sexta-feira, outubro 06, 2023

 


Lyra

New Bark, Johto

Terça-feira, 26 de abril


Ela estava sentada no peitoril da janela observando a chuva antes de descer. Ela segurava uma xícara de chá em uma das mãos enquanto na outra ela pegava alguns dos onigiri que havia feito mais cedo, tudo isso enquanto escutava ao episódio novo do seu podcast favorito em seu PokéGear antes de Ethan chegar para ambos irem para mais um dia de aula longo, mas ele não apareceria até às oito da manhã, o que dava algum tempo para ela aproveitar e ouvir aquele episódio do podcast.

Então, diga-me, seus fãs parecem loucos para saber o que você fará a seguir, o que há em sua agenda? — perguntou Mary ao entrevistado.

Sabe como é, Mary, tudo está sempre um caos com meus horários e minha agenda apertada — respondeu ele, sua voz era um tanto grave, como o eco de um trovão distante, mas apresentava certa jovialidade para a idade que aparentava — A partir desta quinta-feira eu estarei indo para a minha cidade natal, Cherrygrove, para o concurso que acontecerá neste fim de semana.

Então isso quer dizer que irá competir desta vez? — perguntou a DJ, intrigada. — É o grande retorno definitivo de Aleksey para os palcos dos concursos?

Tudo depende de como irei me sobressair — Aleksey respondeu — Mas confesso que estou com um friozinho na barriga. É tão bom voltar a competir e principalmente em casa, eu ando tendo um bom pressentimento quanto à fita.

Então teremos uma vitória garantida? — indagou ela.

Pode crer que sim, Mary-chan — disse o coordenador na entrevista ao podcastA fita Cherrygrove está no papo, confia.

Bem, não é para mim que você tem que dizer isso, Aleks — Mary riu — Mas aos seus fãs. Eles já devem estar frenéticos por vê-lo voltar de seu hiato de três longos meses e pronto para competir de novo. Agora, bem, este segmento do nosso podcast já está perto do fim, vamos para um bate-bola jogo rápido, pode ser?

Pode mandar, eu estou confiante hoje — respondeu Aleks.

Mary deu um pigarro e começou a série de perguntas do bate-bola.

Um livro?

"Um dia perfeito para Nanab Qwilfish", é um dos meus favoritos.

E um filme?

"Minha Doce, Doce Donzela".

Vejo que é um amante de musicais, ou seria fã da Diantha? — Mary disse após a resposta.

Vi todos os filmes praticamente — ele gargalhou.

E uma cidade?

Cherrygrove, claro. Estou morrendo de saudades de casa

Que nostalgia — disse Mary — Uma pessoa?

Minha tia Lyudmilla.

Achei que diria alguém da sua equipe, mas vejo que o amor pela família fala mais alto — ela disse.

Minha tia é como se fosse uma segunda mãe para mim.

Você é um fofo mesmo, viu. Uma pessoa famosa?

O top coordenador Wilhelm Michaelmas.

Um sonho a ser realizado?

Ser uma influência positiva para meus fãs enquanto idol e coordenador — disse ele, sua resposta parecia genuína — Amo todos meus Sparkles! Continuem brilhando!

Aleks por Aleks? — provocou Mary, vendo a expressão curiosa do coordenador.

Aleksey soltou uma risadinha e respondeu com um olhar travesso:

Alguém com muito a conquistar — ele suspirou — Um garoto de Cherrygrove que ainda tem muito o que provar para o mundo.

Mary ficou encantada com a resposta sincera e a simplicidade que o coordenador expressava ao falar. Era como se ela pudesse ver uma outra faceta da personalidade brilhante e determinada de Aleks.

Isso é adorável! Tenho certeza de que seus Sparkles apreciam a pessoa que você é — elogiou Mary. — Complete a frase: Amor é…

Antes que ela pudesse ouvir a resposta completa de Aleks, o seu PokéGear tocou. Era Ethan, seu colega de classe, ligando insistentemente, embora o mesmo estivesse ali em baixo próximo à sua porta esperando por ela, típico dele fazer esse tipo de coisa.

Assim como Lyra, Ethan vestia seu uniforme escolar, com a exceção de que ele parecia ter entrado dentro de um furacão antes de vestir-se, a camisa branca de botões estava com a gola levantada e desabotoada mostrando parte da clavícula de Ethan, além do cardigã estar bem surrado e puído e ela não falava nada sobre o boné virado para trás em seus cabelos perpetuamente bagunçados e o skate embaixo do braço. Ethan, por sorte estava protegido da chuva com seu guarda-chuva azul e as galochas pretas, o seu semblante apresentava certa impaciência.

— Vai vir ou não, Ly? — chamou Ethan, impaciente — Eu estava quase indo para a escola sem você.

— Desculpe, estava ouvindo um podcast e perdi a noção do tempo — respondeu Lyra, levantando-se do peitoril.

 — É, eu estava ouvindo daqui — disse ele — Acho que sua rua inteira ouviu, agora vem logo antes que vaze daqui sem tu, Lyra.

— Uns minutinhos — disse ela levantando-se do peitoril.

De maneira apressada, Lyra pegou sua bolsa e desceu correndo as escadas. Na cozinha, sua avó tomava o chá da manhã e lia o jornal com atenção, após ter feito suas orações em seu quartinho no andar de baixo e queimado dois palitos de incenso. A fumaça do incensário espalhava-se pela casa, fazendo o nariz de Lyra arder pelo cheiro desagradável, mas que parecia não afetar em nada sua avó ou seu Natu, que estava sobre a mesa ciscando alpiste ao lado dela.

— Bom dia, Lyra querida — disse a avó em sua voz lenta e embargada de sempre.

— Oi, obachan — respondeu Lyra, dando um beijo na testa da avó — Tchau-tchau obachan, estou atrasada, preciso ir.

— Não está esquecendo nada, minha filha? — perguntou a avó, apontando para o bento de Lyra que estava enrolado em cima da pia da cozinha, perto da panela de arroz elétrica.

— Céus, quase esqueci — disse ela, espalmando levemente a testa, tão distraída aquela manhã que só não esqueceria a cabeça por estar grudada ao pescoço — Obrigada, obachan. Tchau-tchau.

— Tenha um bom dia de aula, minha querida — desejou a avó com um breve sorriso, sem largar sua xícara de chá e o jornal.

O Natu de sua avó piou, como se também estivesse se despedindo da menina. Lyra, apressadamente, pegou suas galochas na sapateira próxima à entrada e sua sombrinha com estampa floral antes de abrir a porta.

Do lado de fora, a chuva de primavera estava fina, quase uma garoa. Lyra abriu a sombrinha e encontrou Ethan, ambos caminhando rumo à escola, que ficava a uma curta distância dali. Ethan compartilhava detalhes de um sonho estranho que teve na noite anterior, e Lyra ouvia atentamente, intrigada e às vezes soltando pequenas risadas com as situações surreais que ele descrevia.

— Mas e aí, me fala, quem é que estava sendo entrevistado no Soda Popcast? — perguntou ele, mudando o assunto — Você parecia bem entretida ouvindo ali.

— Ah, é só o Aleks, sabe, aquele idol que está competindo como coordenador no circuito de concursos de Kanto e Johto — disse ela — Ele vai competir no concurso de Cherrygrove.

— Massa — disse Ethan — Não sabia que curtia esse tipo de coisa. Você quer ser coordenadora agora?

Ela soltou uma breve gargalhada.

— Não, nem em um milhão de anos — ela respondeu ao melhor amigo — Concursos não são minha praia, são legais de se ver, mas sei lá, sabe? Eu não levaria jeito, não gosto de ser o centro das atenções.

Enquanto continuavam o caminho para a escola, Ethan parecia pensativo por um momento e então falou:

— Então vai querer fazer o quê quando sair em jornada? A maior parte da nossa turma já conseguiu a dispensa oficial com o diretor, 'cê deveria fazer o mesmo. Eu tô combinando com minha mãe de ela me deixar sair em jornada essa semana ainda.

— Sei lá — Lyra coçou a nuca, contemplando o horizonte cinzento da chuva — Eu já pedi ao diretor a dispensa das aulas para poder seguir uma jornada, mas ainda falta a autorização do meu pai e ultimamente ele tem voltado bem tarde para casa, sabe?

— Ih… Sei não, viu? Tem caroço nesse mochi, — diz Ethan, franzindo o cenho enquanto caminhava ao lado de Lyra sob a fina garoa que os envolvia. — Seu pai não trabalha em Cherrygrove?

— Bem, sim, — respondeu ela, segurando firme a sombrinha para se proteger da chuva. — Ele tem uma marcenaria lá. Geralmente, alguns clientes pedem para que ele conserte móveis, ou ele fica trabalhando em projetos próprios.

— E se ele estiver, sei lá, se encontrando com alguém? — perguntou Ethan, hesitante. — Seu pai é solteiro, e ele... Bem, ele não se encontra com ninguém desde...

— Desde que a minha mãe morreu, — interrompeu Lyra, a chuva parecia mais intensa por um momento, mas ela continuou caminhando. Já faziam dez anos desde que sua mãe havia partido devido à sua doença, e Lyra, às vezes, se perguntava como o pai tinha feito para seguir em frente. — Sei lá. Eu não veria problemas, sabe? Mas às vezes sinto que meu pai esconde coisas de mim, tem muitas coisas sobre a minha mãe que eu não sei.

Ethan assentiu compreensivamente, mantendo-se ao lado dela com uma expressão solidária.

— É difícil perder alguém tão importante em nossas vidas, não é? — disse ele com empatia. — Às vezes, as pessoas tentam proteger aqueles que amam ao esconder suas próprias dores e preocupações. Talvez seu pai não queira te preocupar com o que ele passa ou sente.

Lyra olhou para o amigo com gratidão por sua compreensão e apoio.

— Você pode estar certo, — ela admitiu. — Talvez eu devesse ter uma conversa franca com ele. Afinal, somos uma família, não é? Mas aqui, desde quando você ficou tão empático assim? Esse não é o Ethan que eu conheço! Você não vai me zoar, não?

O amigo gargalhou alto.

— Pô, tu tava despejando todos os seus sentimentos aqui para mim, é o que um melhor amigo faz, — ele disse, dando de ombros. — Mas aí, me fala, Ly, se tu for em jornada, qual inicial vai escolher? Já tem um em mente?

Era comum no começo de uma jornada que um treinador tivesse seu primeiro Pokémon. Muitas vezes, este era dado pelos pais, mas também havia aqueles que adotavam um Pokémon em um Centro Pokémon local que realizava dias de adoção. No entanto, a opção mais tradicional era ir aos laboratórios de algum cientista de renome e escolher entre três Pokémon iniciais.

Em Johto, a autoridade encarregada era o Professor Augustus Gabriel Elm, que vivia na mesma cidade que Lyra. Ele distribuía aos treinadores novatos três Pokémon distintos: Chikorita, do tipo Grama, conhecidos por sua docilidade e por servirem como Pokémon de assistência; Cyndaquil, do tipo Fogo, que eram mais ofensivos apesar de serem Pokémon acanhados e tímidos; e Totodile, do tipo Água, uma escolha mais equilibrada, além de possuírem uma personalidade alegre e vivaz.

Escolher um Pokémon inicial era uma decisão difícil, e Lyra já havia passado horas pensando em quais Pokémon escolheria para ser seu primeiríssimo parceiro. Ela estava prestes a começar sua jornada e tinha um longo caminho pela frente, considerando que a Liga Índigo operava em um circuito de dezesseis ginásios, sendo oito para Kanto e oito para Johto. Além disso, havia a restrição de que se um treinador começasse os desafios de ginásios em Johto, não poderia desafiar os de Kanto durante a temporada da liga em que se encontrava e vice-versa, não sobrecarregando os treinadores assim como facilitava para a liga contabilizar as insígnias e evitar problemas durante a competição oficial que ocorria em novembro.

— Acho que na hora vou saber qual escolher — disse ela, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Vai ser o primeiro que irei pedir ao Professor Elm quando eu for ao laboratório dele.

— Eu já sei que quero um Cyndaquil — disse Ethan empolgado. — Meu pai tem um Typhlosion, eu quero um maneiro igual o dele.

Lyra lembrava-se do pai de Ethan, Phillip, que trabalhava nos escritórios no Planalto Índigo, sempre abarrotado de papelada e trabalho, mas que esforçava-se em ser um bom pai para seu único filho. Os pais de Ethan não eram casados, então ele dificilmente via o pai, mas sempre que o via, trazia presentes e passava um bom tempo com ele, além de já tê-lo levado em férias para outra região durante suas viagens de negócio, sendo a última delas em Unova durante um evento importante que ocorrera na região.

— Então melhor andar logo, se não você vai perder ele — brincou Lyra.

Os dois continuaram a andar. O prédio da Escola de Ensino Médio Kaiyose era visível, cercada por seus baixos muros de alvenaria e grades, assim como pelas árvores na entrada. Havia uma ou outra cerejeira em flor ali, mas eram poucas, já que a época das flores de cerejeira estava chegando ao fim. Logo atrás do prédio da escola havia um catavento eólico, com suas pás girando ao vento favorável em meio à garoa fina de primavera, afinal, sempre ventava em New Bark, aquela era a cidade dos ventos dos novos começos.



Os alunos, em seus uniformes ocre, andavam rumo ao prédio. Lyra e Ethan se juntaram à movimentada multidão, caminhando em direção ao pátio da escola onde alunos entre quinze a dezoito anos conversavam entre seus grupos, suas panelinhas, típico de qualquer escola de ensino médio no mundo.

— Ah, mais um dia de aula! — suspirou Ethan, derrotista. Ele não era o maior fã de ir à escola, mas infelizmente precisava ir, assim como Lyra.

— E ainda é terça-feira — disse Lyra, compartilhando do sentimento do amigo. — É... Vamos lá.



Ren

Escola de Ensino Médio Yaezakura, Cherrygrove, Johto

Terça-feira, 26 de abril


O treino de natação havia sido realmente intenso naquele início de tarde. A preparação para as competições intermunicipais exigia dedicação máxima de cada aluno nas raias da piscina. Em poucos dias, a escola Yaezakura enfrentaria sua primeira adversária, a renomada escola Kaiyose de New Bark. Enquanto secava-se em um dos bancos, Ren observava a agitação nas águas cristalinas da piscina.



Apesar da empolgação dos colegas com a competição de medley de revezamento, Ren sabia que não poderia participar. Ele havia pedido uma dispensa ao seu técnico e à diretora da escola, pois ele e seu melhor amigo, PJ, planejavam sair em jornada ainda naquela semana. Convencer sua mãe não foi tarefa fácil. Ela via a jornada com desconfiança e desgostava da amizade entre Ren e PJ, considerando-o uma má influência. No entanto, após muita insistência e apesar da animosidade dela em relação a PJ, Sylvia havia finalmente permitido que Ren embarcasse em sua jornada.

Essa prática de pausar temporariamente a matrícula dos alunos para permitir que saíssem em jornada era comum em Kanto e Johto. No entanto, além da autorização das escolas, era necessário o consentimento dos pais ou responsáveis. O Planalto Índigo e outros órgãos, como o Comitê da Fita e a Federação Internacional de PokéAthlon, bem como a Batalha da Fronteira, incentivavam os jovens entre treze e dezoito anos a embarcarem nessa jornada de autodescoberta. A expectativa era que, ao retornarem após alguns meses ou até dois anos, retomassem seus estudos com novas perspectivas para o futuro.

Enquanto secava seus cabelos, sentado ali em um dos bancos próximos à piscina, ele avistou a figura alta de seu melhor amigo, PJ, se aproximando, ainda em seu uniforme de beisebol, talvez seu treino tivesse terminado mais cedo aquele dia.

— E aí, magrelo — PJ cumprimentou com um sorriso malicioso, apoiando seu taco de alumínio no ombro enquanto mascava chiclete, estourando bolhas de vez em quando.

PJ era mais alto que a maioria dos meninos da sua idade. Na verdade, ele era mais alto que todo mundo que Ren conhecia. Ele tinha um corpo esguio apesar da estatura, fazendo seu uniforme parecer folgado no corpo. Os cabelos eram castanhos bastante escuros, quase negros, enquanto os olhos eram castanho-avermelhados como carvões em brasa, fazendo com que PJ se parecesse com um delinquente o que já garantiu inúmeros comentários negativos por parte da mãe de Ren que desprezava o rapaz.

— Mais um dia de treino puxado, não é? — disse Ren, sorrindo com cumplicidade.

PJ revirou os olhos brincalhão.

— Não sei como você aguenta isso todos os dias — disse ele, soltando uma risada — O pessoal na piscina parece que estão competindo contra um Golduck. Meu Arceus, o seu técnico é intenso assim?

— É que as intermunicipais estão chegando — explicou Ren — Uma pena que não vou estar lá para participar.

— Vamos estar bem longe daqui — disse PJ se sentando ao lado do amigo, apoiando seu taco de beisebol próximo ao banco — Já decidiu o que quer fazer?

— Sei lá, cara — ele deu de ombros, repousando a toalha ao seu lado, enquanto deixava aquele sol agradável de primavera secar as gotículas de água restantes em seu corpo — Eu não vejo graça na Liga Pokémon e bem, por mais que eu goste dos Concursos, eu não me vejo participando de nada disso.

PJ deu uma risada breve.

— Não vai me dizer que irá participar da Batalha da Fronteira, né?

— Nah, isso é um lance seu — ele disse — Eu não aguentaria os desafios, desistiria no meio deles e né, eu quero uma folga dos treinos de natação, então eu não embarcaria nessa do PokéAthlon quando o que eu menos quero é qualquer coisa envolvendo esporte.

— Justo — PJ concordou — Mas tu fazendo companhia já está de bom tamanho, não vejo problema nisso. Eu odeio ficar sozinho, mas com meu parça do meu lado tudo fica melhor ainda.

PJ bagunçou os cabelos úmidos de Ren que gargalhou.

— Vamos ainda essa semana, né?

— O plano é justamente esse — disse o amigo. — Eu só vou resolver algumas coisas e acho que nesse domingo já saímos.

— Depois do concurso? — perguntou Ren, lembrando que um concurso aconteceria aquela semana em Cherrygrove.

— Infelizmente né — ele deu de ombros — Minha mãe quer ver e parece que o Sr. Perfeição vai estar lá, ugh.

PJ revirou os olhos novamente. O Sr. Perfeição, como PJ costumava chamar Aleksey Mironov, era uma figura que não lhe agradava nem um pouco. Aleksey era um ex-aluno da Yaezakura, que após ser descoberto por um caça-talentos, tornou-se um idol em tempo recorde. Essa rápida ascensão gerou certa animosidade em PJ, que preferia evitar qualquer menção ao idol, mas era difícil ignorar a história compartilhada entre eles: ambos haviam estudado na mesma escola e costumavam ser amigos, até que uma briga os afastou.

— Acho que dá um tempinho para eu me organizar também — disse Ren, mudando de assunto — As coisas andam complicadas lá em casa, sabe?

Curioso, PJ inclinou o pescoço e encarou o céu, demonstrando interesse em ouvir o amigo.

— Sua mãe de novo? — perguntou, com empatia.

— Tá meio foda lá em casa — Ren suspirou, desabafando suas frustrações — Ela tá mó chata, se eu não insistisse muito, eu nem iria em jornada contigo.

Compreendendo o peso dessa decisão, PJ bufou, frustrado.

— Porra, cara — ele disse — Ela ainda tá naquilo de achar que eu sou igual ao meu pai?

Ren confirmou com um aceno de cabeça.

— Que inferno, cara — ele massageou as têmporas, buscando aliviar a tensão — O que eu tenho que fazer para que as pessoas parem de me associar com o Mark? O cara tá no xilindró faz uns oito anos, e minha mãe já está casada com meu padrasto há cinco. Mesmo assim, a sua mãe ainda tem essa cabecinha pequena e preconceituosa, acreditando que eu sou como meu pai e vou te levar pro “mau caminho” só porque andamos juntos.

PJ revirou os olhos novamente, compartilhando o sentimento de frustração do amigo.

— Não é porque meu pai é criminoso que eu também vou ser, caraca, velho — ele disse, com firmeza.

Ren tentou amenizar a situação com um toque de humor.

— Na visão da minha mãe, ela diz que filho de Gyarados, Magikarp é — parafraseou Ren, fazendo PJ soltar uma risada — Ela já não gosta que eu ande com você, imagina se souber que sou gay, ela vai ter um piripaque.

PJ riu novamente, aliviando o clima tenso.

— Cara, todo mundo já sabe que tu gosta de meninos, menos sua mãe — riu PJ — Você pintou o cabelo de fúcsia, cara. Tipo, tinha um monte de cor de “macho”, mas tu foi e pintou de fúcsia!

Ren sorriu, divertindo-se com as provocações do amigo.

— É minha cor favorita — ele riu.

— E você é emo — brincou PJ — Tipo, eu tenho toda essa cara de delinquente, mas você? O cara mais emo que conheço. E fora que você ainda lê alguns mangás boys’ love. Tipo, que cara hétero faz isso?

Ren não se importou com as brincadeiras, afinal, ele se sentia confortável com quem era.

— Em minha defesa, eu compro e você deixa na sua casa para minha mãe não desconfiar — respondeu Ren, rindo também — E eu gosto do meu estilo. Fora que se encaixa na estética da nossa banda.

PJ riu com a lembrança da banda que eles tinham na garagem que eles ainda não tinham dado um nome ainda.

— Cara, a gente toca na minha garagem — riu PJ — Você tem sorte que meus pais são mega de boas com tudo isso. E bem, a nossa banda é furreca, até parece que alguém iria querer ouvir a gente um dia.

Ren fingiu um ar dramático e tocou o peito como se tivesse sido atingido por uma flecha, arrancando risadas de ambos.

— Pô, não mata minhas aspirações de me tornar um músico um dia — brincou Ren — Sei lá, eu gosto de como sou, mas meio que minha mãe não entende. Fazer o quê, não é mesmo?

— Ren, maninho — disse PJ — Fica tranquilo, okay? Se precisar de um ombro amigo, eu tô aqui, tá bom?

— Obrigado, cara — ele deu um meio sorriso — Mas mudando o assunto, como tá aquela garota lá que você tá namorando. Como era o nome mesmo?

— Cat — ele disse — Caitlin. A gente tá mó bem, vamos fazer um ano e seis meses de namoro na próxima quinta.

— E, ah lá, todo emocionadinho — caçoou Ren — Tu tá bem felizinho com esse namoro virtual, haha. Eu nem botava fé.

— Pô, qual foi?

— Não me leva a mal não, Pê, mas é que — Ren coçou a nuca — Todos seus namoros sempre tem algo estranho. Desde aquela mina de New Bark, eu fico com o pé atrás com qualquer relacionamento seu.

— Pô, a Tori foi tipo há… — ele fechou os dedos contando — Dois anos atrás? E eu conheci a Cat depois dela, começamos como amigos e bem, a família dela voltou para Ecruteak depois disso, mas mantivemos a amizade.

— E depois disso começaram a namorar — disse Ren, lembrando-se das fases do relacionamento de seu amigo e Caitlin — Mas pô, não acha estranho ela não ter vindo mais nas férias? Tipo no último verão e nas férias de fim de ano, você não vê ela desde aquele verão há um ano e meio atrás.

— Pô, cara, é por conta da família dela — disse ele — A irmã mais velha parece regrar muito ela, então eu meio que entendo.

Ren olhou desconfiado para o amigo.

— Sei não, Pierce — disse se levantando, com a toalha em volta de seu pescoço — Tem coisa estranha nisso aí. Vou para os chuveiros, tô começando a cheirar a cloro de piscina, você me espera na entrada da escola?

PJ afirmou com a cabeça.

— Também preciso de uma chuveirada — disse PJ — Estou todo suado depois do treino de beisebol. Te encontro na frente da escola depois então.

— Até mais, cara.

Ren virou-se e caminhou em direção aos vestiários, PJ fez o mesmo, mas indo na direção oposta.


Lyra

Escola de Ensino Médio Kaiyose, New Bark, Johto

Terça-feira, 26 de abril


A chuva havia cessado há algumas horas. As aulas estavam chegando ao fim, e Lyra se preparava para ir embora, mas para sua surpresa, a aula da srta. Summers ainda se arrastava. A professora de literatura havia trabalhado com eles a poesia chōka e pedido uma produção de texto, que estava sendo corrigida agora que todos os alunos haviam entregue.

Enquanto a srta. Summers entregava os textos de volta para cada aluno, ela segurava algumas produções, lendo-as com mais atenção antes de devolver. Lyra ficou por último, ao lado de Ethan, que estava impaciente, tamborilando os dedos na mesa devido ao seu TDAH. A ansiedade também tomava conta de Lyra, vendo sua professora ler e reler seu texto.

— Ethan, pode vir até a minha mesa? — chamou a srta. Summers.

O skatista levantou-se com sua mochila já nas costas e caminhou até a mesa da professora de literatura.

— Sua produção de texto está... bem, como posso dizer? — ela pausou, buscando as palavras adequadas para comentar o texto do rapaz — Você deixou muito a desejar. A conjugação dos verbos está péssima, e sua letra parece um garrancho; quase confundi alguns kanjis. Temo que você terá que ficar nas aulas de monitoria pelas próximas semanas.

— Ah, não, fessora — ele resmungou — Eu estava planejando sair em jornada. Já combinei com minha mãe de viajar essa semana, não posso ficar de monitoria!

— Ethan, por mais que eu queira que você vá — ela começou — Estou de mãos atadas. Não posso permitir que saia em jornada enquanto não melhorar sua escrita. Sei que é difícil quando se tem déficit de atenção, por isso quero que frequente as aulas de monitoria por apenas duas semanas, tudo bem?

— Duas semanas? Aff...

— Prometo que elas vão passar voando — a professora cruzou os dedos — Não pretendo atrasar sua jornada, mas é para o seu próprio bem, Ethan. Aposto que sua mãe iria apreciar o esforço.

Ele bufou, mas relutantemente aceitou.

— Tá, e quando eu começo? — perguntou Ethan.

— Que tal amanhã? — sugeriu a professora — Pedirei a um dos alunos mais velhos para te ajudar e informarei sobre seu TDAH.

Ethan assentiu e, sem dizer mais nada, saiu pela porta, aguardando Lyra no corredor. A professora organizou sua pilha de papéis e chamou Lyra, que se aproximou da mesa um tanto acanhada e temerosa do que a professora diria. Ela temia que seu texto a deixasse tanto tempo depois da aula quanto Ethan, ou até pior.

— Lyra, eu tenho algumas ressalvas sobre sua produção de texto — srta. Summers entrelaçou os dedos em frente ao corpo, com os cotovelos apoiados na mesa — Sei que suas notas em literatura sempre são um pouquinho acima da média, mas poderia me falar sobre o seu texto.

Ela repousou a folha de papel sobre a mesa na frente de Lyra que engoliu em seco.

— O tema do texto foi livre — disse a professora — Seu texto não tem tantos erros assim, é uma vírgula ou outra faltando, mas me fale, Lyra. Por que parece que você não coloca muito de si nos seus textos?

A garota engoliu em seco. Ela gostava de escrever fanfics, era uma forma de expressar-se e imaginar aventuras, já que ainda não havia vivido muitas histórias. No entanto, escrever um texto para uma atividade da escola a deixava ansiosa, pois tinha vergonha de mostrar o que escrevia. Talvez o medo do que os outros pensariam dela a inibisse. Na internet, era diferente, estava anônima, escondida atrás de uma foto de perfil com a imagem de um Nidoran ♀️ e um apelido criativo.

— Eu... — ela hesitou, sem saber como começar.

— Sinto que você está escondendo quem realmente é — disse a professora — Seu texto está bom, mas parece que ainda falta a sua essência ali.

— Não vai me mandar para a monitoria, não é? — perguntou ela, evitando o olhar da professora.

— Bem, não vou — disse a professora, colocando uma mecha loira atrás da orelha — Mas quero que você faça algo para mim.

— O que é?

— Você pretende sair em jornada, não é? — perguntou a professora.

— S-sim, mas ainda... Eu não consegui falar com meu pai sobre isso — disse ela — Ele ainda não assinou minha permissão.

— Seu pai? — indagou a professora, curiosa sobre a situação. — Enfim, não importa. Eu queria que você escrevesse sobre sua jornada, quero ver mais de você em seu texto, como um diário. Seja criativa, sei que você gosta de escrever.

A professora abriu a gaveta de sua mesa e puxou um caderno encapado de maneira artesanal, com páginas brancas que pareciam nunca ter sido utilizadas, e uma câmera de polaroid mais moderna, que costumava ver blogueiras usando para tirar fotos estilizadas e postar nas redes sociais, ou que algumas meninas usavam para fazer colagens de fotos. Ela também pegou uma caneta em seu estojo e entregou ambos os itens a Lyra, que os recebeu com cuidado e os abraçou contra o peito, olhando para a srta. Summers.

— Quero que registre os momentos importantes em sua jornada — disse a professora de literatura — Os amigos que fizer, os Pokémon que capturar, as coisas únicas que acontecem em uma aventura. Será que pode fazer isso para mim? Mostrar quem você realmente é, sem precisar fingir?

— E-eu não se-sei se posso — disse ela, um pouco envergonhada.

— Sei que é capaz — disse a professora, segurando a mão da aluna e encarando-a nos olhos — Sempre vejo você sozinha na sala do clube de literatura ou nos computadores da biblioteca, sei que se sente um tanto deslocada desde...

Havia muitos "desdes" na vida de Lyra, tornando difícil dizer desde quando ela se sentia deslocada. Embora tivesse Ethan como amigo, ele ocasionalmente viajava com o pai para outras regiões, deixando-a com poucas companhias. Não que ela se considerasse diferente das outras meninas, ela não buscava ser o centro das atenções ou uma pick me girl que tentava chamar a atenção a qualquer custo. Pelo contrário, Lyra evitava as pessoas e preferia passar despercebida, tudo porque não queria reviver constrangimentos como o que aconteceu no ano passado.

— Desculpe, não falarei sobre o acontecido — disse a professora, demonstrando sensibilidade — Mas quero o seu bem, Lyra. Prometa-me que, ao final da sua jornada, você vai me mostrar esse caderno cheio de fotos e histórias interessantes.

Ela assentiu com a cabeça.

— Certo — sorriu a srta. Summers — Não se preocupe se esse caderno ficar cheio, posso te mandar outro e, além disso, o filme para essa câmera pode ser encontrado facilmente. Aproveite sua jornada ao máximo, está bem?

— O-okay — gaguejou a menina.

— Quanto ao seu pai, verei o que posso fazer — a professora piscou, dando um sinal de que estava disposta a ajudar, embora Lyra não entendesse do que a professora falava.

Lyra pegou as coisas que lhe foram entregues, colocou-as na mochila e dirigiu-se à porta, onde Ethan a esperava.

— Tchau, Lyra, até mais — despediu-se a professora. — Tchau também, Ethan. Nos vemos na monitoria.

Os dois adolescentes acenaram para a professora e caminharam pelos corredores em direção à entrada da escola, onde trocaram os calçados escolares pelos tênis, deixando-os ao lado das galochas de chuva nos armários na entrada, trancando-os antes de partir. Lyra permanecia calada após a conversa com a professora, enquanto seu melhor amigo reclamava sobre ter que ir às aulas de monitoria por ter errado alguns kanji.

Enquanto caminhavam pelas ruas de New Bark a caminho de casa, a mente de Lyra divagava. Por que a professora fez aquele pedido a ela? Parecia tão... estranho. Ela nunca fora o tipo de pessoa que era chamada pelos professores à mesa; tinha notas medianas na maioria das disciplinas, era assídua às reuniões do clube de literatura, que tinha pouquíssimos membros, e tentava ser uma boa aluna, assim como uma boa filha para seu pai e uma boa neta para sua avó.

Dispersa em seus pensamentos, caminhando de volta para casa, ela não percebeu o esbarrão até quase cair no chão, mas Ethan segurou seu braço a tempo. Saindo de seu devaneio, ela viu em quem havia esbarrado: um garoto ruivo.

— Ei, não tem olhos não? — vociferou o garoto.

O garoto era alguns centímetros mais alto que Lyra, com cabelos ruivos e compridos que batiam nas omoplatas. Ele usava uma jaqueta de couro preta com detalhes em vermelho sobre uma regata roxo-berinjela, luvas de couro como as que os motoqueiros usavam, além de jeans justíssimos e um par de coturnos que cobriam boa parte de suas panturrilhas. Seu semblante era fechado, raivoso, arqueando as sobrancelhas rubras em furor, enquanto seus olhos prateados pareciam duas pequenas poças de mercúrio líquido, dando a ele uma expressão ainda mais intimidadora. Era o tipo de cara que faria você atravessar a rua imediatamente para evitar encontrá-lo na calçada oposta.

— Desculpa? — disse ela.

— Poderia ter me derrubado, sua tonta — disse o garoto — Puta merda, viu. Pedir desculpa não vai resolver isso.

— Ei, não precisa ser rude — ela disse de volta — Eu não vi você!

— Que cara mala — murmurou Ethan.

— Se tivesse visto não teria esbarrado em mim — ele estressou-se — Quer saber? Foda-se, não vou perder meu tempo com dois caipiras, tenho mais o que fazer.

Sem pestanejar ele apertou o passo e logo, caminhando na direção oposta à dos dois. Lyra franziu o rosto e se recompôs, aquele garoto era estranho, deveria ser mais um treinador de fora que havia vindo à New Bark para pegar um dos iniciais.

Sem se importar com os comentários rudes e sem-educação do ruivo, os amigos foram em direção para casa. Depois de conversar um pouco mais, os amigos chegaram à rua de Lyra, ao longe era possível ver uma frondosa árvore de Aspear Berry que estava coberta por flores brancas cuja fragrância podia ser sentida ali da esquina.

— Até mais, Ly — despediu-se Ethan — Vou ver como minha mãe encara o fato de que vou ficar de monitoria pelas próximas duas semanas.

— Tchau — ela acenou.

Caminhando rumo a sua casa, ela suspirou, ainda pensando no que a professora havia dito a ela. As palavras da srta. Summers ecoavam pela sua cabeça como um mantra, era difícil desvencilhar daquelas palavras quando elas afetavam-na tanto assim.

Chegando em casa, ela apenas removeu os sapatos e subiu para o seu quarto, deitando-se na cama e olhando para o teto questionando-se sobre o que faria com aquele caderno e a câmera durante a sua hipotética jornada que nem ainda havia começado. Céus, ela ainda nem havia falado com o pai ainda.

— Lyra, você está aí? — chamou uma voz do andar de baixo.

Só falar no Giratina que ele aparecia. A voz que a chamava era a de seu pai, ele não deveria estar em casa tão cedo, mas por alguma razão havia chegado antes de anoitecer. A garota, apesar de não querer sair da cama, levantou-se e foi até a cozinha, de onde a voz vinha.

Frank, o pai de Lyra, estava de avental e cozinhando algo no fogão. A avó de Lyra não estava ali, talvez tivesse ido à praça para jogar mahjong com algumas amigas ou ido ao centro comunitário. Sentado à mesa da cozinha estava um menino de quatorze anos e cabelos escuros, espetados, alguém que Lyra conhecia bem, Harper, o sobrinho de uma antiga amiga da família que almoçava ali.

— Oi Lily — disse Harper com seu Nintendo Switch em mãos, jogando, sem fixar os olhos nela.

— Oi Harp — disse de volta.

Harper era como um irmão caçula irritante para Lyra, eles haviam sido criados praticamente juntos desde a infância e embora ele morasse em Cherrygrove, o pai de Lyra volta e meia o trazia para passar um tempo ali e bem, havia circunstâncias em que ela passava um tempo na casa da tia de Harper, que era bibliotecária. Harper era uma das poucas companhias que Lyra possuia.

— E aí como foi a escola? — perguntou o pai, servindo uma tigela de tamago kake gohan à filha.

— Foi… foi legal — disse ela pegando os hashi e se sentando.


O cheiro do arroz misturado com ovo era bom, por sorte o pai não havia colocado gergelim na tigela dela, já que ela detestava, mas havia um pouco de shoyu manchando o branco do arroz, flocos de escama de Magikarp e cebolinha e alho poró picadinhos, além de uma grande gema de ovo ao centro. Ela saboreou a refeição, o pai que não era um dos melhores cozinheiros do mundo, ao menos sabia fazer algo simples como aquilo, embora fosse mais um prato de café da manhã, mas ela não ligava. Tamago kake gohan era bom em qualquer hora do dia.

— Só legal?

— Bem — ela coçou a nuca e tateou o bolso, a permissão para sair em jornada ainda estava no bolso do cardigã, amassado — O senhor poderia… Hã…

— Poderia o quê? — ele virou, sentando-se à mesa, pegando os hashi estourando a gema do ovo sobre o arroz.

— Dá pra ouvir som de papel amassando no seu bolso, Ly — disse Harper, ainda jogando, sem tocar no seu prato — Ela trouxe um papel da escola.

Ela suspirou, Harper sabia como ser um mala sem alça, como todo irmão mais novo era. Ainda bem que eles não possuíam nenhuma relação sanguínea, pois ela não suportaria conviver com ele vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana sob o mesmo teto sem querer esganá-lo.

— Um papel, é? — disse ele — Não é uma advertência da escola, né? Não se meteu em encrenca, foi?

O rosto da menina enrubesceu, seus olhos arregalaram.

— N-não, é que…

Antes que pudesse falar, a campainha havia tocado, interrompendo Lyra.

— Enfim, ela chegou — disse o pai se levantando da mesa — Depois você me mostra esse papel, quero apresentar alguém a vocês dois.

Ele foi em direção à porta, passando pela sala de estar para abrir a porta. Segundos depois o pai retornou à cozinha, passos a mais podiam ser ouvidos, leves contra o piso de madeira. Passos de mulher, Lyra deduziu. Quando o pai chegou à cozinha, Harper abaixou o seu Switch e Lyra virou-se e largou os hashi por cima da tigela de arroz, seus olhos não podiam acreditar no que ela via na frente dela.

— Crianças, essa é a Paula — disse Frank.

— Srta. Summers?! — Lyra disse, incrédula, sua professora de literatura estava ali na cozinha, ela quase sentiu o tamago kake gohan voltar goela acima.

— Oi, Lyra — ela acenou levemente para a garota, que não podia deixar de ficar boquiaberta com o que via à sua frente.


{ 4 Comentários... leia-os abaixo ou comente }

  1. Lyra fanfiqueira para sempre em nossos corações.

    Estou gostando muito deste recomeço, vamos ver o que vem mais ai!

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    1. Nós fanfiqueiros também merecemos representação, okay?

      Que bom que está gostando muito deste recomeço, também gosto muito que comente, traga mais comentários, Shii!

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  2. Mais algumas introduções vão acontecendo, e com mais rostos familiares. Olha, fiquei surpreso com algumas alterações nas relações entre personagens que você fez aqui, comparado com a versão anterior de NPJ.

    Pra falar a verdade bateu uma bad ao saber que agora o PJ e o Aleks não se bicam, a amizade deles era bem legal na versão antiga. Mas por outro lado, eu estou curioso pra saber o que foi que aconteceu pra eles terem brigado. E aqui o Aleks já é hypado! Me parece que o talento pra coordenação dele continua intacto kkkkkkk

    Ethan é TDAH! Bem-vindo ao clube. E como eu nunca tinha pensado nessa hipótese? Ele tem essa merda carimbada na testa! Não tem como não associar. Também curti a amizade dele e da Lyra, parece que as tradicionais zoações entre os dois ainda existem, mas não são tão provocativas, são algo mais harmonioso kkkkk Uma pena que o Ethan vai precisar ficar pra monitoria, mas entendo que esse foi seu artifício pra fazer ele sair depois e não acabar ficando no grupo da Lyra, né? Eu realmente ainda não sei como você consegue trabalhar com tantos personagens ao mesmo tempo e todos eles serem tão bons e tão cuidadosamente trabalhados. Isso é admirável, cara.

    Gostei também de ver que você trouxe uma quebra daquele padrão de todo mundo querer ser treinador foda e ganhar a Liga, ou top coordenador, etc e tal. O Ren comentou que quer ser músico ainda. Foi um comentário tão sutil e natural, quase bobo, ali no meio do diálogo e aparentemente sem pretensão alguma, e mesmo assim ler aquilo explodiu minha cabeça! É o Mundo Pokémon, mas ainda é o mundo! Nem todo jovem precisa querer ser treinador, e tá tudo bem com isso. O Ren vai seguir jornada, pode até querer participar de alguma competição. Mas ele quer ser músico! Da mesma forma, quando vi que a professora da Lyra a encorajou a documentar sua jornada em forma de diário, eu logo vi que havia por trás a intenção de arrancar pra fora aquela escritora suprimida pelo constrangimento que a garota sente. Eu não me surpreenderia nada se no fim da jornada a Lyra tacasse o foda-se e decidisse ser uma escritora. E eu acharia incrível! Ren com gosto pela música, Lyra com gosto pela escrita. Da mesma forma que eu elogiei a Juliana da Shii por também ter essa afinidade com a música. Esses pequenos traços que aproximam mais esses personagens da realidade. Muitas vezes começam como características bobas, mas que podem eclodir a qualquer momento e se tornar uma marca que os torne inesquecíveis nesse mar de personagens semelhantes de fics de jornadas. Vamos ver o que vai ser a escolha deles. Sinto que não vamos ter apenas uma jornada aqui kkkkkkk

    Que capítulo incrível! E seguimos para o próximo, porque hoje é dia de maratona!

    Até! õ/

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    1. Um primeiro capítulo, mas rostos já familiares, muito bom poder revisitá-los, não acha?

      É, acho que isso surpreendeu todo mundo, tipo, eles eram os melhores dos amigos na versão anterior e agora se odeiam igual cão e gato, mas foi uma decisão a qual não me arrependi já que me dá a chance de desenvolver melhor alguns personagens e suas interações ao longo da história, como PJ e Ren que acabaram casando as personalidades por terem estéticas muito próximas, gostos e assim vai. Acho que te surpreendi com isso, não é?

      Nem sei se você se lembra do Ren, mas na versão anterior ele era aquela paixão do Aleks de escola que volta e meia eu mencionava e só deu as caras nos 45 do segundo tempo em Goldenrod. Quis trazer ele mais cedo e quis que ele e PJ fossem amigos logo de cara e ainda quis colocar na mesa toda a coisa de que nem todos querem ser um treinador, coordenador, sei-lá-o-quê logo de cara, uma vez que nem todos temos sonhos ou metas estabelecidas e bem, os personagens acima de tudo são adolescentes, não dá para esperar que adolescentes saibam de cara o que querem da vida quando o amanhã é incerto. Então pontos para o Ren por isso.

      Lyra, ah, Lyra, eu gostei muito como fiz essa reintrodução dela BEM diferente do que era originalmente, aqui temos uma garota que gosta de podcasts, já tem um ídolo (ou mais de um) o qual aprecia, ela é acima de tudo uma adolescente que também está incerta sobre o que quer, sobre contar seus desejos e aspirações para seu pai. A amizade entre ela e Ethan é algo que quis preservar, afinal como não mostrar a amizade deles logo de cara? Eles são a melhor amizade que temos aqui, mas infelizmente Ethan vai ter que ficar de escanteio e andar com os personagens secundários, desculpa aí Ethan, mas tomadas precisam ser decididas, digo, decisões precisam ser tomadas e com isso, eu preciso colocar os holofotes de volta na Lyra que já tem um apreço pela escrita (e que como nós é bem fanfiqueira, haha) e todo o exercício de ela registrar a jornada dela em um diário o que já quebra do que era na primeira temporada que era apenas um livro que ao longo da história foi perdendo o propósito, mas que aqui ressignifiquei para algo que pode acabar dando uma luz melhor e um propósito maior. Gostei disso de você dizer que tanto Lyra quando Ren já tem algo pré-definido como escritora e músico, respectivamente, mas talvez eu te surpreenda mais e mais com o que pode vir.

      Okay, vamos ao seu próximo comentário pq vc ainda está a todo gás.

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