sexta-feira, março 29, 2024



Lyra

Centro Pokémon de Cherrygrove, Johto

Sexta-feira, 29 de abril


Tinha sido divertido treinar com seu Totodile no Parque Shidarezakura em Cherrygrove. Os meninos que ela havia conhecido haviam ajudado ela no básico de uma batalha Pokémon, como atacar entre turnos, entender vantagens e fraquezas de tipos e tudo que ela precisaria saber enquanto treinadora.

— Pretende sair em jornada, Lyra? — havia perguntado PJ, ou Pierce, qualquer um dos dois nomes estava bom.

Pierce era um garoto bonito e alto, acima de um metro e oitenta, ela achava. Ele tinha cabelos castanhos bastante escuros e longos que caíam em cachos lisos pelas costas e olhos da cor de chamas e um piercing removível no lábio. Ele tinha um jeito de vestir bem diferente, ele usava um moletom marrom com um capuz em um tom estranho de roxo por cima de uma camiseta preta com uma estampa de uma criatura serpentina vermelha, jeans com rasgos estilosos propositais em uma das coxas e dos joelhos e tênis converse que fariam ele parecer mais alto ainda.

PJ parecia ter saído da capa de um disco de uma banda de rock n’ roll como as que seu pai gostava de escutar. Seu Gligar apenas fomentava mais essa imagem que ela tinha dele.

— É claro que ela vai, PJ, deixa de ser tonto — Ren havia respondido.

Ren era severos centímetros mais baixo que PJ, chegava a ser um pouco mais baixo que Lyra por volta de seus um e sessenta e poucos, talvez um metro e sessenta e seis. Ren tinha uma estética um tanto diferente da de seu melhor amigo, mas que ao mesmo tempo casava muito, seus cabelos eram de um tom fúcsia vivaz embora houvesse raízes escuras, ele usava uma camiseta preta com a estampa de um Golbat exibindo sua longa língua, além de um lenço xadrez e luvas listradas, longas e puídas que davam a ele um certo ar rebelde, embora os olhos cor de chá-verde não expressassem tal. O seu parceiro, um Houndour acaba por compensar isso de certo modo.

Ren e PJ pareciam, juntos, terem saído de algum mangá boys’ love ou algum dorama, mas ela preferira não comentar nada a respeito. Ela não queria parecer estranha.

— Eu pretendo ficar uns dias na cidade — ela disse, respondendo a pergunta inicial de PJ. — Acho que domingo vou estar partindo para a cidade de Violet, lá tem um ginásio e eu quero desafiar. Por isso eu estava procurando um local para treinar aqui na cidade.

— Eu e o Pierce também pretendemos sair em jornada — disse Ren sentado no banco, olhando para as árvores de cerejeira, suas pétalas caindo vagarosamente, logo não haveria mais nenhuma.

— E eu também! — acrescentou Luca, o mais novo ali, o irmãozinho de PJ. Melhor, o meio-irmão.

Luca tinha cerca de treze anos de idade, fazia Lyra lembrar-se de Harper, quem ela considerava próximo como um irmão mais novo. Ele não era nada parecido com o meio-irmão, os cabelos eram pretos e bastante lisos caindo em uma cortina sobre a testa quase tapando os olhos azuis profundos que tinham um brilho um tanto diabólico que chegava a deixar um tanto assustada. Ele vestia um moletom azul de capuz que imitava muito um Pokémon estrangeiro que ela vira apenas uma vez em um filme, mas ela não se lembrava do nome. Ele tinha um estilo mais skatista que a fazia lembrar de seu melhor amigo Ethan lá em New Bark que agora deveria estar em monitoria por conta das péssimas notas, sendo segurado por um tempo antes de poder partir em jornada.

— E o tampinha também — acrescenta Ren, revirando os olhos, Lyra riu enquanto Luca enchia as bochechas como um Jigglypuff irritado. — Vamos partir esse domingo depois do concurso de sábado. Seria legal se você fosse com a gente.

Aquele convite inesperado a deixou um tanto chocada, ela mal conhecia aqueles garotos, como poderia sair tão de imediato assim com eles em uma jornada?

— Também estamos indo para a cidade de Violet — disse PJ — Eu quero desafiar a Batalha da Fronteira, já ouviu falar, não é?

— Acho que já — ela tocou o queixo de leve, pensativa. — É aquela torrezona vermelha que tem em Olivine, não é? Já vi na tevê.

— Tem mais que a torre, tem outras instalações e eu quero desafiar todas — disse com certa excitação na voz. — Eu e Gligar andamos treinando desde que a Batalha da Fronteira voltou para Johto depois da temporada de Sinnoh ter encerrado.

— E quanto a você, Ren, o que você pretende fazer? — ela perguntou tentando desviar do convite feito.

— Bem, antes eu quero pensar um pouco sobre… — ele disse, coçando o pescoço, era como se ela tivesse tocado em uma ferida um tanto particular. — Quero sair de Cherrygrove e descobrir o que eu quero ser.

Lyra achou a resposta de Ren um tanto certeira e ao mesmo tempo em aberto. Ninguém tinha convicção do que queria durante a adolescência, muitas pessoas se reinventavam ao longo de suas vidas, descobrindo sonhos e novas metas, permitindo-se conhecer melhor. Ela mesmo não sabia se contaria para o pai sobre querer sair em uma jornada até dias atrás, ela não podia culpar Ren por estar ainda incerto.

— Que chato — comenta Luca que levou um beliscão do irmão mais velho. — Ai! Porque fez isso?

— Por que você tá sendo um pentelho — ele retrucou. — Poxa, cara, respeita a decisão do Ren.

Ela riu.

— Sou suspeita de perguntar, mas por que seu irmão também vai em jornada com vocês? — indagou ela, curiosa. — Tipo, ele não tem uns onze anos?

— Tenho treze, gata — disse Luca, movendo as sobrancelhas e sorrindo de forma perniciosa, se aproximando para perto dela, mas PJ dera outro beliscão no irmão.

— Desculpa pelas atitudes do meu irmão — o mais velho intervém. — Mas meio que meu padrasto e minha mãe decidiram que ele tinha que vir junto, é um mal necessário, mas não pude me opor.

Ele deu de ombros.

— Também não pude evitar, mas eles vão ter que me aguentar — diz Luca acariciando onde o irmão havia beliscado.

— Entendi, haha — ela deu uma risadinha. — Viajar em jornada juntos deve ser uma boa experiência. Posso pensar na resposta quanto a esse convite?

— Bem, ainda vamos estar na cidade até domingo de manhã — comenta PJ.

— E se quiser podemos trocar números de PokéGear — sugeriu Ren. — Se topar, podemos nos encontrar no ginásio poliesportivo onde irá acontecer o concurso deste sábado. Que tal?

— Pode ser — disse ela. — Eu estava pensando em assistir ao concurso. Um idol de quem gosto estará participando.

— Ela está falando do…? — murmurou PJ, mas Ren logo interrompeu-o.

— Certo, perfeito, podemos nos encontrar na feirinha! — disse o garoto de cabelos fúcsias. — Anota meu número aí, é…


Já era sexta-feira. Fazia dois dias desde que Lyra havia conhecido aqueles três meninos, ela havia trocado algumas mensagens com Ren e também com PJ, tinha sido legal fazer algum outro amigo além de Ethan e de Harper, eles pareciam ser boas pessoas.

Ren muitas vezes mandava fotos fofinhas de seu Houndour ou memes, comentava se ela tinha assistido alguma série teen recentemente ou perguntava seu gênero favorito de música. PJ por outro lado já havia perguntado-a diretamente que anime ela assistia, se havia algum mangá ou livro que ela curtia. Naquela sexta-feira, ambos os meninos haviam feito um convite para ela: assistir a um ensaio da banda deles nas proximidades, mas ela estava incerta.

Lyra estava em um dos quartos do dormitório feminino do Centro Pokémon de Cherrygrove. Era um quarto um pouco maior que o seu em New Bark com duas beliches, uma escrivaninha onde ficavam dois computadores e alguns livros, um aparelho de rádio, havia uma tevê numa das paredes conectada a um aparelho de DVD e um console e um mini-bar próximo ao guarda-roupa, o único diferencial é que não havia um banheiro ali, o banheiro comunitário feminino e a lavanderia do Centro ficava no fim do corredor.

Ela estava deitada olhando para o seu celular e suspirava. Ela não sabia se aceitaria os convites daqueles meninos. Era difícil desvencilhar de tudo que havia acontecido no ano passado envolvendo uma pessoa que Lyra pensara ser sua amiga e aquele garoto do intercâmbio que havia feito tanto estrago emocionalmente para ela que se não fosse por Ethan ou por Harper ou mesmo pelo conselheiro da escola ela estaria no fundo do poço.

Certos cacos de um coração magoado não grudam facilmente. Era difícil confiar nas pessoas quando já passara por coisas assim por conta de uma fofoca maldosa, uma brincadeira com segundas intenções ou mesmo um convite que poderia não parecer nada demais.

Toc, toc, toc. Alguém estava batendo na porta, tirando Lyra de seu devaneio, ela então levantou e foi em direção à porta do quarto e abriu-a.

Quando abriu a porta ela viu uma garota carregando uma grande mala de rodinhas, parecendo ter dificuldade em levar sua bagagem para dentro do quarto. Gotas de suor formavam-se nas suas têmporas e seus óculos de aro verde-escuros estavam embaçados.

— Hey, darling, poderia me dar uma ajudinha, pretty please?

Lyra foi ao socorro da garota e ajudou-a puxando sua mala para dentro, embora com dificuldade, mas logo as duas conseguiram colocá-la para dentro do quarto. Ao fim estavam ambas ofegantes de tanto empurrar e puxar aquela bagagem desnecessariamente grande.

Phew, eu estou morta, exaurida, Arceus do céu, já foi um sufoco trazer essa mala até aqui em cima!

— O que está levando na mala para ela estar pesando tanto assim? — perguntou Lyra, curiosa.

A garota levantou-se, pegou a mochila que estava em seus ombros e colocou na mesinha de cabeceira ao lado da cama e depois foi em direção à sua mala de rodinhas, abriu-a e mostrou para Lyra seu conteúdo.

— Estou levando tudinho que eu preciso, honey — disse a garota.

Dentro da mala de rodinhas havia três pares de sapatos, sendo um deles de salto, havia duas caixinhas, uma repleta de joias e adereços e a outra com itens de maquiagem diversos, um espelhinho redondo, lentes de contato e óculos reservas. Uma parte da mala estava com roupas milimetricamente dobradas para caber num espaço mínimo dividindo espaço com dois vestidos brilhosos e isso dividindo espaço com um livro grosso cuja lombada dizia: DICIONÁRIO GALARIANO/KANTO-JOHTONIANO PARA INICIANTES.

— Apenas o essencial — disse ela.

Lyra ficou boquiaberta.

— Uau!

— E isso por que a minha outra mala ainda está lá no andar de baixo na recepção! — disse ela. — O taxista deixou ela lá e infelizmente esse lugar não tem elevador. Eu tenho que me manter preparada para tudo, honey dear, tô praticamente levando minha vida em três malas. Aliás, nem me apresentei, que descortês de minha parte, my name is Kara. Kara Sterling. And you are?

Ela se lembrava vagamente das aulas de idiomas na escola, ela não era a melhor fluente em nenhum além do seu nativo e ela ainda confundia um ou outro caractere em textos mais antigos, mas ela sabia que Kara estava perguntando seu nome.

— Lyra, me chamo Lyra Winterfeldt — apresentou-se.

— Que nome lindo — comenta Kara, entusiasmada. — É a minha primeira vez em Johto, eu vim da região de Galar, lá de Circhester, já ouviu falar?

Ela já havia falar da região de Galar, a maioria das bandas de rock n’ roll que seu pai amava eram de lá, embora ela preferisse um boy group de lá que infelizmente havia encerrado e separado. Ela não conhecia muitas cidades de Galar além de Wyndon, sua capital.

— Nunca ouvi falar de Circhester — responde ela.

— Tive essa impressão, hoho, mas relaxa, muita gente não conhece — ela comenta. — Não a culpo, eu também não conhecia Cherrygrove desde que eu peguei o ônibus do aeroporto até aqui.

Lyra riu bem breve.

— Por que veio para esse cafundó do mundo? — ela perguntou. — Não acho que Johto seja tão mais interessante que Galar, ainda mais uma cidade de interior igual Cherrygrove.

— Vim para participar dos concursos — disse, respondendo Lyra. — E por que eu combinei de encontrar com a minha prima na cidade de Violet, vamos sair em jornada!

— Oh… que legal — disse ela.

Todos tinham alguém para ir junto com eles em jornada, até uma garota que Lyra havia conhecido a menos de cinco minutos e ela não. Ela deveria ter ao menos esperado Ethan terminar sua monitoria para que ele pudesse vir com ela.

— Mas em Galar não há concursos? — perguntou ela tentando desviar o assunto.

— Bem, tem algo parecido — diz Kara em resposta. — Mas o cenário de Galar é muito competitivo e bem, eu nunca conseguiria um patrocinador, já foi um perrengue enorme para o meu irmão, quem dirá para mim, então só aceitei o convite da minha prima para vir para Johto e vim. Acho que é aqui que vou me encontrar, sabe?

— Legal — Lyra comenta.

— E você, flor, também participa dos concursos? — perguntou Kara olhando nos olhos dela, Lyra havia reparado que, seus olhos eram rosa-chiclete, uma cor que combinava em muito com ela, contrastando com a pele escura da menina de Galar e seus cabelos cor de vinho.

— Oh não, não — ela responde. — Não. Concursos não são minha praia, eu quero desafiar os ginásios e competir na Liga.

— Uh, that’s so cool! — comenta em galariano, Lyra não entendeu nada. — Sorry, às vezes, a língua escapa, ha-aha. Mas isso é muito legal, a liga aqui em Johto é diferente não é? Vocês não tem um estádio por cidade e não há toda essa maluquice de patrocínios e tudo mais, né?

— Er… Quero dizer, a liga de Johto é em conjunto com a liga de Kanto — explicou Lyra. — A Liga Índigo acontece todos os anos, os melhores de duas regiões competem numa única liga e o vencedor tem o direito de desafiar a Elite dos Quatro e o Campeão.

Sweet! — diz Kara. — Aposto que seu campeão é bem diferente do campeão de Galar. Leon está no posto há um bom tempo, eu acho que ele é inderrotável!

— Não acho que Lance seja inderrotável — comenta Lyra. — Mas ele está no posto há três anos. Ele ocupa o lugar do último campeão que está desaparecido, acho que deve conhecer. Red, de Pallet, sabe?

— O caladão bonitinho com um Pikachu? — pergunta, mas Lyra não responde. — Of course! Saiu nos noticiários quando esse treinador desapareceu e nunca mais retornou ao posto de campeão. What a shame, eu acho que ele versus Leon seria uma batalha que eu pagaria para ver! Imagina só, a Gigantamax Charizard de Leon versus aquele Pikachu minúsculo de Red. Seria uma batalha para entrar para a história!

Lyra riu.

— Bem, como isso não é possível, eu espero que um dia você chegue a enfrentar Lance, Lyra — diz Kara. — Mal a conheço e já sinto que se sobressairá na Liga, ha-aha.

A garota deu um meio-sorriso, uma estranha tinha mais confiança nela do que ela própria que mal tinha treinado seu Totodile que no momento deitava-se ao sol no peitoril da janela, ele tinha em mãos a sua Wide Lens que Lyra havia conseguido de Sr. Gentil no dia que chegara a cidade, Lyra havia prendido-a num cordão para que o crocodilinho não a perdesse, aquele havia havia tornado seu item favorito.

— Bem, se é assim, eu devo apenas torcer para você conseguir chegar ao Grande Festival — diz Lyra de volta.

— Já gostei de você, pollen puff — comenta Kara. — Acho que estarei dividindo o quarto com a pessoa certa. Mas e aí, me fala, tem algum programa, algum lugar para ir ou algo do gênero? Queria sair para conhecer a cidade de Cherrygrove.

Lyra coçou a nuca.

— Uns amigos me convidaram para um… — ela não sabia se poderia chamar Ren e PJ de amigos, ela mal os conhecia e chamar outra estranha assim para algo que ela nem havia sido convidado era tão estranho. — Para o ensaio da banda deles, mas acho que… acho que é só a noite, mas tem lugares na cidade que eu conheço, posso levar você.

Cool, cool, so cool — disse em galariano. — Só preciso pegar minha outra mala no térreo e vestir algo mais elegante e já podemos ir bater perna por essa cidade.

— Hã, pode ser — ela disse.

As duas meninas buscaram a outra mala que era do mesmo tamanho que a anterior que Kara havia trago para o quarto, também tão pesada quanto, possivelmente também lotada de roupas, acessórios e badulaques.

A garota de Galar havia trocado suas roupas de viagem por algo mais confortável, um vestido de botão rosado preso na cintura por um laçarote, meias calças estilosas listradas em preto e tangerina e um par de botas de salto. Kara parecia preparada para um desfile de moda.

— Uau — disse, boquiaberta.

— Eu sei, pollen puff, eu sei — ela disse — Sou um monumento, eu sei disso, mas podemos ir? Estou ansiosa para conhecer essa cidade.

— Um momentinho.

Lyra foi até a penteadeira do quarto e pegou sua polaroid e sua bolsa e foi junto a Kara. Ela estava pronta, ela teria muito o que colocar em seu diário ao fim do dia.

— Estou pronta.



PJ

Cherrygrove, Johto

Sexta-feira, 29 de abril


Ele não havia largado o celular em dias, sempre que tinha um momento livre, Pierce estava conversando com a sua namorada. Caitlin ainda parecia querer persistir com a ideia de querer fazê-lo desistir de enfrentar a Batalha da Fronteira, como se ela estivesse querendo esconder algo dele, ela andava bastante suspeita nos últimos dias, evadindo todas as suas perguntas e fazendo ela mesma questões mais enfadonhas como perguntando quem além de Ren e seu meio-irmão estava indo com ele em uma jornada, como se ele fosse maluco de trair ela com alguma outra garota. Ou cara. Catty não precisava ficar tão obsessiva assim, eles ainda iriam continuar juntos apesar da distância no relacionamento de ambos. Ele faria aquilo dar certo e logo encontrariam-se cara a cara depois de um ano e meio sem se ver pessoalmente.

— Não precisa se preocupar princesa — disse ele ao telefone enquanto arrumava a garagem para o ensaio. — Só vai ser eu, Ren e meu irmão na estrada.

Tem certeza, Percival? — ele odiava quando ela o chamava por seu nome de batismo, ele detestava-o ao ponto de que forçava até seus professores chamá-lo pelo nome que havia escolhido para si ou pelo acrônimo do seu nome. — Não gosto que minta para mim. Há mais alguém com você e seus amigos que eu precise saber?

— Ren tá tentando convencer uma menina a viajar com a gente, mas não quer dizer que eu tenha interesse nela, tá bom? Você tem que parar com isso, de achar que eu vou acabar ficando com outra menina ou outro menino assim, céus.

Me desculpa — o tom de voz dela não parecia nada desculpado pelo que havia dito antes. — Mas é que… Esquece. Você conhece essa menina?

— Eu a conheci uns dias atrás, nós treinamos juntos no parque perto de casa, nada de mais — ele disse enquanto colocava os pratos em sua bateria, atarrachando-os. — Ela é uma treinadora, quer desafiar a Liga e tal, eu e Ren pensamos em convidá-la, já que estaremos indo pelo mesmo caminho e bem, poupa os gastos que vamos ter e é bom ter mais alguém na estrada.

Certo… — disse, seu tom de voz frio. — Você vai passar pela cidade de Violet, não é?

— Hã, sim, obviamente — ele disse. — Preciso de mais informações sobre a Batalha da Fronteira e onde fica a instalação mais próxima.

Posso me encontrar com você e seus amigos? — perguntou ela. — Minha agenda está livre nas próximas semanas, posso passar por Violet. Está tudo de acordo?

— Acho que sim… — diz ele. — Quando pretende nos encontrar?

No próximo dia quinze eu estou disponível, podemos marcar para esta data? — pergunta a garota.

— Dia quinze de maio? — perguntou de volta tentando localizar onde estava o calendário que seu padrasto havia pregado na parede. — Isso é no próximo… No domingo?

Sim, em duas semanas, Pierce — ela responde. — Podemos marcar? Quero conhecer seus amigos e esta tal garota treinadora que está indo com vocês. Não é um problema, não é?

— Na-não. Não é não, Catty — disse, ele sentiu a garganta queimar com bile que subia, ele estava um pouco nervoso, quase ansioso, mas de um jeito ruim.

Então me encontre no próximo dia quinze em frente ao Restaurante Bellflower — disse ela. — Vista-se apropriadamente. Até lá…

— Espera, não desli-... Droga, ela desligou.

Ele suspirou. Ele jogou seu PokéGear em direção ao sofá e massageou as têmporas, por que Caitlin tinha de agir assim tão obsessiva? Céus, ele não estava fazendo nada de errado e sempre tentando agradar ela, mas às vezes parecia que ela queria titeritar sua vida como se ele fosse uma marionete nos últimos tempos. O que havia de errado com ela?

— Problemas no paraíso? — perguntou alguém, ele se virou, era seu padrasto que tinha vindo à garagem pegar uma caixa.

— Basicamente… — ele disse para Edward, — Hã, Eddie, você já teve algum problema com a minha mãe de ela querer impedir você de querer fazer algo que você realmente quer ou de não gostar que você ande com certas pessoas?

— Graças a Ho-Oh que não — ele respondeu. — Se fosse isso eu não conseguia nem trabalhar, já que a galera do escritório sempre tá organizando happy hour em algum izakaya ou restaurante após o expediente. A sua garota está fazendo isso?

. — Ela tem andado muito suspeita desde que eu falei que queria desafiar a Batalha da Fronteira e que iria viajar com o Ren e o Luca — disse ele. — E agora está neurótica só porque convidei uma menina para se juntar ao grupo. Tipo, eu não estou fazendo nada de errado, então por que ela age assim?

— Bem, Pierce, tem caroço nesse mochi — disse seu padrasto. — Pergunte para ela quando chegarem a Violet, se ela está tão insegura quanto às coisas que você está fazendo ou com quem anda há algo de errado. Sei que vai ter suas respostas, bem tenho que ir, preciso rever umas papeladas do trabalho e passar pro computador.

Assim que seu padrasto saiu da garagem, um Pokémon de cor rosada adentrou planando o cômodo, sua pele quitinosa e suas asas de morcego brilhando na luz que vinha de fora, seu ferrão de escorpião balançando, era o Gligar de PJ, seu primeiro Pokémon.

O escorpião-morcego pousou sobre sua cabeça e exibiu a língua, ele havia sido um presente dado por Mark, seu pai, quando ele era novo, por volta dos seus nove anos de idade, meses antes de descobrir que seu pai estava envolvido em um esquema criminoso gigantesco, anos antes dos eventos da Equipe Rocket em Kanto, mas ainda bem que agora ele estava preso e não poderia fazer nada da prisão. PJ sorriu de volta para seu Gligar e acariciou sua pele quitinosa.

— Já de volta de seu passeio, garoto? — indagou para o Pokémon Terrestre e Voador. — O Ren só vem à noite e eu já organizei a bateria e o amplificador, que tal treinar no quintal dos fundos por enquanto?

O Gligar assentiu e planou, esticando suas asas e garras. PJ seguiu seu Pokémon e foi para os fundos da casa, ele poderia se distrair por um tempo enquanto os amigos não chegavam.


Lyra

Cherrygrove, Johto

Sexta-feira, 29 de abril


Kara e Lyra tinham ido a muitos lugares em Cherrygrove. Haviam ido ao cais onde viram os barcos pesqueiros e tirado algumas fotos de frente para os penhascos e depois tinham ido comer em um konbini, algo que Lyra não fazia há muito tempo, apenas sentar e comer algo ultraprocessado e industrializado e ficar conversando com uma amiga. Será que ela já poderia chamar Kara de amiga assim de cara?

Oh my Arceus! — disse Kara do momento em que eles haviam adentrado o konbini. — Parece um pedaço do céu na terra, há de tudo aqui!

Lyra deu uma risadinha. Konbini eram realmente uma loja de conveniências, tudo podia ser encontrado ali desde comida a itens de papelaria, farmácia e higiene e até roupas, realmente conveniente, uma pena que em New Bark não havia nenhuma, apenas máquinas de venda em alguns pontos da cidadezinha e uma feirinha onde uma senhorinha vendia alguns legumes e verduras e a loja de chá da avó de Lyra, os habitantes de New Bark eram basicamente dependentes de Cherrygrove caso precisassem de realizar compras, pegar e enviar encomendas e cartas no correio, trabalhar ou até ir ao médico já que New Bark não tinha um hospital e muito menos um Centro Pokémon.

Logo na entrada do konbini havia uma estante com revistas e livros, além de guardas-chuvas transparentes à venda, também era possível ver uma caixa de correio, um caixa eletrônico e uma copiadora que já tinha visto dias melhores. Havia prateleiras com materiais de papelaria, remédios, lanches e ração de Pokémon, araras com artigos de roupa, um freezer com todos os sorvetes com os sabores da estação e uma geladeira cheia de bebidas indo de chás gelados e refrigerantes ou bebidas alcoólicas. Lyra havia esquecido-se como uma konbini era realmente um outro mundo.

— E tem bem mais, vem — disse ela guiando Kara por entre os corredores de prateleiras.

Ela pegara uma cestinha e enchera com dois onigiri de Remoraid com maionese, alguns sando e um ichigo daifuku de sobremesa e para beber ela pegara uma garrafa de chá. Kara havia se empolgado um pouco, talvez para uma estrangeira uma loja de conveniência era outra coisa, então a garota galariana encheu sua cestinha com tudo que pôde e ambas foram para o caixa.

— Você vai conseguir comer isso tudo? — perguntou Lyra enquanto iam em direção do caixa, não havia muitas pessoas ali.

— Eu quero experimentar tudo isso — ela apontou para tudo que havia comprado. — Sempre quis provar a comida daqui, parece tudo saído de um sonho. Eu estou vivendo o que vi apenas em vlogs.

Lyra deu uma risadinha, quando se aproximaram do balcão do caixa, ela viu Ren acompanhado por seu Houndour. Será que ele iria achar rude de ela não ter respondido o convite dele e do amigo nos últimos dois dias? Ela engoliu em seco e apenas forçou-se a sorrir.

— Oh, Lyra! — ele a tinha avistado e acenado para ela.

— O-oi Ren — disse ela timidamente.

— Quem é o bonitinho de cabelo roxo? — perguntou Kara atrás dela. — Vocês se conhecem?

— Na verdade o meu cabelo é fúcsia — corrigiu Ren. — E eu sou o Ren, eu e Lyra nos conhecemos uns dias atrás.

— É… — ela disse, não encarando os olhos de Ren, por vergonha.

— Lyra, você ainda vai no nosso ensaio? — perguntou o garoto.

— Eu… Vou sim, vou sim, desculpa não responder — ela diz em tom de desculpas. — Eu ainda estava um pouco…

— Relaxa, a gente não queria te pressionar nem nada — dizia Ren. — Só achei que seria legal te convidar para conhecer você melhor antes de começarmos a sair em jornada, isso é, se você quiser vir com a gente.

Kara apenas olhou para aquele clima, Lyra estava de bochechas coradas de vergonha e olhando cabisbaixa para seus sapatos.

— Eu vou passar os meus produtos no caixa, conversem os dois, tá a maior torta de climão — comenta Kara. — Não vou atrapalhar vocês.

A galariana deu licença e passou na frente dos dois adolescentes, deixando-os conversar a sós.

— Olha, se você não quiser vir com a gente, tá tudo bem — Ren diz, coçando a nuca. — Mas se ainda quiser é só vir comigo, o Pierce e o irmãozinho mala dele é só falar, vai ser divertido, eu juro. Sei que a gente é um bando de marmanjo chato da porra, mas a gente não é de todo mau, eu juro!

— Não é isso — ela disse. — Eu realmente gostei dos três, é que eu não sou boa fazendo amigos e… eu não sei como seria sair em uma jornada com amigos, eu tinha em mente que eu ficaria sozinha, mas ter companhia é bom e eu não sabia como responder ao convite de vocês…

— Bem, para alguém que tem dificuldade em fazer amizades você conseguiu conquistar a minha e a do Pierce em dois dias — disse ele pegando o PokéGear e mostrando as conversas deles que haviam durado até de madrugada. — E aquela garota ali parece bastante próxima de você. Não sei por que acha que tem dificuldades em fazer amigos, mas eu sei que eu, o Pierce, aquela garota e até o pé-no-saco do Luca achamos você legal o suficiente para podermos ficar perto, então eu quero fazer o convite de novo: quer vir comigo e meus amigos em jornada?

Ela engoliu em seco.

— Sim — ela respondeu.

Alguém bateu palmas ao fundo, era o atendente do caixa, um rapaz loiro no final da adolescência com um olhar de deboche aparente. A aparência dele era muito familiar à Lyra, mas ela por ora ignorou, ela só queria saber por que ele estava batendo palmas assim.

— Muito lindo, comovente, um discurso incrível — disse com sarcasmo. — Renny-boy, tem como pagar logo o que você está devendo aqui para que sua amiguinha possa pagar?

— Tá bom, tá bom, tá bom Vitya — repetiu o garoto puxando algumas notas de sua carteira — Ignore ele, o Vitya é amargo às vezes — murmura Ren o que fez Lyra rir.

Assim que Lyra pagou pelos itens que havia comprado, ela e Ren foram em direção à mesa onde Kara se empanturrava com as coisas que havia comprado, ela realmente havia tirado um bom proveito daqueles lanches todos. Ela apresentou Ren para Kara e vice-versa, eles ficaram por ali conversando por mais um tempinho até que começou a entardecer mais um pouco, quase crepúsculo.

— Bem, eu prometi ao Pierce que eu iria para a casa dele até as 18h — disse o garoto de cabelos fúcsia guardando seu PokéGear no bolso depois de checar o horário. — Melhor a gente ir, quer vir Kara?

— E perder entretenimento de qualidade? Ha! Nunquinha! — disse.

Os três adolescentes saíram da loja de conveniência e seguiram pelas ruas de Cherrygrove, sempre ladeadas pelas suas características cerejeiras, seguindo até uma rua sem saída onde em uma garagem aberta estava PJ e seu Gligar, assim como Luca, o irmãozinho do rapaz que estava sentado em cima do teto do carro da família que estava estacionado próximo à calçada.

— Achei que vocês iam me dar o cano — disse PJ sentado em um caixote. — Opa, e aí, Lyra!

— O-oi — disse timidamente, acenando.

— E aí chuchu, sentiu minha falta? — disse Luca com seu tom flertivo e desconfortável, de ponta cabeça, PJ dera um beliscão no irmão após isso que reclamou da dor.

— E vejo que trouxeram uma convidada, uau — PJ pareceu encantado com a presença de Kara ali.

— Prazer, meus queridos, Kara Sterling, vinda diretamente das terras da rainha — apresentou-se ela. — Vim pelo entretenimento e pela amizade, eu e Lyra nos conhecemos no Centro Pokémon hoje e eu já estou conhecendo todos os amigos fascinantes dela. Johto só está me conquistando mais e mais!

— Ha-ha, prazer, meus amigos me chamam de Pierce ou só de PJ — cumprimentou ele — E esse é…

Antes que PJ pudesse apresentar o meio-irmão para Kara, o garoto desceu do teto do carro e foi até a garota galariana e puxou sua mão, como num daqueles filmes e depositou um beijo, o que fez Lyra tremer em vergonha alheia e Ren rir alto, enquanto seu irmão mais velho apenas arregalou os olhos.

— Luca, mas o prazer não é meu, é seu em me conhecer, olha só que sorte a sua — disse ele, antes de levar um puxão de orelha do irmão mais velho cujas sobrancelhas tremiam.

Kara, sem entender nada, apenas riu.

— Calma, pollen puff, não coloque a carruagem antes dos Rapidash, eu sou areia demais para esse caminhãozinho — ela gargalhou. —, você não é meu tipo e muito novinho ainda por cima, mas te achei um charme, mas esse não é jeito de tratar uma lady, okay, pollen puff? Ninguém gosta de um womanizer, entendesse?

Luca deu uma risada desconfortável, PJ deu outro beliscão no ombro do irmão.

— Desculpa pelo meu irmão, ele se acha o Don Juan — PJ se curvou, ele estava corado de vergonha. — Prometo que não vai se repetir, ele só é um babaquinha de treze anos.

— Tá tudo bem, ha-aha, eu não me incomodei — disse ela. — Mas e aí, cadê o entretenimento, me prometeram música ao vivo.

— Realmente, estou começando a achar que não vai haver ensaio nenhum — disse Lyra.

— Bem, sentem-se senhoritas — disse Ren pegando sua guitarra que estava ali em seu suporte enquanto PJ se sentava atrás da bateria. — Esse é o último ensaio da nossa bandinha de fundo de garagem, que infelizmente não tem um nome, então apreciem. O nome é Ren Rizal…

Ele conectou a guitarra ao amplificador e em seguida tirou alguns acordes dela.

— E PJ Featherstone — com as baquetas ele começou a bater nos tambores e pratos da bateria.

— E nós viemos para arrasar o seu mundo — completou Ren.

Lyra então, sem pensar duas vezes, puxou a sua polaroid e tirou uma foto dos dois enquanto eles começavam a tocar. A iluminação da rua, o reflexo da luz dos postes nos pratos da bateria e todo o ambiente criava um cenário que na fotografia tinha ficado impressionante. Ela tirou mais algumas enquanto os acordes e as batidas do instrumentos incrementados à voz de Ren proporcionaram algo mais que perfeito.

As músicas vindas de Ren não eram originais, a maioria eram aberturas ou encerramentos de algum anime que Ethan curtia e que obrigava Lyra a assistir. J-Rock não era lá o gênero musical favorito da menina, mas a voz do menino de cabelos fúcsias era tão potente que chegava a impressioná-la, ele levava jeito naquilo.

Depois de umas quatro ou cinco músicas, ela havia perdido a conta, a mãe de PJ, uma senhora gentil, e o pai de Luca tinham vindo chamá-los para entrar depois de guardar os instrumentos e limpar tudo e vir jantar com eles. Tinha sido divertido aquele comecinho de noite com a música, as conversas que tivera com os seus novos amigos e companheiros de jornada, logo após o jantar, ela pegou todas as fotos que havia tirado e começara organizando-as, havia tanto para escrever naquele diário.

Kara havia ido embora mais cedo, ela tinha de acordar cedo para se preparar para o concurso do dia seguinte, deixando Lyra sozinha ali na varanda da casa de PJ, onde sentou-se, separando as melhores fotos, quais ela iria recortar para fazer scrapbooking e quais ela colocaria na página para falar daquele dia no diário. Talvez sua professora estivesse certa, ela precisava daquilo, de novas experiências, de abrir um novo capítulo em sua vida.

— O que está fazendo? — alguém havia perguntado, era Luca, que havia chegado por trás dela, assustando-a.

— Hã, ah, só organizando algumas polaroids — disse ela. — É para um projeto… Um diário…

— As pessoas realmente escrevem diário? — Luca arregalou os olhos. — Achei que era só uma daquelas coisas de filme de menina. Uau, você é uma caixinha de surpresas, hein.

— É um jeito de eu sair da minha zona de conforto, sabe? — disse a garota. — Me conhecer melhor. Minha professora me incentivou a fazer isso, a mostrar quem eu realmente sou.

— Isso é maneiro, eu acho — diz Luca. — Eu fiquei bonito em alguma das fotos? Posso ficar com uma delas? Captou meu melhor ângulo?

Ela riu.

— Eu tirei um monte, mas eu comprei papel fotográfico no konbini — disse ela — Vai ter muitas outras fotos além dessa. Quero preencher esse diário com tudo que vai acontecer nessa jornada.

— Então eu vou me certificar de que vai ter muitas fotos! — disse Luca.

— E nós também — disse Ren que vinha logo atrás.

— Me inclui nessa — acrescentou PJ — Vai ter mais fotos nesse diário do que estrelas que possamos contar.

— Valeu — ela sorriu. — Valeu mesmo.



Chadwick

Delegacia de New Bark, Johto

Sábado, 30 de abril


O pirralho havia feito uma denúncia falsa. Quanta petulância da parte dele, agora eles estavam presos e sem direito a interrogatório ou telefonema. O oficial havia prendido-os e eles seriam mandados para outro presídio já que o grande R vermelho em seus uniformes entregavam quem eles eram. Chadwick queria matar aquele pirralho ruivo, estrangulá-lo de forma que quebrasse aquele pescocinho dele.

— E agora, o que vamos fazer? — perguntou Langley. — Eles acham que obrigamos o moleque a roubar o Chikorita do laboratório do professor para nós. É a palavra dele contra a nossa…

— Desgraçado! — reclamou Cassie deitada no colchão mofado da cela. — Ele se fez de vítima e conseguiu escapar com essa.

— A mãe do pivete era atriz de cinema antes de ser a esposa-troféu do patrão — suspirou Chadwick. — Os pais são ótimos em mentir, um mentiu que era um empresário de renome e um líder de ginásio poderoso antes de se revelar como a mente criminosa por trás de todas aquelas atrocidades em Kanto e a outra mentia para viver, fazia mil e um personagens, sabia convencer milhões numa tela de cinema. É óbvio que aquele pivete ia conseguir se safar dessa.

O trio suspirou. O som de um molho de chaves e passos ecoava pelo corredor, era o policial do distrito de New Bark, em seu uniforme azul patético e com aquele cabelo turquesa idiota, logo atrás dele estava uma jovem da idade dos três com longos cabelos castanhos bastante escuros presos em duas longas marias-chiquinhas e usando um uniforme policial idêntico ao dele. Chadwick sabia bem quem aquela garota era, seu sorriso sádico e malvado… Era Annelise Dell, uma das recrutas do baixo escalão mais possíveis de ascender de cargo e se tornar uma agente.

— Levantem-se patetas! — exclamou o policial e o trio de Rockets se levantou de imediato. — Vão ser transferidos para o presídio de segurança máxima em Tohjo Falls.

— Pode deixar que daqui eu assumo, oficial — disse a garota com as mãos nas costas, assumindo um semblante sério.

— O-okay… — ele gaguejou, entregando a ela o molho de chaves da cela.

Depois que o policial se afastou, a garota destrancou a cela e entrou ali, analisando o trio com seus olhos frios como uma xícara de chá, um marrom-avermelhado que parecia verificar cada pecado que Chadwick e seus colegas haviam cometido em vida. Olhos de alguém que não hesitaria em desová-los em um lixão em algum canto de Johto e não deixar pistas.

— Idiotas! — ela exclamou. — Vocês tinham um trabalho e ainda assim conseguiram falhar! Um único trabalho, incompetentes!

— Mas…

— Cale-se! — disse ela, feroz, encarando Langley que tinha começado a falar, mas se encolheu. — Tive sorte que o Executivo Petrel plantou um rastreador no equipamento de vocês e que o garoto deixou rastros quando fez a identidade falsa se não eu jamais desconfiaria do paradeiro dele.

— Ele estava com outros adolescentes — informou Cassie. — Um menino e uma menina, bastante parecidos, acho que eram irmãos.

— O menino tinha cabelo azul e o da garota era preto e curto — falou Langley.

— O pivete fez amigos, ótimo, não ligo, não estou nem aí — vociferou Annelise. — Ele já comprometeu muito da organização só por sair. Tivemos que fazer queima de arquivo e mover pessoal para outro quartel-general sem que levantasse desconfiança.

— O quartel foi movido? — perguntou Cassie. — Para onde?

— Não interessa a vocês — ela disse. — Falharam na única missão que Ariana lhes deu e antes do prazo esperado! Não estão dignos de retornar ao quartel até vir ordens superiores, me ouviram?

— Sim, senhora — disseram os três em uníssono.

— Estarão sendo movidos para a cidade de Azalea — ela disse — O Executivo Próton e a Administradora Sird junto da Dra. Veronika estão começando o primeiro passo da operação, precisam de pessoal e bem, eu tive sorte que os agentes do alto escalão tiveram de vocês e quiseram dar uma segunda chance…

— Então quer dizer que ainda continuaremos na organização? — interrompeu Cassie, com certa esperança em seu tom de voz.

— Sim, é a segunda chance dos três — disse ela. — Próton dará as coordenadas do que farão.

— E quanto a você, estará lá? — perguntou Langley.

— Obviamente, é parte de um plano grandioso vindo de Archer — ela disse — Agora andem, preciso levar vocês.

— Mas como? Nós perdemos o balão — explicou Chadwick.

— A doutora me emprestou alguns de seus monstrinhos de estimação — ela apontou para um canto escuro no corredor.

 Chadwick focou naquele canto e conseguiu ver apenas um pequeno Pokémon pássaro verde com uma peninha vermelha na cabeça, seus olhos vazios encarando o trio, era um Natu, não… eram vários Natu. Havia dezenas deles escondidos pela delegacia nas celas vazias.




— Estou usando Hypnosis e Dream Eater para implantar memórias falsas na cabeça dos guardas e de quem quer tenha a informação sobre vocês com os Natu, — explicou ela. — e há alguns Porygon no sistema da polícia para adulterar os dados para mostrar que foram transferidos para outra instalação de segurança, o Xatu da doutora irá teletransportá-los para Azalea, meu trabalho ainda não terminou.

— Xatu? — indagou Cassie.

Antes que ela pudesse dizer algo um grande Pokémon pássaro verde apareceu atrás deles. Seus olhos eram grandes e vazios, vagos como se não possuísse alma ou emoção alguma neles. A ave tinha em seu pescoço uma espécie de coleira com certos aparelhos que pareciam causar desconforto no Pokémon.



Auf wiedersehen, idiotas — despediu Annelise.

— Espera! — protestou Chadwick, mas antes que pudesse falar algo, o Xatu abriu as asas.

Um feixe de luz tomou conta do corredor da delegacia, em um momento eles estavam ali em New Bark numa cela úmida e mofada e no outro o ar ao seu redor estava seco ao ponto de que ele sentia a garganta arder pela aridez do ambiente. Os três Rockets observaram os seus arredores, eles estavam no meio de uma cidade cuja paisagem estava seca com árvores de galhos nus e um solo rachado e poeirento, não havia nem asfalto ou postes de luz por ali, apenas casinhas de madeira de onde algumas saía plumas de fumaça preta. Eles estavam em Azalea, no sul de Johto.

— Que bom que vieram — disse uma voz masculina, era Próton, que estava esperando-os, fumando um cigarro enquanto estava sentado na calçada. — Soube que fracassaram na única missão que receberam. Bem, as coisas aqui serão bem diferentes…





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