o rosto ferver, vermelho como ferro quente.

— V-voc… você é o… É o…

As palavras mal conseguiam sair da boca de Ren, a pessoa na sua frente era um dos idol de um grupo que ele gostava bastante, Min do 3vennight, o mesmo grupo o qual Aleks participava. Ele não poderia acreditar no que via à sua frente.

Min era um garoto alto, de cabelos pretos penteados de maneira estilosa caindo lisos pela nuca, ele usava uma regata preta e jeans da mesma cor com rasgos estilosos pela extensão dela, além de tênis de basquete. Ren não pôde evitar corar, embasbacado.

— Choi Min-ho, mas todos me chamam de Min — ele se apresentou como se fosse uma coisa trivial. — E você, qual seu nome?

— Ren… — disse timidamente sem encará-lo nos olhos.

— Perdão por esbarrar em você, é que eu estava indo para o ginásio poliesportivo e acabei me distraindo no celular — ele coçou a nuca e sorriu. — Você também parecia, não é? Estava perdidinho lendo seu mangá.

— É… eu tava… — ele olhou cabisbaixo.

— Ambos não estávamos olhando por onde íamos — riu, cortês. — Permita que eu repague, eu que estava em seu caminho.

— Na-não precisa — gaguejou.

— Me deixe ser um pouco cavalheiro, Ren — disse como se fosse íntimo dele. — Posso te comprar algo?

Ele corou e não disse nada, quando pensou em abrir a boca alguém chamou por ele:

REN!

Assustado como um Meowth ele se virou para onde vinha a voz para ver quem o chamava. Não muito longe dali ele via um rapaz alto de cabelos malhados que caíam como uma juba pelos ombros e costas, era Pierce, que estava acompanhado por seu meio-irmão e logo atrás estava Lyra, os três pareciam estar procurando por ele.

— Onde que você estava, cara? — perguntou o melhor amigo se aproximando.

— Arceus sagrado! — exclama Lyra com olhos arregalados — Esse é o… É o Min do 3vennight?

Quem? — indaga Luca, arqueando as sobrancelhas.

Min deu uma risadinha.

— Ao que parece sempre vai ter fãs por onde quer que eu vá, haha — ele disse. — Um prazer conhecer vocês, são amigos do Ren, não é?

— Pierce — apresentou-se ele.

— Luca — o menor se apresentou também.

— Eu sou Ly… Lyra — ela, assim como Ren gaguejara um pouco, devido ao nervosismo de estar diante de uma celebridade do calibre de Min. — Posso tirar uma foto com você?

— Não vejo porque não, uma foto com um fã sempre é bom — disse o astro.

Lyra pegou sua câmera polaroid e se aproximou do idol, que era mais alto que ela e entregara a câmera para Pierce tirar a foto, Ren também se juntou à amiga e ambos ficaram ao lado do astro, prontos para o click da polaroid. Duas fotos foram tiradas e impressas, Lyra entregou uma para Min que sorriu satisfeito.

— Uau, ficamos bem, hã? — gargalhou em seguida. — Agora se me permitem acho que eu tenho de ir para os bastidores, preciso me arrumar e um concurso para participar.

— Ah é, o concurso! — exclamou Lyra — Estávamos te procurando porque queríamos que você visse a Kara antes de ela ir participar.

— Você tem que ver — acrescentou Pierce logo após a fala da amiga. — Não sou o maior fã dos concursos, mas cara, uau, eu nem sei descrever.

— Ela tava gata pacas — completou Luca, que acabou levando um beliscão do irmão mais velho.

Min apenas observou aquela estranha interação entre amigos e apenas deu um leve sorriso, sem rir.

— Vamos logo, a Kara logo vai entrar para os bastidores de novo antes do concurso começar — Lyra pegou a mão de Ren e o puxou.

— Tchau, Min — acenou ele para o idol que silenciosamente devolveu o gesto.

Os quatro rumaram em direção ao ginásio poliesportivo, Lyra puxando Ren pelo braço enquanto os irmãos seguiam logo atrás. Min caminhava na mesma direção, mas a passos devagares, se ele não estivesse andando lentamente não teria reparado algo no chão, um mangá caído, devia ser de Ren, ele pegou e olhou a capa e algumas páginas, dizendo em seguida:

— Acho que vamos nos encontrar de novo, Ren — ele disse para si mesmo.

Adentrado o ginásio poliesportivo, próximo a entrada dos vestiários que haviam sido transformado em bastidores/camarins improvisados, os quatro foram em direção à Kara que estava com seus cabelos rosados em um penteado elaborado que caíam em cachos enrolados sobre os ombros e com enfeites de estrelas ao longo do comprimento dos fios, nas orelhas ela usava um par de brinco que lembrava planetas, ela usava um traje tomara-que-caia semi-cromado como um traje espacial, além de botas prateadas cano longo de salto alto e meias-calças pretas. Ao redor do pescoço havia um choker que imitava a gola falsa desse traje, dando a impressão que ela era comandante de alguma frota estelar de algum filme sci-fi. Uma saia na parte de trás do traje completava aquele visual, fora a maquiagem acentuada com tons metálicos e azulados, ela era uma rainha alienígena pronta para invadir a Terra e o Clefairy ao seu lado só reforçava mais aquela ideia.

— Arceus do céu — disse Ren olhando para Kara. — Que foda!

— Achou, pollen puff? — indagou Kara dando uma voltinha. — Achei que estava too much, eu fiquei desde cedinho me preparando, mas eu queria causar certo impacto mesmo que fosse a minha primeira apresentação.

— Eu ajudei ela a se maquiar — disse Lyra — E com o cabelo.

— Eu nunca conseguiria nada sem você, Lyra — ela diz. — Ainda estou um pouquinho nervosa, mas eu sei que vou conseguir me sair bem nesse concurso.

— Estaremos torcendo por você — diz Pierce — Quero muito que você consiga aquela fita, porra, tu é uma soberana alienígena e ainda tá combinando com seu Clefairy, eles tem que ser loucos de não deixarem você passar para a próxima fase.

— Se fosse fácil assim — ela suspirou. — Mas fico feliz de tê-los como amigos, isso diminui meu nervosismo. Minha família lá em Galar estará me assistindo e minha prima também, quero provar que eu consigo ser uma coordenadora aqui como sempre sonhei.

— Nós acreditamos no seu potencial — disse Luca.

Ela sorriu.

— Vou entrar agora, preciso me preparar mentalmente para o que virá — disse ela — E é melhor irem para as arquibancadas para não perderem os assentos de vocês. Os vejo depois, amigos.



A arena estava preparada e as arquibancadas estavam lotadas. O concurso de Cherrygrove estava prestes a começar, coordenadores e Pokémon estavam nervosos nos bastidores, pensando estratégias e cada movimento para apresentarem-se no palco, afinal eles tinham os minutos contados para conquistar três juradas, a plateia e o público de casa que iriam votar neles e garantir a eles, se tivessem sorte, um lugar na segunda fase, a de batalhas.

Os holofotes acenderam-se, no centro da arena uma mulher em seus vinte e poucos anos de cabelos alaranjados curtos usando roupas mais esportivas, lembrando mais uma comentadora esportiva que uma mestre de cerimônias típica, caminhava em direção à uma das câmeras que estava transmitindo ao vivo aquele concurso para toda a região de Kanto e Johto e também pela internet. Era Lilian Meridian, a apresentadora dos concursos na região de Kanto e Johto pelo comitê da fita.




— Olá Johto, olá Kanto! — gritou ela. — Estamos aqui com mais uma edição dos concursos na bela cidade de Cherrygrove onde as flores dão as boas-vindas ao nossos coordenadores e coordenadores que vieram para este concurso de rank Normal.

“O concurso se dará da seguinte maneira: haverão dois rounds. O primeiro é o de apresentação onde nossos coordenadores e seus Pokémon em tempo máximo de três minutos terão que executar uma sequência de movimentos e assim atrair a atenção de nossa tríade de jurados e do público na plateia e em casa — explicou Lilian. — Para o público nas arquibancadas, abaixo de seus assentos há aparelhos para que possam dar notas às apresentações dos coordenadores e ao público de casa, vocês poderão votar através de seus celulares ou pelo computador. Julgando o nosso concurso de hoje temos ela, nossa presidente do Comitê da Fita e filha do ilustríssimo Raoul Contesta, Elena Contesta!

Uma mulher em seus trinta anos com cabelos pretos rajados com mechas prateadas levantou-se e acenou para o público.

— É um prazer estar nesta cidade maravilhosa — dissera Elena Contesta.

— O mestre das ilusões e dos disfarces, o nosso mascarado favorito e membro da Elite dos Quatro do Planalto, além de especialista em Pokémon Psíquico: Will Michaelmas!

Um homem de cabelos roxos usando uma máscara carnavalesca usando um fraque elegante de um borgonha claro com um colete preto por cima. Ele exibia um sorriso de orelha a orelha como se estivesse alegre com aquilo tudo.


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— Que as estrelas acima nos mostre a verdadeira beleza que nossos coordenadores e coordenadoras e seus Pokémon tem a nos mostrar!

— E por último, mas não menos importante temos ela que recentemente retornou à sua terra natal, uma líder de ginásio em uma terra estrangeira — começou Lilian Meridian estendendo a mão para o terceiro assento na bancada de jurados. — Uma fashion designer de renome, seus modelos estampam as passarelas de Kalos e enchem as boutiques, a primeira e única Valerie Kinukawa!



Bonjour, bonjour, comment vas-tu ? — disse ela em kalosiano. — É um prazer estar de novo em minha terra natal, eu tirei um ano sabático para me inspirar e fui convidada a ser jurada nestes concursos, eu espero ver beleza e graça nos visuais desses coordenadores.

— E estes são nossos jurados, senhoras e senhores — disse a mestra de cerimônias. — Bem como sabem, o concurso de hoje é na categoria Beleza, os movimentos e os visuais dos coordenadores e seus Pokémon serão julgados conforme a sua estética e conceito, eles terão que mostrar a nossos jurados o que é belo e ver se serão aprovados ou não.

“E se forem aprovados, eles passarão para a segunda fase, a de batalhas, onde com seus Pokémon competirão em batalhas de cinco minutos de duração onde os pontos serão contabilizados, aqueles que possuírem mais pontos vencerão — ela explicou. — O coordenador assim irá subindo até chegar às finais e o ganhador receberá a belíssima fita Cherrygrove, o que irá garanti-lo um  passe de entrada para assim concorrer ao Grande Festival caso consiga conquistar cinco fitas. Sem mais delongas: que comece o concurso!


O FESTIM VIRULENTO

Min


Min aguardava ansioso por sua vez. Ele era o décimo-sexto na ordem de apresentações daquele dia, ao total havia cento e vinte e oito coordenadores ali, dos quais apenas trinta e dois passariam para a próxima fase do concurso, as batalhas. O garoto havia treinado por semanas, ele não podia falhar, não quando havia colocado muito de si nos treinos e coreografias que havia realizado sozinho com seu Nidoran. Ele não tinha o luxo de errar, não quando seu manager estava olhando tudo das arquibancadas e a CEO da agência tinha se feito presente.

— Agora para a décima sexta apresentação de hoje temos ele, um coordenador que também é um idol famosíssimo — introduziu Lilian Meridian. — Nativo da colorida metrópole de Kanto, Celadon, as salvas de palmas para ele: Choi Min-ho!

E respirando fundo ele foi em direção ao centro da arena e segurando firme sua Pokébola ele arremessou-a no ar e uma miríade de corações negros flutuaram e em meio a eles estava um pequeno Pokémon mamífero roxo com um chifrinho, um incisvo grande, orelhas compridas e arredondadas, além de espinhos que protudiam de suas costas. Aquele era seu Nidoran ♂, o Pokémon que escolhera para a apresentação daquele dia.




— Nidoran use Blizzard, vamos trazer a frieza do inverno aos corações!

E como comandado, o pequeno coelho porco-espinho soprou uma rajada forte de ar frio que congelou os corações do efeito do selo, cada um deles envolto por uma capa branca de gelo fino, dando um certo contraste ao negrume do efeito visual ali. Em seguida com as mãos nuas, Min pegou um dos corações congelados e jogou-o ao alto e Nidoran saltou atrás, pulando de um para outro enquanto comandando pelo coordenador disparava Toxic Spikes em direção ao chão, Min e o Nidoran realizavam uma coreografia com o coordenador jogando os objetos congelados para o alto e permitindo que o Nidoran saltasse sobre.

O festim estava servido, os corações congelados caíam em direção ao chão prontos para o impacto contra os estrepes envenenados dos Toxic Spikes, pronto para explodir em milhões de mini partículas de gelo. A beleza de um inverno duro e cruel, virulento e perigoso em cada um de seus momentos, Min e Nidoran estavam prontos para executar o grand finale, os três minutos contados da apresentação estavam prontos para encerrarem-se.

— Nidoran terminemos o nosso banquete frio — disse o celadoniano. — Shadow Claw combinado com Venoshock em espiral na direção do chão!

O coelho porco-espinho fez como ordenado, as garrinhas ficaram embebidas em um veneno eletrizante roxo que combinado com o poder ectoplasmático da Shadow Claw trazia um brilho virulento em meio ao preto e branco dos corações congelados. Girando como uma broca, caindo junto com os corações ele rumava em direção ao chão.

Os corações explodiam em contato com os estrepes envenenados liberando partículas de gelo no ar, um por um, as explosões criavam um efeito de luz lindo. O coelhinho caiu ao centro da arena, sua garra tóxico-ectoplasmática enviou uma onda de choque venenosa que destruiu os Toxic Spikes restantes e os corações de gelo que terminaram de cair. Min e o Nidoran se curvaram em reverência à plateia que apenas aplaudiu-o.

— Agora vamos à opinião de nossos jurados! — começou Lilian.

— É bastante incrível como o gelo e o veneno combinaram-se de uma maneira a qual nunca vi antes — iniciou Elena Contesta. — A capa de gelo fria sobre o efeito visual dos selos, a luz sobre aquela camada fina o jeito como Nidoran percorreu os corações e deixou que eles caíssem em direção ao seu fim, é como ver a dureza do inverno em nossos corações, como ele é venenoso em tirar-nos do calor e nos joga em uma realidade dura, mas como todas as estações até o inverno chega ao fim. Eu darei uma nota dez à sua apresentação.

— E você, Will?

— Veneno, ah, a antítese da minha especialidade de tipos, bastante perigoso e cruel — diz o Elite dos Quatro. — Gostei do gelo como você utilizou-se do efeito do selo, muitos usam apenas como forma de entrada para os Pokémon, mas você inovou aqui e trouxe isso para a sua apresentação, te darei uma nota nove, sinto que faltou mais no que você queria nos mostrar, mas eu consigo ver a beleza nos seus movimentos.

— E para finalizar, Valerie!

— O seu traje, o seu Pokémon, o jeito que você me fez querer sair da minha cadeira e pegar um casaco. Ah, c’est incroyable! — disse a estilista. — Na região onde sou líder de ginásio eu esperaria isso de uma performance, mas como em Kalos elas são exclusivas às meninas, é fascinante ver isso pelas mãos de um rapaz e ver que até o gênero oposto pode expressar tanta beleza assim. Nota dez!

— Vemos que os jurados já deram seus veredictos, já temos um terço dos votos — analisou Lilian Meridian. — Pessoal de casa e da plateia não esqueçam-se de votar na apresentação de mim, a avaliação de vocês é importantíssima para que ele consiga ir para a próxima fase!

Min recolheu seu Pokémon e acenou para o público, agora era só esperar a fase de concursos. Ele retornou aos bastidores onde os outros coordenadores estavam maravilhados com sua performance, houveram alguns elogios e gracejos, ele se sentiu satisfeito com sua apresentação, mas ele não podia contar com a vitória ainda, ele poderia nem passar para a segunda fase, mas ele precisa conseguir aquela segunda fita.

— Você se saiu bem lá, Min — alguém tinha dito para ele, era Aleks, o seu colega de grupo, em seus ombros estava seu Aipom e ele também estava vestido para a sua apresentação.

— Você acha? — ele coçou a nuca — Eu fiquei com tanto medo de errar algum movimento e foder tudo, mas acho que me sai bem.

— Também espero me sair bem — suspirou Aleks. — Naomi e Gideon estão contando comigo, se eu falhar eu posso dar tchau ao que Naomi-san disse sobre eu sair em jornada sozinho.

Oh — Min tinha esquecido que Aleks era o único dos quatro meninos do grupo que não estava saindo em jornada sozinho durante o hiato do 3vennight na temporada de concursos — Você vai se sair bem, cara, eu acredito em você.

— Valeu, Min.


SUPERNOVA SUPERESPETACULAR

Kara


Mais de cinquenta coordenadores já tinham ido, alguns excepcionais, outros nem tanto e aquilo só deixava Kara muito nervosa, mais do que o normal. Ela segurava a barra da cauda da saia de seu traje, ela tinha vindo de muito longe e não podia decepcionar sua família e colegas de escola, eles estavam vendo de casa em Circhester torcendo por ela, eles tinham parado tudo apenas para assisti-la competir em uma outra região, um outro país. Sua prima Natasha também estaria vendo em Violet enquanto aguardava por ela, eram muitos contando com Kara naquele palco, era agora ou nunca.

— Deem uma salva de palmas para a nossa próxima competidora, uma garota que veio de terras distantes, a região de Galar — anunciou Lilian Meridian, a mestra de cerimônias. — Venha ao palco, Kara Sterling!

E ainda com nervosismo, ela foi em direção a arena central e acenou para todos, mandando beijos para o público. Segurando a sua saia ela girou e arremessou uma Pokébola ao alto e dela saiu seu Pokémon, seu Clefairy. As estrelas do selo rodearam Clefairy, gravitando ao redor da fada da lua, antes que se dissipassem em poeira brilhante.



— Clefairy comece com Splash e depois Swift, vamos saltar em direção às estrelas! — disse Kara.

A fada lunar deu um impulso e saltou alto e girou, estrelas multicoloridas a rodearam formando os braços de uma galáxia. Kara girou junto com a Clefairy, as estrelas mesclando ao cromado do bodysuit. Ela e o Pokémon alienígena se divertiam em meio às estrelas daquela mini-galáxia.

Misty Terrain!

Uma névoa rosada rodeou as duas, tanto Kara quanto Clefairy tornavam-se o centro daquela nebulosa, as estrelas do Swift davam à névoa que encobria a arena um toque único, era como observar as grandes nuvens cósmicas de onde as estrelas se originaram, a formação de um novo sistema solar que tinha Kara e Clefairy como seu sol.

— Clefairy vamos dar a essa galáxia o seu fim, vamos executar a nossa supernova! — ordenou Kara — Use Gravity!

A fada estendeu os bracinhos e alterando a força gravitacional em torno da falsa nebulosa de estrelas, tudo foi comprimido como se pesasse mais do que deveria, a névoa do Misty Terrain começou a condensar-se, Kara não podia mover-se, era um efeito colateral do Gravity, tornava difícil se mover já que seu corpo pesava mais que o normal, mas o próximo movimento cancelaria aquele campo gravitacional que condensava toda aquela névoa e as estrelas iridescentes, seria o final de sua apresentação.

Misty Explosion! — gritou Kara. — Nos dê uma supernova!

A névoa condensada começou a se concentrar em torno de Clefairy, brilhando e dando à arena um brilho cósmico de rosa e azul, roxo e índigo, as cores de um céu estrelado prestes a entrar em um clarão absurdo. O campo gravitacional de Clefairy colapsava e isso permitia Kara certa liberdade de movimento, ela agachou-se e esperou a explosão e…

Boom!

— Clefairy Splash, já!

Ela e Clefairy saltaram com a explosão por trás delas, ofuscando tudo, esmigalhando as estrelas e deixando cachos e plumas vaporosas de névoa rosada impulsioná-las para cima deixando a gravidade fazer o resto fazendo com que caíssem em direção ao chão. De mãos dadas a Clefairy, coordenadora e Pokémon pousaram com um suave Splash.

E fim. A apresentação havia se encerrado. O público ovacionou Kara e aplaudiu-a, era uma sensação gostosa a de ouvir aqueles gritos eufóricos e palmas, os pedidos por bis.

— E com uma impressionante explosão ultra-estrelar, Kara nos entrega o finale — diz Lilian Meridian. — Jurados?

— Uma apresentação que tenta cativar a plateia, uau, eu fiquei intrigada pelo uso destes movimentos e como eles tentam performar algo fora deste mundo — iniciou Elena Contesta — Infelizmente, eu achei que houve um exagero de movimentos e uma falta de execução própria e observada, por mais que os concursos permitam uma gama enorme de movimentos aos Pokémon utilizarem em performances, devemos nos atentar a não exagerar. Minha nota é sete

— Will?

— Bem, eu aprecio muito a temática espacial da coordenadora Kara, porém eu sinto que ela tentou chamar mais atenção para si do que para seu Pokémon — julgou o Elite dos Quatro. — Numa performance de apresentações, tanto Pokémon quanto coordenador devem estar em sincronia e visto que estamos na categoria Beleza, sinto que a coordenadora pecou em mostrar isso. Foi belo, claro? Mas a beleza foi ofuscada por uma coordenadora que tenta competir com a atenção de seu Pokémon e que ainda finaliza com algo arriscado como uma explosão assim. Minha nota, infelizmente, é seis.

— Dureza, mas ainda estamos dentro da média, com o aval de Valerie podemos finalizar a avaliação dos jurados e deixar para o pessoal de casa e das arquibancadas para darem suas próprias notas — disse Lilian Meridian. — Senhorita Valerie Kinukawa?

— Uh, chérie Lilian, sinto dizer que mesmo para mim que passou anos em Kalos isso foi exagerado — disse ela. — E os kalosianos são conhecidos por seu exagero. Amo a atmosfera de estranheza e extraterrestre da coordenadora, mas sinto que ela esqueceu que ela não é a única estrela ali. A beleza deve advir do Pokémon e do coordenador juntos, do que adianta se parecer com algo de outro mundo se a própria Clefairy se destoa? Minha nota é sete.

— Uh! Frio — disse Lilian, Kara tremeu um pouco. — Bem, esta foi Kara, pessoal, não esqueçam de dar suas notas.

Kara retornou Clefairy à Pokébola e correu de volta para os bastidores, ela não queria chorar, ela não podia chorar. Ela sentou-se em um dos bancos e acanhada engoliu o choro, ela não queria estrear daquele jeito com notas tão ruins assim. O que será que o pessoal em casa estava pensando dela? O que será que a sua prima estava pensando dela? E seu irmão?

Ela havia decepcionado-os.

— Ei, hã… — alguém se aproximou dela.

Kara virou-se, era um menino loiro da sua idade, um tanto alto até, fazendo ela levantar o pescoço para encará-lo, ainda mais somado à cartola de mágico que ele usava. Aliás, seu traje de concurso inteiro era na temática de mágico.

Ele usava um misto de colete e espartilho preto de couro falso com detalhes azuis sobre uma camisa social branca com mangas separadas e rebarbas que imitavam a cauda de um smoking com de luvas de pelica branca e courino. No pescoço ele tinha uma gravata borboleta listrada de azul-elétrico e vermelho-rubi e usava calças pretas justas de courino e botas de cano longo completando o visual. Ele usava uma maquiagem simples, os olhos esfumados em azul e vermelho e com um delineador que deixava-o com um rosto mais felino.

Ele parecia algo de outro mundo, não um alienígena igual Kara tentava parecer com o seu traje semi cromado, mas como se ele tivesse saído de uma história infantil.

— Posso me sentar aqui?

— Po-pode… — disse ela.

— Eu gostei da sua apresentação — disse o menino loiro. — Achei incrível, fiquei até com um pouco de inveja, eu não conseguiria pensar em nada do tipo.

— Pode falar a verdade, ficou horrível — disse Kara, chorosa. — Eu poderia… Eu deveria desistir e ir pra casa…

— Eu também pensava isso — comenta o menino loiro — No meu primeiro concurso eu também vacilei muito na apresentação, acabei caindo feio no chão e eu saí correndo antes mesmo de ser julgado, acabou que eu não iria passar da mesma forma… Levou algumas semanas para eu me recobrar daquilo tudo.

— Sério? — indaga Kara.

— É, sério — ele responde. — Eu vim para a minha cidade natal achando que isso me daria a confiança necessária, para saber se os concursos realmente são minha vocação. É a minha chance de me provar para alguém importante e mostrar que consigo me virar sozinho.

— O quê? — Kara não entendeu. — Tanto faz, obrigado pelas palavras, acho que era o que eu precisava ouvir.

— Quê isso, apenas vi você correr um pouco tristinha, achei que era o melhor a se fazer — disse o loiro.

— Eu não vou desistir, vou tentar de novo — diz Kara. — Você me motivou. Aliás, qual seu nome?

Ah, você não sabe… — ele murmura. — Me chamo Aleksey, mas todo mundo que me conhece me chama de Aleks ou de Lyosha.

— Lyosha, que fofo — diz ela. — My name is Kara, nice to meet you.

Nice to meet you too — retornou ele em um galariano sem sotaque. — Vejo que seremos bons amigos e rivais, hã.

— Acho que sim.


O PRIMEIRO TRUQUE DE MÁGICA

Aleks


A coisa sobre a mágica era fazer todos acreditarem que o que viam era real. Em concursos o mesmo era válido, com a cartola sobre a cabeça e ajeitando a gravata borboleta, Aleks caminhou em direção à arena assim que a mestra de cerimônias o chamou, ele tentava reunir a confiança que conseguia, era a sua chance, ele não podia repetir o que tinha acontecido em Cerulean.

— … Senhoras e senhores, com vocês, Aleksey Stepanov!

— Tatiana, o palco é seu! — disse o coordenador lançando uma Love Ball para o ar e dela uma tormenta de folhas e pétalas rosadas rodearam um Pokémon — É hora de fazer mágica!

Sua Bellsprout assumiu o centro da arena, a plantinha carnívora se curvou diante da plateia.



— Tatiana comece combinando Trailblaze com Grass Knot — ordenou o coordenador.

A plantinha então com suas perninhas de raízes começou a mover-se em ziguezague levantando uma energia clorofilada esmeralda e logo atrás lâminas de grama e pequenas touceiras de florzinhas erguiam-se do chão, seguindo a trilha esmeralda, amarrando uma nas outras formando nós apertados, a arena havia se tornado um grande gramado brilhante, o cheiro de vida nova preenchia o ar, como se alguém acabasse de regar um jardim. Aleks tirou a cartola e jogou-a para o alto e depois disse:

— Vamos substituir essa paisagem, Tatiana, querida — disse em tom sugestivo, a planta carnívora entendeu — Hora de eliminar essas ervas daninhas com Magical Leaf e Acid Spray combinados!

As folhinhas da Bellsprout brilharam iridescentes, disparando-as para cima criando um turbilhão cortante de folhas que cortavam todo aquele gramado, a planta carnívora parecia ter desaparecido em meio aquela pequena tempestade vegetal, mas logo uma névoa derreteu tudo aquilo, limpando a arena, ignorando apenas a cartola de Aleks que havia caído um pouco longe dali. Bellsprout ao centro fez uma reverência para a plateia enquanto ela também se desfazia naquele spray ácido o que fez os jurados arregalar os olhos, a plateia ficou muda por um instante. Era como se a Bellsprout tivesse morrido na frente de todos ali, chocando-os.

Aleks pegou sua cartola do chão e se curvou para a plateia, mas antes que a contagem de tempo terminasse ele se aproximou de Lilian Meridian como se estivesse pronto para dizer algo para a apresentadora.

— Lilian, aceita algumas flores? — Aleks enfiou a mão na cartola e de lá puxou um buquê de flores e no meio delas estava uma curiosa flor em formato de sino que olhou para a mestra de cerimônias e piscou para ela estendendo um cipó e cumprimentando-a — Voilà!

O público chocado ainda com aquilo tudo ovacionou Aleks e aplaudiu-o, ele tinha realizado um truque de mágica na frente de todos, um dos mais velhos do mundo usando um golpe o qual não havia revelado para ninguém: o Substitute.

O golpe Substitute consistia de fazer o oponente acreditar que estava atacando o seu adversário, mas na verdade este era apenas um chamariz, um truque de luz e sombras básico para fazer o inimigo acertar enquanto poupava o real Pokémon de ser atingido e era isso que Aleks havia feito, enquanto a sua Bellsprout fazia um chamariz a verdadeira havia pulado para dentro da cartola que caía enquanto o vendaval de folhas e névoa ácida tomavam o palco. Aquele era o truque de mágica mais velho de todos e seus espectadores haviam acreditado nele.

— Eu estou sem palavras — disse Lilian Meridian com o buquê em mãos, ainda surpresa — Na frente de nossos olhos, Aleks nos convenceu de que sua Bellsprout havia nos deixado apenas para nos surpreender de novo trazendo-a de volta, algo espetacular e único. Jurados?

— Acho que a minha mandíbula caiu e eu mal tive forças para colocá-la de volta, que fantástico essa apresentação, simplesmente sublime — comentou Elena Contesta, as mãos entrelaçadas. — O jeito como você nos convenceu que a sua Bellsprout simplesmente foi derretida por aquela névoa ácida foi chocante, por um instante eu quase apertei o botão vermelho para te desclassificar, mas quando a vi no buquê de flores eu senti meu coração voltar a bater normalmente. Maravilhoso, a minha nota é dez!

— Sr. Will?

— Lilian, assim como a minha colega, eu estou estupefato, eu senti meu coração pular pela garganta quando ele executou esses truques e ainda escondeu tudo como um mágico o faz — diz o membro da Elite dos Quatro. — Terei de dar uma nota dez, não tem como.

Mademoiselle Kinukawa?

Mon Arceus, o que eu vi? C’est très merveilleux! — comenta Valerie, os olhos de boneca tinham um brilho cativo como o de uma criança. — Uma performance que difere da que o monsieur Aleksey nos demonstrou em Cerulean, sinto que a beleza aqui mostrada por ele foi uma de tirar o fôlego de meus pulmões, a nota é dez, me escutaram bem? Dez!

Alec sorriu de orelha a orelha. Ele chamou sua Bellsprout de volta para a Love Ball e se curvou para seu público, ele colocou sua cartola na cabeça e caminhou de volta para os bastidores onde todos aplaudiram-o e cercaram-o, ele apenas sorriu e agradeceu pelos elogios e foi para o banco onde antes estava sentado com Kara, seu colega de grupo, Min, também estava sentado perto dela.

Os dois olharam para ele e se aproximaram.

— Caraca, superestrela, você nos deu um grande show, hein — elogiou Min — Era isso que você tinha guardado nas mangas o tempo todo?

Ele gargalhou nervoso.

— E você com inveja da minha apresentação — acotovelou Kara. — Eu quem deveria estar com inveja de você. Oh my Arceus, eu quero muito algumas dicas de como melhorar as minhas apresentações depois dessa.

— Um mágico nunca revela seus truques — disse o loiro, os amigos gargalharam.

— Bem, melhor aguardarmos o resultado das apresentações — disse Min — Aceitam uns churros, deu uma fome ver tantas apresentações. Tem uma barraca muito boa no bazar, eu pago!

— Ah, eu aceito — disse Aleks — Depois que esse nervosismo todo passou acho que meu apetite abriu.

— Vou chamar uns amigos — disse Kara pegando seu smartphone. — Acho que eles vão adorar conhecer vocês e bem, comida é sempre uma boa pedida.


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