sexta-feira, julho 18, 2025



Lyra

Cidade de Violet, Johto

Domingo, 8 de maio


Lyra não conseguiu resistir a tirar uma foto do ginásio de Violet. A construção era ampla e de madeira, rodeada por árvores altas, onde diferentes Pokémon pássaros repousavam. Logo mais atrás, era possível ver estruturas mais modernas, contrastando com o prédio tradicional de telhados violetas.

— Você está nervosa? — perguntou Luca, que segurava o ovo em seus braços enquanto caminhavam em direção ao ginásio.

Sim, ela estava, mas não queria demonstrar isso para os amigos, ainda mais sabendo quem havia convidado para assistir à sua batalha de ginásio. Lyra não podia se dar ao luxo de ficar nervosa. Tinha que ganhar aquela batalha e evitar passar vergonha na frente dos amigos. Havia treinado tanto, e agora tinha que colocar tudo em prática.

— Você vai conseguir, Lily — encorajou Ren, com um sorriso. — Vimos seus treinos, não tem como você perder. Você vai ganhar!

Ganhar, ganhar! — grasnou a Murkrow de Ren, que ele havia batizado como Morgaine, imitando a voz do treinador. — Você vai ganhar!

— Miau! — miou seu Meowth, que preferia ficar fora da Pokébola. O gato parecia confiante quanto à treinadora.

— Vocês são os melhores — ela sorriu.

Os quatro adolescentes e seus Pokémon seguiram até a entrada do ginásio, onde parecia já haver alguém esperando por eles: um rapaz loiro, de olhos violeta vibrantes, com um Aipom no ombro. Os olhos de Lyra se arregalaram ao vê-lo ali; ele realmente tinha vindo assistir à sua batalha. Aleks havia cumprido a promessa.

— Ah, ele está aqui — Pierce revirou os olhos.

— Oi para você também, aminimigo — acenou Aleksey. — Olá, galera! Ainda bem que eu estava livre hoje. Fiquei tão ansioso para ver essa batalha que nem sabia o que vestir. Ha-ha!

Aleks realmente não parecia estar vestido para assistir a uma batalha de ginásio. Seus cabelos loiros estavam penteados para trás, com óculos escuros de lentes roxas repousando no topo. Ele usava uma camisa de botões com a gola levantada e parte de cima desabotoada, mostrando o colarinho e as clavículas, onde um colar de prata repousava. Aleks também usava bermudas jeans brancas e alpargatas da mesma cor. Parecia mais um modelo pronto para a passarela do que alguém que estava ali para ver uma batalha.

— Ah, até que enfim a desafiante chegou — outra voz masculina falou.

A voz vinha de um rapaz em seus dezessete anos. Seus cabelos azuis caíam em uma franja sobre um dos olhos. Ele vestia um haori azul sobre um kimono de tonalidade mais escura. De braços cruzados e olhar penetrante, fazia Lyra se sentir intimidada. Ele daria uma ótima foto para seu scrapbook.

— É seu primeiro desafio de ginásio, não é? — perguntou o rapaz de cabelos azuis, e Lyra apenas assentiu. — Eu sou Falkner, líder deste ginásio, e minha especialidade são os Pokémon voadores, especialmente pássaros.

— Por que pássaros? — perguntou Luca, ainda segurando o ovo.

— Por que não? — devolveu Falkner. — Os seres humanos sempre aspiraram ao céu e ao voo. Afinal, somos criaturas presas à terra, certo?

Ninguém falou nada.

— São os pássaros que nos ensinaram que nem mesmo os céus são o limite — continuou Falkner, com um tom onírico, como se quisesse provar algo para alguém que não estava ali. — Se não fosse por eles, como saberíamos o que é voar? É por isso que eu me especializo neste tipo de Pokémon. E você, Lyra, que vento sopra para você?

— Eu não sei.

— Então prepare-se e venha para o campo de batalha — disse o líder, ajustando seu haori. — Estarei te esperando lá.

Lyra assentiu, emudecida. Seus amigos e Aleks olharam para ela, também calados, até que Aleks colocou uma mão em seu ombro, fazendo o rosto de Lyra corar instantaneamente.

— Você consegue, Lyra — disse o coordenador, tentando incentivá-la. — É agora ou nunca!

— Isso mesmo, Lily, é agora ou nunca — falou Ren, tocando seu outro ombro. — Mostra para esse cérebro de passarinho a que você veio. Mostra quem você é!

— Certo! — ela cerrou os punhos. — Vamos lá!

Ela se dirigiu à mesma porta pela qual Falkner havia entrado, enquanto os meninos caminharam para as arquibancadas, acenando para ela antes de ela adentrar. O caminho até o campo de batalha passava por um pequeno vestiário, dividido por gênero. Talvez fosse para que os desafiantes pudessem parar um pouco, se preparar psicologicamente e bolar estratégias antes de mandar seus Pokémon ao campo. Mas ela não quis parar ali, pois isso só a deixaria mais nervosa.

— Nós nos preparamos para isso, pessoal — a menina pegou as Pokébolas no bolso de seu macacão. — É hora de darmos nosso melhor!

Em passos nervosos, quase bambos, ela foi até a arena, um espaço a céu aberto rodeado por duas arquibancadas, onde diversos pássaros se aninhavam, observando tudo. Sentados próximos à amurada, estavam seus companheiros de jornada e Aleks, torcendo por ela. Luca até pegou a polaroid de Lyra para tirar fotos durante a batalha, já que ela não poderia usar a câmera e batalhar ao mesmo tempo.

Do outro lado do campo, Falkner a esperava, e, logo acima dele, num refletor, estava empoleirado um majestoso Pidgeot. Assim como seu treinador, o Pidgeot observava tudo com olhos rapinos e penetrantes.

— A batalha será de três contra três — anunciou o juiz, segurando uma bandeira azul e apontando para Lyra. — Apenas a desafiante – Lyra Winterfeldt, da Cidade de New Bark – terá direito a substituições. Caso vença, receberá a Insígnia Zéfiro. Em caso de derrota ou desistência, terá o direito de re-desafiar o ginásio dentro do período de 180 dias, ou seja, seis meses.

Lyra engoliu em seco. Eram regras bem específicas. Por que exatamente 180 dias? Já houve alguém que sofrera uma derrota tão feia a ponto de precisar de seis meses para se recompor? Ela não queria ser a primeira. Tinha que ganhar. Aquela insígnia a classificaria para a Liga Índigo, o primeiro degrau rumo à vitória e à Elite dos Quatro — o sonho de todo treinador.

— Pokémon ao campo! — o juiz levantou a bandeira. — O primeiro movimento é da desafiante!

— Hoothoot aos céus!

— Totodile, é sua vez!

Da Pokébola de Falkner, saiu uma corujinha redonda e roliça. Seu corpinho era marrom, e suas asinhas, diminutas. Lyra não conseguia entender como aquele pássaro voava, mas não se preocupou em questionar.


— Comece com Leer!

Os olhos de Totodile brilharam ferozes, e isso fez Hoothoot, que estava no campo de visão do crocodilinho, recuar de medo, baixando suas defesas.

— Hoothoot, ataque com Echoed Voice!

A coruja arrulhou, e de seu bico saíram ondas de som visíveis no ar, indo em direção a Totodile, que não conseguiu desviar e apenas tapou os ouvidos para não sofrer danos à audição.

— Agora, Confusion!

— Water Gun!

Os olhos vermelhos da coruja brilharam, fazendo Totodile levitar no ar, mas isso não o impediu de disparar um jato de água pressurizado na cara da ave. No entanto, o controle psíquico desordenava os jatos, fazendo a água perder sua forma. Gotículas flutuavam no ar, presas em bolhas de energia psíquica, como nos vídeos de astronautas tentando beber água no espaço, cada bolha desafiando a gravidade.

O Confusion de Hoothoot arremessou Totodile longe, fazendo-o perder o equilíbrio. Lyra precisava contra-atacar, não podia deixar que Falkner ganhasse vantagem. Ela olhou para o campo, agora todo molhado, e começou a bolar um plano.

— Totodile, vá para a esquerda, deslize pelo chão e pegue impulso! — ordenou. — Ataque Hoothoot com Scratch!

Totodile obedeceu. O chão da arena, enlameado, era o terreno perfeito para ele deslizar e atacar o Hoothoot de Falkner. Mesmo voando, a coruja não poderia fugir para sempre do crocodiliano, que sempre encontrava um jeito de saltar e arranhar seu oponente. Hoothoot, por sua vez, apenas conseguia revidar com Peck, sob as ordens de Falkner.

Arranhões e bicadas prosseguiram nos turnos seguintes, com disparos de água e ondas ecoantes se chocando no campo de lama. Era evidente o quanto o Hoothoot de Falkner estava fatigado. Suas defesas, já baixas por causa do Leer, não aguentavam mais os golpes, e a coruja já havia sofrido danos consideráveis. No entanto, ainda conseguia voar. Lyra precisava derrubar o pássaro o quanto antes, mas como?

Uma memória veio à sua mente. Lembrou-se de um dia chuvoso, quando ela e a avó correram para recolher as roupas do varal. Naquele dia, o Natu da avó se encharcou completamente e não conseguiu voar até que suas penas secassem. Era por isso que aves não voavam em dias chuvosos. Ela precisava reproduzir isso na batalha.

— Totodile, dispare um Water Gun para cima!

Obedecendo, Totodile disparou um jato forte de água para o alto. Antes que Falkner pudesse reagir, as gotas começaram a cair, mas foram paradas pelo Confusion de Hoothoot. Ainda assim, Totodile continuava disparando. Alguma hora o golpe psíquico da coruja teria que parar. Lyra deu um risinho, seu plano estava funcionando.

As gotas da "chuva" criada por Totodile não poderiam ser seguradas para sempre. Hoothoot, em um deslize, perdeu o controle do Confusion, e a água caiu sobre ele, derrubando-o no chão enlameado. Isso deu a Lyra a chance de ordenar outro Water Gun, que mandou a coruja longe, finalmente debilitando-a.

— Hoothoot está fora de combate! — anunciou o juiz, levantando a bandeira vermelha para Falkner. — A vitória é de Totodile. O próximo movimento é do líder de ginásio.

Tsk, uma tática genial — murmurou Falkner, retornando seu Hoothoot à Pokébola. — Um desafiante usou algo parecido outro dia, molhando meus pássaros e depois congelando-os. Mas você conseguiu cansar meu Hoothoot e derrubá-lo. No entanto, não será tão fácil assim, Lyra.

— Estou preparada para seus pássaros — disse ela, com confiança.

— Vai lá, Lyra! — gritou Ren.

— Você vai conseguir!

— Bota os passarinhos desse cara de volta na gaiola!

— Seus amigos são divertidos — comentou Falkner. — Mas se você acha que vai derrubar todos os meus pássaros, é melhor aprender que nem toda ave voa. Doduo, vai!

Falkner lançou outra Pokébola, e dela saiu um Pokémon de corpo circular, mas, ao contrário de Hoothoot, ele tinha pernas longas e grossas, com garras afiadas e um pescoço comprido. Na verdade, pescoços. A ave tinha duas cabeças redondas com bicos longos. Lyra só havia visto aquele Pokémon em documentários sobre a vida selvagem. Era o tipo de Pokémon que se esperaria ver numa Zona Safári, não numa batalha de ginásio.


— Doduo, comece com Quick Attack, seguido de Peck!

A ave ratita, com suas pernas fortes, correu em direção a Totodile, que não conseguiu escapar. Nem o lamaçal no chão da arena foi capaz de desacelerar Doduo, que investiu com força e desferiu bicadas consecutivas com suas duas cabeças, causando dano significativo.

Scratch, duas vezes!

Totodile arranhou a cabeça esquerda do Doduo, depois a outra, mas parecia em vão. Ele estava encurralado. Lyra precisava recuar. Pegou a Pokébola e retornou Totodile, lançando Dunsparce em campo. A serpente chacoalhou a cauda e lambeu o ar com sua língua bifurcada.

— Dunsparce, use Mud-Slap!

Dunsparce girou a cauda em formato de broca e disparou tiros de lama no rosto de uma das cabeças de Doduo, reduzindo sua visão pela metade e diminuindo sua precisão. Geralmente, golpes do tipo terrestre não funcionavam contra Pokémon voadores, mas Doduo, apesar de ser do tipo Voador, não podia voar. Era uma situação paradoxal e até engraçada.

Falkner coçou o queixo e sorriu para Lyra, talvez apreciando a estratégia dela. No entanto, mesmo com a visão prejudicada em uma das cabeças, Doduo conseguiu desferir outro ataque contra Dunsparce.

O lamaçal não impedia Doduo de usar Quick Attack seguido de Peck, enquanto Dunsparce contra-atacava com Flail, mas não era o suficiente. Lyra precisava encontrar uma forma de parar o pássaro e assegurar a vitória, caso contrário, mesmo semi-incapacitado, Doduo poderia derrotar seu Pokémon.

— Dunsparce, use Glare! — gritou Lyra.

Ela se lembrou da sensação de estar paralisada pelo olhar penetrante de Dudunsparce na Caverna Escura, como se os impulsos elétricos do corpo simplesmente parassem de funcionar. Ela precisava replicar isso. Se conseguisse paralisar Doduo, ele estaria a um passo da derrota.

Os olhos cerrados de Dunsparce brilharam, e uma onda de choque travou Doduo no lugar antes que ele pudesse executar outro Quick Attack. Paralisado, ele estava vulnerável, dando a Lyra a segurança de tentar um golpe que nunca havia treinado completamente, por ser arriscado demais.

Rollout!

Dunsparce mordeu a própria cauda e começou a rolar em direção a Doduo. Incapaz de se mover, o pássaro estava encurralado, sem como desviar. Como uma bola de boliche, ou melhor, uma rocha descendo uma colina, Dunsparce avançava com velocidade, atingindo Doduo com um golpe super-efetivo, mas não o derrotando de imediato.

Paralisado, Doduo lutava para se mover, mas estava preso. A próxima rodada de Rollout foi ainda mais poderosa. Um sorriso de satisfação surgiu nos lábios de Lyra, mas Falkner também sorriu de volta, como se estivesse esperando por isso. Antes que ela pudesse processar o que ele planejava, Dunsparce já havia derrubado Doduo na segunda investida, incapacitando-o.

— Doduo está impossibilitado de continuar! — anunciou o juiz, levantando a bandeira vermelha. — Lyra vence a segunda rodada. Líder Falkner, envie seu próximo e último Pokémon.

— Pidgeotto é a sua vez de voar!

Quando Falkner estava para pegar uma de suas Pokébolas, um vulto emplumado colorido desceu em um rasante rumo a arena, levantando poeira e varrendo a lama do campo de batalha para os cantos. Plumas dançaram no ar, rodopiante na nuvem de poeira. Assim que a poeira baixou, Lyra arregalou os olhos e puxou sua Pokédex:


Pidgeot. O Pokémon Pássaro. Tipos Normal e Voador. Seus músculos peitorais desenvolvidos são fortes o suficiente para gerar uma poderosa ventania com o mero bater de suas asas. Batendo suas asas, este Pokémon pode dobrar até as árvores mais altas.


O Pidgeot que estava no topo do refletor observando toda a batalha até então havia assumido o campo de batalha mesmo antes de Falkner convocar seu último Pokémon, a pré-evolução da dantesca ave de rapina a sua frente. Lyra sentiu seu corpo paralisar diante daquela besta aviária, não tinha como ela enfrentar um Pokémon daqueles.

— Pidgeot, não — grita Falkner. — Ela é só uma principiante!

O líder de ginásio puxa uma Ultra Ball de seu haori e tentou retornar o Pokémon ali, mas a ave desviava e desobedecia veemente seu treinador como se quisesse batalhar contra a menina ali.

— Mil desculpas, é que geralmente eu uso Pidgeot como meu ás nas batalhas de sétima e oitava insígnia — fala o especialista em pássaros. — Ele nunca vem para as batalhas de primeiras insígnias, geralmente apenas fica empoleirado e observando. Retorne, Pidgeot!

Apontando a Pokébola novamente para a ave, mas ela recusava a retornar. Parecia inútil, até o juiz estava surpreso com a rebeldia do Pokémon.

— Falkner senhor, acho que deveríamos deixar Pidgeot batalhar — sugere o juiz.

— Contra Pokémon de nível baixo como os de Lyra? — ele indaga em retorno. — Vai ser uma luta injusta. Não posso permitir!

— Por que não equilibramos o nível então? — Lyra tenta sugerir algo. — Eu ainda tenho três Pokémon.

— Está sugerindo uma batalha de três contra um, senhorita desafiante? — o juiz olhou para ela. — Mas o duelo foi oficializado como uma batalha de um contra um, não podemos mudar as regras em meio à uma batalha. Teremos que adi-

— NÃO! — ralhou Falkner e Lyra em uníssono.

— Davey, sei que está fazendo seu trabalho como juiz bem, mas se tem uma coisa que eu aprendi com meu pai é que quando um pássaro quer voar não podemos engaiolá-lo — diz Falkner olhando para seu Pidgeot. — Seu jeito de batalhar chamou a atenção do meu Pidgeot que, sinceramente, não vê batalhas decentes há meses já que dificilmente Violet é um dos últimos ginásios. Atenderei o pedido de meu Pokémon, mas para isso eu terei que burlar as regras.

— Senhor, isso quer dizer que…

— Os três Pokémon de Lyra contra o meu único — fala o líder. — Eu permitirei. Depois eu me arrumo com a papelada e toda a parafernália do Planalto Índigo. Os três Pokémon dela somados devem ser do mesmo nível de força que meu Pidgeot, então tudo está equilibrado. Mande-os ao campo, Lyra!

A menina acena com a cabeça e pega suas duas outras Pokébolas e manda ao campo Totodile e Meowth para lutar contra Pidgeot. Ainda incerto o juiz agitou as bandeiras e a batalha se deu início novamente.

— Dunsparce comece com Glare e Totodile intercepte-o com Scratch seguidos! — exclamou, dando ordens aos seus Pokémon. — Meowth salte no ar e use Fake Out!

E assim os três Pokémon fizeram. Os olhos cerrados de Dunsparce enviaram uma onda de choque no ar que causou paralisia contra o Pidgeot enquanto Totodile junto do gato saltavam no ar, com o crocodilinho desferindo uma série de arranhões para distrair o pássaro de rapina por tempo o suficiente dando abertura para Meowth saltar em sua face e fazer a ave recuar antes de provocar uma onda de ar, dando dano significativo.

— Paralisia e recuo, uau — Falkner deu um sorriso soslaio. — Você está armada até os dentes, hã, Lyra.

— Uma garota tem que fazer o que precisa fazer por uma insígnia — ela dá de ombros, justificando-se. — Dunsparce use Rollout e Totodile vá com Water Gun para aumentar a lama no campo e suba no Rollout. Meowth se equilibre em cima de Dunsparce junto com Totodile, okay?

— Miau! — o gato miou assertivo.

Assim que Dunsparce começou a rolar pelo lamaçal criado por Totodile, os dois Pokémon restantes da menina montaram em cima da serpente que girava rápido como um pneu de carro na direção de Pidgeot que começava a alçar voo, batendo suas grandes asas, mas parecia impossibilitado por conta dos pés presos na lama. O Rollout atingiu em cheio o Pidgeot em cheio e continuou a rodar pelo campo enlameado, sua velocidade aumentando.

— Por Ho-Oh e suas plumas! — Falkner ficou boquiaberto. — Como… Ninguém nunca conseguiu prender meus pássaros ao chão assim. Você usou a imunidade do meu tipo para te dar vantagem! Você é ardilosa, Lyra Winterfeldt!

— Hã… Obrigado? 

— Não agradeça ainda — Falkner tira a franja dos olhos e sorri. — Você criou o lamaçal, espero que goste de afundar-se nele! Pidgeot use Gust combinado de Sand-Attack!

Com as asas abertas o grande pássaro começou a criar uma ventania e com ela levantou partículas de pó da lama, dificultando a precisão dos ataques dos Pokémon de Lyra, mas aquilo não impediu o avanço do Rollout de Dunsparce que a cada turno só aumentava o dano. Totodile e Meowth contra-atacavam com arranhões e mordidas, tudo para tirar o máximo de dano possível de Pidgeot enquanto lutavam contra a poeira na face. Se continuassem assim logo venceriam, isso fez Lyra sorrir.

— Pidgeot descanse suas penas, use Roost!

A ave abaixou as asas, parando seu vendaval poeirento em meio a batalha. Seu corpo brilhou e logo a sua energia se restaurou, como se todo dano sofrido não tivesse acontecido. Lyra estava incrédula, será que ele sempre tivera esse truque na manga?

Falkner, em escárnio, olhou para Lyra e cruzou seus braços, sua pose estava relaxada e confiante, como se estivesse certo de sua vitória contra a garota. Lyra iria tirar o sorrisinho da cara do líder de ginásio.

— Dunsparce continue com o Rollout! — Lyra encoraja a serpente tsuchinoko — Totodile assim que Dunsparce se aproximar de Pidgeot dê uma forte mordida em suas asas com Bite e Meowth desfira Pay Day!

Os Pokémon assentiram. Equilibrando-se como artistas circenses, o gato e crocodilo foram ao encontro do Pidgeot conforme Dunsparce rolava ainda mais rápido batendo em cheio contra o pássaro quase tirando-o da lama. Com as presas a mostra, o crocodilo abocanhou uma das asas do pássaro que recuou e tentou-se livrar do réptil. Já distraido, Meowth aproveitou a oportunidade e de sua moeda koban surgiu um brilho seguido do tilintar de uma torrente de moedas que atingia em cheio o oponente.

Roost!

— Não! — interveio Lyra. — Não deixem ele recuperar os pontos de saúde! Dunsparce atinja em cheio de novo! Totodile solte a asa do Pidgeot e envolva Dunsparce com um véu de água com seu Water Gun e Meowth, Pay Day de novo!

O rolo compressor serpentino continuou rolando veloz na direção do oponente aviário. Da boca de Totodile uma torrente de água foi disparada, envolvendo Dunsparce em uma aura hidro que fora complementada pelas moedas do Pay Day de Meowth, tornando aquilo em um brilho azul e dourado fabuloso como um cometa na direção do Pidgeot.

Hurricane!

Pidgeot vendo que não poderia restaurar suas energias com o Roost começou a bater suas asas com mais força criando um funil de vento que levantava a lama do chão, desprendendo-a e arrancando tanto Meowth quando Totodile, mandando-os para os ares enquanto Dunsparce, girando como uma cometa hidro-dourado surfava o furacão pronta para atingir em cheio o pássaro.

A queda conseguiu deitar Pidgeot no chão, prensando-o sobre o corpo da cobra tsuchinoko que sibilava, suas escamas e asas atrofiadas molhadas. Moedas koban cintilavam em meio a lama que agora rachava graças as ações do furacão de Pidgeot.

— Cinco… — começou a contar o juiz. — Quatro… Três… Dois… Um… Pidgeot está impossibilitado de batalhar. A vitória é de Lyra Winterfeldt da Cidade de New Bark!

Lyra, em nervosismo riu. Ela não conseguia acreditar. Ela havia vencido a sua primeira batalha oficial da liga. Ela havia derrotado o seu primeiro líder de ginásio. Era impressionante esse sentimento de vitória, ela sentia serotonina correr por seu corpo. Ela pulou eufórica e foi em direção aos seus Pokémon sem se importar se ela se sujaria de lama e barro, abraçando-os enquanto comemorava a vitória contra Falkner.

O líder de ginásio retornou seu derrotado Pidgeot para a Pokébola e em seguida aplaudiu a menina. O juiz veio logo atrás, surpreso pelo feito da garota de ter derrotado um Pokémon com o triplo ou quádruplo do nível de força de sua pequena equipe de Pokémon.

— Foi uma batalha muito divertida — elogiou Falkner. — Mesmo nós dois tendo quebrado as regras da Liga quando eu usei um Pokémon muito acima do seu nível contra você que não tinha nenhuma insígnia e você que usou três Pokémon contra um meu. Uau, é de se ficar surpreso que você chegue a Liga Índigo se continuar assim. Como venceu, merece isso, a prova de sua vitória: A Insígnia Zéfiro.

O juiz entregou à Lyra um estojo de metal com o interior almofadado com oito nichos. No primeiro estava um objeto metálico do tamanho de um botão de camisa, era prateado e lembrava um par de asas. Sua primeira insígnia de oito. Nem ela conseguia acreditar nisso.



— Zéfiro é um vento favorável — explicou o líder de ginásio. — Um vento oeste que traz a primavera, a estação dos novos começos. É isto que quero que leve consigo, um vento que vai te guiar e te renovar. É o ensinamento que passo para você como líder de ginásio.

— Obrigado — ela deu um largo sorriso pegando o estojo de insígnia e admirando-a.

— Se quiser a recomendação, há a cidade de Ecruteak a noroeste daqui e a cidade de Azalea ao sul — sugeriu Falkner. — O líder de Ecruteak é especialista em Fantasmas, o nome dele é Morty, mas ele… Bem, digamos que tem uma certa má reputação — o líder soltou um prolongado suspiro. — Mas se quiser ir rumo a sul, o ginásio de Azalea é mais recomendado para uma iniciante como você, ele é especializado em Insetos e o líder de lá é um dos meus melhores amigos no mundo todo, mas já digo, não subestime-o por conta da tipagem.

— Pode deixar — assentiu a menina.

— Você tem um PokéGear, Lyra? — pergunta o líder de ginásio.

— Tenho sim.

— Então eu posso te passar este TM — o líder puxou o seu celular do bolso e abriu algo nele, um arquivo em vídeo com o título Technical Machine no. 51 - Roost no que parecia ser o app da Liga Índigo. — Em seu perfil da liga você poderá acessar esse TM e ensinar a um de seus Pokémon o golpe Roost. Ele faz o Pokémon pousar por alguns instantes e recuperar o seu HP, mas se ele for um Pokémon do tipo Voador ele perderá a tipagem temporariamente por um turno, tornando-o vulnerável a golpes Terrestres.

— Entendi — ela acenou com a cabeça.

— Tenha uma boa jornada, Lyra — fala Falkner. — Te desejo o melhor e mais desafios, agora se não se importa eu tenho que começar a limpar esta arena antes que meu próximo desafiante chegue, ele também é de New Bark e, por Arceus, me perseguiu por toda Violet só para me desafiar hoje!

— Credo! — Lyra comentou e os dois riram a seguir.

— Adeus, talvez nos veremos na Liga — disse o líder. — Ou caso passe por Violet de novo.

O líder de ginásio então se afastou. Lyra suspirou e agarrou o estojo de insígnias próximo ao peito. Ela tinha que mostrar sua vitória para alguém. Ela viu os amigos saindo da arquibancada e apenas sinalizou para eles que iria para o vestiário rapidamente antes de encontrar com eles.


Lyra


Os cinco adolescentes decidiram comemorar a vitória de Lyra no Café Scratch. Parecia um lugar perfeito, especialmente porque Lyra amava que o local fosse cheio de Meowth. Seu próprio Meowth, no entanto, mantinha os outros felinos à distância, não permitindo que nenhum se aproximasse da sua treinadora.

Aleks tinha sugerido pagar a conta, mas Lyra recusou rapidamente. Só porque ele era um idol e tinha mais dinheiro que os outros, não significava que precisava arcar com tudo. No final, poderiam dividir entre todos. Lyra pediu uma fatia de torta de Razz Berry e uma soda com sorvete. Talvez fosse doce demais, mas era sua primeira vitória em uma batalha oficial, e ela merecia algo açucarado para celebrar.

— E depois você foi com a Dunsparce e blam! — Luca recontava os detalhes da batalha, animado. — Eu nunca tinha visto uma batalha de ginásio antes, e você fez parecer tão foda!

Lyra soltou uma gargalhada. Os amigos não paravam de elogiar o quanto ela havia sido incrível. Ela riu enquanto Luca continuava. Mesmo improvisando e tirando planos do nada, ela havia dado tudo de si. A ideia de molhar o Hoothoot para diminuir a mobilidade de voo e prender o Pidgeot na lama tinha sido um pouco de sorte e muita audácia, mas tinha funcionado!

— Ah, que nada, eu mal sabia o que fazer — riu Lyra, orgulhosa. — Mas foi bom vencer. Acho que já sei pra onde vamos depois.

— Ecruteak? — perguntou Pierce, animado. — É aqui pertinho. Podíamos pegar a estrada no fim de semana!

— Hum, tenho um pressentimento que se formos para Ecruteak agora vamos ter que dar uma volta maior depois. Azalea é ao sul e tem várias vilas no caminho. Podemos parar e treinar, ver mais do caminho.

— Eu também vou para Azalea daqui a umas semanas, por causa do concurso — Aleks acrescentou. — Seria legal encontrar vocês lá.

— Você não vai viajar com a gente? — perguntou Ren, e o rosto ficou levemente ruborizado.

— Nah, meu manager quer que eu vá logo e comece o treinamento — deu de ombros, lançando um olhar para Pierce, que revirou os olhos. — Mas adorei ver a sua batalha, Lyra. Me deu umas ideias para a minha apresentação.

— Sério?

— Sim — sorriu ele. — Mas agora eu tenho que ir. Combinei de treinar com a Emmeline. Meu manager está tentando nos colocar para trabalharmos juntos, então vamos fazer uma sessão agora.

— Tchau, Aleks! — Luca acenou com entusiasmo.

Aleks saiu, deixando algumas notas de ienes na mesa para cobrir sua parte. Os quatro restantes ficaram em silêncio por um momento, até que Lyra pegou o PokéGear, animada.

— Para quem está ligando? — perguntou Pierce.

— Para alguém da família. Fomos criados praticamente como irmãos, e ele deve estar doido para saber como foi!

A videochamada conectou, e logo apareceu na tela um garoto de quatorze anos, cabelos negros espetados e olhos de avelã. Harper usava o uniforme escolar — blazer branco-marfim e gravata preta — e parecia entediado.

— Oi, Lyra. Qual é a boa?

— Não vai adivinhar! — disse ela, cheia de empolgação, mostrando a ele sua primeira insígnia, guardada com orgulho no estojo. Harper arregalou os olhos de surpresa.

— Puta que pariu! — exclamou ele.

— Impressionante, né? — Lyra riu. — Lutei com um Pidgeot!

Como é que é?!

— Você tinha que ver — Pierce interveio.

— Ela usou os três Pokémon dela contra o Pidgeot do líder! — Luca contou, animado.

— E não perdi ninguém! — Lyra completou com orgulho.

— Uau, Lily! — disse Harper, estupefato. — Isso foi incrível! Vou contar pro seu pai!

— Espera, você tá na casa do papai? — perguntou ela, surpresa.

— Tia Mimi está viajando — suspirou Harper. — Ela foi buscar artefatos históricos pro Museu Cultural de Cherrygrove. Ela vai ficar fora por alguns meses, então estou aqui com seu pai e sua obaa-chan. Eles são ótimos, até que está legal.

— Nem sabia que a tia ia viajar — comentou Lyra. — Mas é bom saber que você está cuidando deles.

Harper olhou para os amigos de Lyra na tela, curioso.

— E esses são seus novos amigos? Além do Ethan e da Riza?

Yo! Eu sou o Luca. Treze anos. Tô por aqui esperando meu Pokémon nascer — disse, mostrando o ovo na câmera.

— Pierce, tenho quatorze, quase quinze — apresentou-se o mais alto, olhando diretamente nos olhos castanho-avelãs de Harper. — Amanhã eu vou desafiar a Fábrica de Batalha. Quero conquistar a Batalha da Fronteira em um ano!

— Uau, já ouvi falar muito da Batalha da Fronteira. É famosa no norte em Sinnoh! — comentou Harper, impressionado. — E o de cabelo fúcsia aí atrás… Acho que conheço você. Não é o filho da Sra. Caniedo do conselho municipal?

Ren ficou boquiaberto. Lyra sabia que a mãe de Ren tinha uma boa posição social, mas conselheira municipal? Por Ho-Oh, ele estava em um patamar bem diferente do deles. Ainda assim, ele não parecia se importar com isso.

— Lembro de ter te visto na Ukonzakura Junior High ano passado — Harper comentou. — Você era praticamente meu senpai. Uau!

Ren coçou o pescoço, envergonhado.

— Acho que nos vimos antes mesmo. Sua tia é do Museu de Cultura, né? — Harper assentiu. — Minha mãe ajudou em algumas exposições lá. Te vi em festas beneficentes do museu.

— Gente rica é outro nível… — murmurou Pierce.

Os dois riram, e Lyra, sorrindo, olhou para Harper.

— Então, esses são meus amigos! Bom saber que pelo menos um deles você conhece. Facilita as coisas.

— Facilita sim! — Harper riu. — Essa semana eu tenho uma excursão de campo com a escola para Violet. Vamos estudar a Torre Brotinho e ficar numa estalagem perto do Centro Pokémon. Quem sabe a gente se vê? Quero ver o senpai Ren ao vivo e assistir à batalha do Pierce!

— Podemos nos encontrar sim — respondeu Lyra, sorridente.

— Fechado, então! — Harper acenou. — Tenho que ir agora, preciso terminar o dever antes do jantar. Vou contar tudo para o seu pai!

Harper desligou, deixando Lyra com um sorriso satisfeito. A aventura estava apenas começando, e ter amigos e família para compartilhar tornava cada vitória ainda mais doce. Talvez doce até demais.



Yamata Himiko
Hotel Devil’s Gold, Cidade de Goldenrod, Johto
Domingo, 8 de maio

Uma vez, houve um xogum. Uma linhagem de xoguns. Os descendentes de Yamata no Daija que governaram as terras e províncias de Johto, expulsando o Imperador e sua família para as florestas do Monte Silver, onde ficaram exilados por mais de trezentos anos quando provaram-se ser um estorvo quando uma crise caiu sob as terras de Johto. Diziam que foi o próprio Imperador quem causou a partida de Ho-Oh e Lugia. Por conta de sua vil natureza, os deuses haviam abandonado a humanidade, voando para os céus mais distantes e para os oceanos mais profundos, nunca mais sendo vistos nos últimos três séculos. Se não fosse pela intervenção do xogum e seu golpe de estado, Johto teria caído numa era das trevas.

Yamata Himiko tinha orgulho de sua herança. Ela era neta do último xogum, Yamata Kunimitsu, deposto e exilado durante as Guerras Fronteiriças Kanto-Johtonianas trinta anos atrás. Ela era a última esperança do extinto xogunato. A única que ainda podia reivindicar o Coração de Ouro e a Alma de Prata e usá-los para convocar Ho-Oh e Lugia, destronando a Família Imperial como seu antepassado fizera trezentos anos antes. E ela usaria o próprio sangue do velho imperador para alcançar seu propósito, devolvendo a glória do xogunato ao povo de Johto. Era seu direito, um destino que seria selado pela bênção da Asa Arco-Íris de Ho-Oh.

Na cobertura do Hotel Cassino Devil’s Gold, Himiko observava a cidade de Goldenrod abaixo, onde ninguém sabia o que a futura xogum fazia ali em segredo, observando-os por trás dos vidros grossos de seu hotel. Os seus afazeres do dia estavam nas mãos de Kishhou, uma de suas subordinadas que treinava o pequeno príncipe Minoru, enganando-o para que ele fizesse o que ela queria, enquanto ela, naquele instante, selava o próximo passo de seu plano impecável.

Do outro lado da mesa, sentado à sua espera, estava um homem alto de cabelos negros como nanquim, entremeados de mechas brancas como borralhos de uma lareira, que criavam um padrão exótico sobre sua pele pálida. Olhos castanho-avermelhados reluziam com uma frieza vampírica, um ar de predador controlado. A primeira impressão era a de um monstro disfarçado de homem, um vampiro de filme ocidental. A segunda era de um profissional perigoso que faria qualquer coisa… por um preço, claro.

— Mark O’Caine — disse Himiko. Sua voz carregava a autoridade calma de quem já sabia a resposta. — Você sabe por que eu te chamei aqui, não sabe?

— Sei, madame — respondeu ele, a voz rouca, prova de um vício desgastado. — Você quer seu deus, eu quero meu dinheiro. Ambos podemos sair satisfeitos, não é?

Ela sorriu, mas seus olhos permaneciam imóveis.

— Direto e franco. Todos os homens de Galar são assim?

— Não. — Mark deu um sorriso que oscilava entre a arrogância e o deboche. — Não sou seu típico gentleman, madame. Vim das periferias de Spikemuth, de onde as conveniências são luxos. Mas talvez não seja isso que você queira saber, não é? Gostaria de entender por que precisa dos serviços de Mark O’Caine.

Himiko observou o homem por um momento. Tinha se informado sobre ele. Mark era o tipo de pessoa que venderia a própria sombra por um bom preço, e, por sorte, esse traço lhe era útil.

— Disseram-me que você é alguém que não se importa com o tipo de trabalho, contanto que o preço esteja certo. — com um gesto calculado, jogou uma maleta pesada sobre a mesa e abriu-a, revelando pilhas de ienes perfeitamente empilhadas. — Quero que procure Ho-Oh para mim. Há rumores de seu avistamentos ao redor do Monte Tensei, na Serra Raizen, além das fronteiras norte. Confirme os rumores, traga alguma prova, e eu dobrarei o valor. Cem milhões de ienes, Mark, é apenas troco de pão para mim. Isso é só o início.

Mark lançou um olhar à maleta, as sobrancelhas arqueadas em uma expressão de prazer sinistro. Seu sorriso se alargou.

— A senhora é direta também, vejo. Farei com que meus homens estejam na Serra Raizen ainda hoje, confirmando as informações que deseja. — Ele reclinou-se, satisfeito, e continuou: — Mas antes, tenho um carregamento… mercadorias especiais que preciso armazenar, Pokémon que cacei nos últimos meses. Preciso de um lugar seguro e de compradores interessados. Pode lavar as minhas mãos assim como lavo as suas, madame xogum?

Ela soltou uma risada curta e fria.

— O cassino, em teoria, pertence a mim. Use-o como quiser. Pedirei que abram a minha menagerie e o aquário para que exponha as mercadorias. Pode até usar os túneis subterrâneos para movê-las, se preferir. O que você faz, Mark, e os seus… métodos… não me interessam.

Ele inclinou-se para a frente, espanejando uma partícula imaginária de seu terno prateado.

— Considere o negócio fechado, Madame Yamata. Pedirei que meus homens vão até as montanhas ainda hoje. — Seus olhos brilharam em um misto de ironia e admiração. — Pássaros de mesma plumagem, madame, voam juntos.

— Mentes parecidas pensam igual — retrucou ela, sem perder o olhar incisivo. — Se puder trazer uma prova concreta de que Ho-Oh ainda existe e que esses rumores são reais, eu aumento o pagamento que recebeu hoje.

— Pode contar com isso, madame. — Mark levantou-se e ajeitou o terno. — Mark O’Caine cumpre com suas promessas. Não há trabalho tão sujo que eu não possa fazer, nem pecado mais cruel que eu não possa cometer.

Ele se retirou, deixando Himiko só. Ela, contudo, não perdeu tempo. Levantou-se e caminhou em direção a sua secretária, uma mulher miúda de óculos fundo de garrafa, que segurava um SilphTab.

— Chame meus advogados e o escrivão-sênior do birô de registros de Goldenrod — ordenou Himiko, a voz afiada. — Também chame Daikoku. Transferirei algumas propriedades para o nome dele. Quando estiverem todos presentes, certifique-se de que suas mentes estejam limpas. Use os Pokémon psíquicos que te dei. Não pode haver provas.

A secretária hesitou, os olhos se estreitando em dúvida.

— Por que transferir as propriedades, madame?

Himiko ajustou o obi de seu kimono, o rosto impassível.

— Precaução. Preciso garantir que, se algo der errado, não haja nada que me ligue ao cassino. O xogunato exige essa glória de novo, Makoto. Não importa quantas mentes sejam moldadas no processo. E eu confio em você. — Os olhos de Himiko faiscaram. — Você nunca seria capaz de armar contra mim.

Makoto engoliu em seco e assentiu.

— Sim, senhora.

— Ótimo. E certifique-se de que, oficialmente, eu nunca estive no hotel. Apague todas as evidências.

Makoto assentiu de novo, enquanto Himiko pegava uma Pokébola. Uma vez fora, liberou um Yanmega, montando-o com a facilidade de quem praticava aquele ritual há anos. Pelo céu escuro, a libélula-ogro a ergueu e voou para longe, deixando Makoto com as instruções sombrias e a tarefa de apagar cada traço daquela reunião.

Johto logo saberia quem de fato merecia governá-la.


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