sexta-feira, janeiro 26, 2024



Tenma

New Bark, Johto

Terça-feira, 26 de abril

Horas antes…


— Qual é o seu nome? — perguntou a irmã enquanto caminhavam pelas ruas de New Bark. Decidiram não ficar em Cherrygrove; um lugar mais tranquilo no interior seria mais conveniente.

— Harada Kousei — respondeu ele, o nome que escolheu para aquele disfarce.

— E de onde você é? — ela continuou, enquanto treinavam. Embora não fossem tão habilidosos, sempre se esforçavam para melhorar.

— De Violet?

— Mas não tínhamos concordado em sermos de Azalea? — indagou a irmã gêmea.

— Azalea é muito distante daqui — disse Tenma — É bem no interior; não seria tão convincente. Violet fica a umas cinco horas de carro; seria mais plausível dizer que somos de lá.

— Entendi — disse Masako — E quem são seus pais?

— Minha mãe trabalha como cozinheira em um restaurante — disse ele — E meu pai é um assalariado que trabalha em um dos escritórios da Silph em Violet.

— Você realmente parece convincente, Tenma — disse Masako — Como consegue?

Ele deu de ombros. Para Tenma, era fácil se adaptar e se camuflar no papel que precisava desempenhar. Sempre fingia ser algo diferente para alguém; um príncipe perfeito para a família, um bom filho para os pais, um estudante dedicado para seus tutores na Academia Fairbairn em Wyndon, na região de Galar. Era um ator habilidoso, e talvez aquele nome falso fosse a representação mais próxima de seu verdadeiro eu.

— E seu nome, qual é? — perguntou Tenma enquanto viravam uma esquina. Procuravam um abrigo temporário na pequena cidade.

— Harada Tomoki — respondeu ela, tentando lembrar dos nomes que haviam visto nas revistas que pegaram naquele posto de gasolina em Violet.

— Tomoki? — indagou o irmão — Esse não é um nome masculino?

— N-não — ela gaguejou — Se eu mudar os caracteres, não.

— Não me parece tão crível assim — ele riu — Nomes masculinos para meninas costumam chamar muita atenção, sabia?

— Não fui eu que me chamei de Kousei — provocou ela.

— Foi o nome mais interessante que encontrei naquela revista, o que você quer que eu faça? — retrucou ele — Mas tente não levantar muitas suspeitas sobre nossos nomes, ok? Pode atrair atenção indesejada.

— Certo, certo — Masako suspirou.

Os irmãos continuaram a vagar; avistaram um prédio ao longe. Havia placas e uma cerca em volta, um lugar condenado à demolição, mas estranhamente era possível ver uma luz lá dentro. Talvez pessoas sem-teto estivessem morando ali, ou uma família que não havia se retirado quando o prédio foi condenado. Tinham passado o dia anterior indo de uma cidade para outra, descansando brevemente debaixo de um ponto de ônibus para evitar a chuva matinal em New Bark.

Estavam exaustos; quem quer que estivesse ali poderia oferecer alguma hospitalidade enquanto seguiam pelo interior antes de conseguirem alguma ajuda para resgatar seu irmão. Se é que conseguiriam ajuda, especialmente nos cafundós de Johto.

Os gêmeos adentraram o prédio com extrema cautela. As portas corroídas pela umidade estavam inchadas e podres, suas dobradiças oxidadas e prestes a se desfazer. Surpreendentemente, as luzes do corredor ainda estavam acesas, indicando que a eletricidade não havia sido desligada.

Subindo as escadas devagar, encontraram sinais de desocupação em muitos dos apartamentos, enquanto outros ainda estavam densamente mobiliados. No fim do corredor, um apartamento emanava uma luz intensa, sugerindo a presença de alguém.

Tenma engoliu em seco e posicionou-se à frente de sua irmã, preparado para protegê-la. Embora não tivesse uma arma, estava determinado a lutar se necessário. Com toda a coragem que possuía, ele avançou, sua irmã logo atrás, compartilhando o mesmo medo palpável.

— Tem alguém aí? — indagou, sua voz ecoando pelo corredor.

O silêncio que se seguiu era quase sufocante, como aqueles momentos inquietantes antes de um trovão retumbar. Não, era mais como o gelo prestes a rachar sob os pés, sem nenhum aviso prévio. Enquanto um trovão viria com o flash de um relâmpago, o gelo se racharia silenciosamente, até que o som de cada rachadura se tornasse audível, e então... splash, você estaria caindo nas escuridões líquidas de um lago, condenado a um mergulho gelado. Um mergulho do qual nunca emergiria de novo.

Os irmãos mantiveram-se alertas, cada som os deixando mais tensos. A luz vinda do apartamento iluminava parte do corredor, mas o que se escondia nas sombras os deixava inquietos. A ansiedade pairava no ar, mas era difícil identificar qualquer movimento ou presença.

A irmã gêmea agarrou o braço de Tenma, buscando conforto em sua proteção. Ele tentou acalmá-la com um olhar, mas estava igualmente preocupado. Eles não tinham certeza do que poderiam encontrar ali dentro, mas algo lhes dizia que precisavam ser cautelosos e estar preparados para o desconhecido. O que quer que estivesse lá dentro, estava prestes a ser revelado, e os gêmeos estavam prestes a encarar o mistério de frente.

Como um vulto, algo saltou em frente a eles: um rapaz na mesma faixa etária que os irmãos. Seus cabelos ruivos cascatavam como uma catarata cúprica, e seus olhos eram duas grandes poças de mercúrio, brilhando com intensidade intimidadora. Seu sorriso apresentava presas pontiagudas nos caninos, dando-lhe uma aparência ainda mais ameaçadora. O torso desnudo exibia a vermelhidão de uma queimadura em um dos lados, enquanto marcas de garras de algum Pokémon sulcavam um dos ombros, deixando talhos bem definidos, ele era um mapa de cicatrizes. O rapaz parecia um demônio saído das profundezas do reino sombrio de Giratina.

Os irmãos engoliram em seco. Estavam petrificados diante do garoto à sua frente, uma figura amedrontadora que parecia mais um pesadelo que se tornou realidade. Em seu ombro, um Sneasel com olhar afiado observava os intrusos, enquanto um Chikorita, de aparência dócil mas imponente, permanecia próximo aos pés do rapaz. Tenma e Masako sentiam-se como presas diante de um predador supremo.

— O que fazem aqui? — perguntou o garoto com uma voz tão grave como o som de uma catarata batendo contra pedras. Sua presença impunha dominância, tornando a pergunta mais uma exigência do que uma mera curiosidade. — Quem são vocês?

— N-nós… — Masako começou a falar, sua voz trêmula — E-eu so-sou… Masa… N-não… Harada… Harada…

A garota estava apavorada, gaguejava, e suas mãos tremiam descontroladamente. Tenma, sentindo a necessidade de protegê-la, segurou sua mão e a apertou com firmeza, tentando transmitir confiança.

— Eu e minha irmã, nós… — ele engoliu em seco, reunindo toda a coragem que conseguia — Nós vimos uma luz e entramos. Estamos um pouco, hã, perdidos. Me chamo Kousei e essa é a minha irmã, Tomoki.

— Tomoki? — uma das sobrancelhas carmesins do rapaz se arqueou em surpresa — Isso não é um nome masculino?

A tensão no ar era palpável. Os olhos do garoto pareciam penetrar na alma de Tenma e Masako, como se estivesse examinando cada fibra de sua existência em busca de mentiras. Seus Pokémon permaneceram alertas, prontos para agir ao menor sinal de ameaça.

O rapaz ruivo, com seus olhos prateados fixos nos irmãos, aproximou-se lentamente, exalando uma aura ameaçadora. Tenma tentou manter sua postura firme, recordando-se de sua educação de príncipe e dos treinamentos com a katana e a naginata. Ele não permitiria que fosse intimidado por um delinquente como aquele.

— Bem, Kousei... — disse o rapaz com um tom sombrio — Eu sei muito bem quando alguém está mentindo. Bons mentirosos não gaguejam ao dizer o nome falso que escolheram. Bons mentirosos não precisam convencer os outros de que são bons, afinal, os melhores mentirosos são aqueles que nem sequer tentam.

Aquele olhar penetrante, como o de um predador, continuava a examinar os irmãos. Tenma sentia-se tenso, mas não abaixaria a cabeça diante daquele desconhecido. Ele era um príncipe, um herdeiro de linhagem nobre, e não permitiria que sua coragem fosse abalada.

— Quem realmente são? — exigiu o rapaz, sua voz ressoando com autoridade, vociferando a questão, querendo arrancar a todo custo a verdade dos gêmeos.

Tenma encarou-o com olhos decididos, mesmo que seu coração acelerasse. Ele não revelaria sua verdadeira identidade a um estranho, não sem saber mais sobre ele primeiro.

— E quem é você para fazer tais perguntas? — retrucou Tenma, buscando mostrar-se confiante, apesar da situação incerta — Não sabemos quem você é também. Por que deveríamos confiar em você?

— Certo, não deveriam — ele respondeu — Eu poderia acabar com os dois antes que pudessem dizer os seus nomes e sobrenomes.

Tenma soltou um muxoxo.

Ele não tinha um sobrenome, não um convencional como a maioria das pessoas em Kanto e Johto. Em seus documentos oficiais havia apenas seu nome tradicional, seu nome civil e seus títulos: Sua Alteza Imperial, Príncipe Tenma da Casa de Hinomoto. O mesmo se aplicava à sua irmã gêmea, ambos eram oficialmente chamados assim, embora usassem mais seus nomes civis e se, caso acontecesse, ascendessem ao trono um dia deveriam usar um novo nome, assim como seu tio-avô havia feito quando ascendeu, mas no momento Tenma apenas se preocupava com o nome falso que estava usando. Por ora ele era Harada Kousei.

— Poderia? — indagou Tenma — Quero ver tentar. Dissemos nossos nomes, qual o seu, estranho?

— Silver — ele disse — Silver Crocell.

Um nome pomposo. Tão falso quanto o deles. Ele se portava como um verdadeiro ator, saboreando seu próprio pseudônimo, apropriando-se dele como se fosse uma parte inerente de si. Ele, assim como os irmãos, guardavam dentro do peito, tatuado dentro de seus corações seus verdadeiros nomes.

Os gêmeos Tenma e Masako trocaram olhares intrigados com a resposta de Silver. Seu nome, Silver Crocell, soava tão enigmático quanto sua própria presença. O rapaz misterioso parecia apreciar o impacto que causava com sua identidade fictícia, assim como eles faziam com seus pseudônimos.

— Nome legal — disse Masako, tentando manter um tom casual, apesar da tensão no ar.

A risada de Silver ecoou pelos corredores sombrios do prédio condenado. Era uma risada quase sádica, que enviava arrepios pela espinha dos gêmeos.

— Foi eu quem escolhi, gostou, boneca? — provocou Silver, revelando suas presas em um sorriso intimidador — E é um nome só meu.

Masako apertou a mão de Tenma, buscando segurança na presença do irmão. Ela não se deixaria abalar pelas provocações do rapaz desconhecido.

— É... interessante — respondeu ela, tentando parecer indiferente, embora estivesse com medo na verdade.



PJ

Cherrygrove, Johto

Quarta-feira, 27 de abril


Já era bem de madrugada. Ao longe era possível ouvir o piar ominoso de um Noctowl ecoar pela noite. A lua minguante e sua luz argêntea adentrava pela janela do quarto de PJ, que naquela alta hora da noite, ansioso, arrumava a mochila para a jornada dele e de Ren que começaria em alguns dias. Cada fibra de seu corpo gritava de ansiedade por aquele momento, ele não conseguia nem dormir e estar bebendo café não ajudava nada.

— Certo, eu baixei o mapa no PokéGear e tenho dinheiro o suficiente para ao menos duas ou três semanas — disse para si mesmo enquanto fazia seu inventário — O Sr. Takasaki já me liberou do trabalho e deve me dar o adiantamento em breve, então só falta…

Antes que pudesse terminar seu pensamento em voz alta, alguém bateu à porta. PJ ergueu uma de suas sobrancelhas e caminhou até a porta de seu quarto, abrindo-a, era sua mãe, Christina, ainda um pouco acordada e de camisola, carregando a irmãzinha de poucos meses do garoto em seus braços, tentando-a fazer dormir.

— Filho, ainda acordado à essa hora? — indagou a mãe.

— Sim, eu… eu não consegui dormir — ele coçou a nuca.

— Parece que somos dois — a mãe deu uma risadinha — Pam ainda está se adaptando ao berço novo então fica difícil fazê-la dormir. O que está fazendo, Perci…

PJ virou-se para a mãe, ele não gostava de seu nome de batismo, Percival, preferia ser chamado pelas iniciais do que pelo próprio nome. Ou ser chamado de Pierce, ao menos, já que era um nome melhor que, bem, melhor que Percival. Ele abominava qualquer traço de seu pai em si, principalmente o nome que ele havia recebido.

— Pierce. PJ. — corrigiu a mãe, ela estava sonolenta, era possível ver pelas olheiras escuras — O que tanto faz acordado?

— Eu estou arrumando a mochila — disse o rapaz apontando para bolsa-carteiro que estava próximo à sua escrivaninha onde o computador ainda estava ligado — Eu ando meio ansioso.

— Anda tomando seus remédios, meu bem? — perguntou a mãe colocando uma mão sobre os ombros dele.

PJ acenou com a cabeça. Ele havia tomado os remédios para ansiedade que seu psiquiatra havia passado, mas não no dia de ontem e bem, não hoje. Ele estava tão eufórico com tudo aquilo que ele mal conseguia parar quieto no lugar. Era como se seu coração fosse uma fornalha e estivesse sendo alimentado constantemente com carvão, incendiando suas veias com toda aquela energia inquieta.

— Você sabe que não vai sair em jornada tão cedo, não é? — indagou a mãe — Só no domingo.

— Eu sei, eu sei, eu sei — repetiu três vezes a mesma sentença — Você quer ver o concurso.

— Eu prometi para a Milla que veria, é o sobrinho dela que vai estar de volta à cidade! — disse a mãe — Sei que tiveram algumas desavenças no passado, mas Aleksey já foi seu amigo. Seu melhor amigo.

— Eu tinha doze anos, mãe, ele sabe muito bem o que fez — bufou o rapaz.

— E está quase completando dezoito — disse a mãe — Não se pode guardar rancor, não faz bem.

Pfft… — ele revirou os olhos — Eu não gosto dele, mãe. O cara é um falso, metido a idol que gosta de ficar se mostrando.

— Você quem sabe — ela disse — Enfim, já que está acordado, eu queria conversar com você algo, é sobre sua jornada.

— Ah não. Não. Nana-nina-não — ele negou insistentemente, ele já sabia muito bem do que se tratava — O Luca não vai! Eu não quero que ele vá! Ele é um mala sem alça do caralho!

— PJ! — ralhou a mãe tapando os ouvidos da neném que dormia embalada em seus braços — Olha o linguajar. Ele é seu irmão, eu prometi a ele que poderia ir com você e Ren.

— Ele é meu meio-irmão — corrigiu PJ, ainda bufando — E eu não vou levar aquele pentelho não. Ele fica em casa!

— Luca gosta tanto de você e do Ren, Pierce — a mãe segurou a mão do filho, alisando-a, encarando-o direto em seus olhos castanhos-avermelhados — Eu queria dar a ele uma oportunidade de ir em uma jornada, sabe? E bem, ele estaria tão bem na companhia de vocês dois.

— Mas por que ele tem que ir? É tão injusto! — reclamou o garoto, cruzando os braços, desvencilhando do toque maternal — Eu não quero ficar de babá!

— É uma boa chance de se aproximarem, filho — disse a mãe, tentando convencê-lo — Vai ser algo bom para os dois e bem, é o que posso fazer por ele, antes de… Promete que não irá contar a ele?

Ele olhou de soslaio para a mãe.

— Contar o quê?

— Eu e seu padrasto, bem, seu avô também, principalmente ele… — ela começou — Luca conseguiu passar em uma escola de renome em Violet, ele fez as provas no semestre anterior e recebemos os resultados.

— E? — PJ levantou uma das sobrancelhas.

— E aí que eu queria que fosse segredo — disse a mãe — Ele não sabe que os exames são para essa escola e seu padrasto já economizou tanto e bem, eu queria que ele aproveitasse antes de ser mandado para um colégio interno.

— Por que ele pode ir para um colégio interno chique e eu não? — questionou o rapaz — Parece até que ele é o filho favorito!

— Sabe que não é verdade! — protestou a mãe — Eu quero que ambos tenham tudo o que quiserem, do bom e do melhor, mas com a situação do seu… a situação de Mark — ela disse o nome dele com desprezo como se fosse uma praga rogada. — Não tinha como ingressar você naquela escola e bem, queríamos tentar com Luca já que as notas dele andam indo bem na escola e já se mostra bem capacitado para uma jornada. Não tem problemas, não é?

PJ suspirou tão fundo que sentiu o próprio peito esvaziar de ar, desinflando.

— Ele tem doze anos, mãe — disse PJ — Eu e o Ren não vamos ficar de babá dele. Eu não quero atrasar minha jornada porque ele ficou cansado no meio do caminho e os pés estão doendo.

— Não te peço muito, filho — disse Christina.

— Tá bom, tá bom, tá bom — ele repetiu três vezes — Mas com algumas condições, okay?

— E quais são? — Christina disse, toda ouvidos, atenta ao que o seu filho mais velho iria pedir.

— Primeiro: ele faz as próprias malas e arruma a própria barraca, além de cuidar das coisas dele, não vou me responsabilizar se ele perder, sei lá, uma escova de dentes.

— Aham, continue.

— Segundo: Eu não quero em hipótese alguma ouvir choramingo ou reclamação — continuou ele, negociando os termos — Eu não sou babá, ele já é um menino crescido, vai ter que andar sim! Não vai ter nada easy nessa jornada.

— Meio pesado, mas okay, vejo seu ponto.

— Terceiro: O Luca tem três strikes, se acontecer algo muito perigoso durante a jornada e ele estiver envolvido no terceiro ele volta para casa — ele finalizou a negociação com a mãe — Não quero, sei lá, que ele se perca numa floresta cheia de Pokémon perigosíssimos ou se envolva no meio de uma batalha contra alguém barra pesada.

— Você faz parecer como se você fosse sair em jornada para derrubar alguma organização criminosa — Theresa riu de leve — Mas entendi. Se for assim, eu permito, irei falar com ele pela manhã.

Christina levantou-se da cama do filho e foi em direção à porta, mas parou perto da maçaneta:

— Ah, aliás, esqueci de dizer uma coisa.

— Sim, Mama?

— Seu avô me pediu para falar para irem na casa dele antes de partirem em jornada — disse ela — Ele tem algo muito importante para conversar com você e seu amigo antes de partirem.

— Pode deixar — PJ acenou com a cabeça — Fica bem, mãe, boa noite.

— Boa noite — disse ela — E vê se dorme, rapaz!

A mãe saiu pela porta e fechou-a, deixando PJ sozinho com a tela do computador ligada. Ele voltou a conferir tudo que precisava para ir seguir viagem, ele tinha comprado tanta coisa que já sabia que sua bolsa ficaria muito pesada, então teria que saber separar as coisas necessárias.

Algumas mudas de roupa, itens de higiene pessoal, seus documentos e itens para acampar como um saco de dormir, barraca, fogareiro portátil, corda, uma lanterna a luz solar e provisões para duas semanas já ocupavam um bom espaço. Ele também havia comprado algumas Pokébola e poções e bem, também havia comprado a comida de seu Gligar que àquela hora da madrugada, como um ser de hábitos noturnos, havia saído para um voo breve antes de retornar pela manhã.

— Okay, eu tenho meu carregador e um power bank — ele disse olhando para os objetos em sua mesinha — Hã, está faltando algo?

Ele não se lembrava, mas sua mente divagou daquele cheque de inventário no momento que uma notificação havia apitado em seu aplicativo de mensagens no PokéGear, o fazendo instantaneamente pegar o aparelho e deslizar seu dedo pela tela e ver de quem era a mensagem. Seu coração chegar a bater até mais rápido que antes, como se todo o carvão que incendiasse naquele fornalha queimasse de uma vez só, a mensagem era de Catty, a sua namorada:

Catty 👑🌹💞:

Vi que ainda estava on — 02.32AM

Você ainda não foi dormir? — 02:32 AM

Ainda acordado? — 02:33 AM


PJ:

Yup, tô sem sono 😪 — 02:33 AM

Não consigo dormir — 02:33 AM

Ansiedade atacou — 02:34 AM


Catty 👑🌹💞:

E o que tem te deixado tão ansioso??? — 02:34 AM

Posso saber??? — 02:34 AM

??? — 02:34 AM


O tom de Cat nas mensagens soava um tanto, hã, mandão, chegava a ser meio grosseiro, mas também eram duas e tantas da madrugada, PJ não podia cobrar a sua namorada para ser mais educada e gentil sabendo que ela também deveria estar bêbada de sono àquela hora e que, assim como ele, estava completamente acordada e não conseguindo pegar no sono de jeito algum.


Catty 👑🌹💞:

Hein?? — 02:35 AM


PJ:

Não consigo dormir — 02:35 AM

Ando ansioso com a jornada e tals — 02:35 AM

Eu e meu mlhr amg vamos partir esse domingo — 02:36 AM

E pra piorar a minha mãe quer que eu leve o mala sem alça do meu meio-irmão — 02:36 AM

🙄 — 02:36 AM


Catty 👑🌹💞:

Ainda vai sair em jornada?? — 02:36 AM

E que mlhr amg é esse??? — 02:36 AM

Não é uma menina não é??? — 02:37 AM

PJ quem é esse mlhr amg?? — 02:37 AM


PJ:

— 02:37 AM

É o Ren lembra dele não??? — 02:37 AM

Baixinho, magrelo, o cabelo é colorido — 02:38 AM


Catty 👑🌹💞:

… — 02:38 AM

Sei qm é — 02:38 AM

O anão da Branca de Neve — 02:38 AM

Me lembro dele — 02:38 AM

O q smp tá com vc nas fotos e nos vids da sua “banda” — 02:39 AM

🙄 — 02:39 AM

Pq anda com ele? — 02:39 AM


Que tipo de pergunta era aquela?

Ele e Ren eram amigos, bem, desde que estavam no jardim de infância, indo para a mesma escola desde pequenos até a adolescência. Se não fosse por Ren talvez PJ nem se interessasse em sair em uma jornada e muito menos descobriria o que é a Batalha da Fronteira. Tinha sido tudo sugestão de Ren eles saírem juntos de Cherrygrove e começar suas carreiras como treinadores. Cat não poderia estar com ciúmes de Ren, poderia? Nah. Ele e Ren eram apenas amigos e bem, Ren não fazia seu tipo. 

Cat começou a digitar de volta, duas linhas seguidas de reticências. Ela continuou digitando até que chamou a atenção do garoto com uma pergunta mais estranha que a anterior, o que causou ainda mais estranhamento para o rapaz. O que ela estava pensando?


Catty 👑🌹💞:

… — 02:40 AM

… — 02:40 AM

Não vai me responder? — 02:40 AM


PJ:

Ué, Ren é meu melhor amigo oras — 02:40 AM

A gnt já ia sair em jornada tem mó tempo — 02:40 AM


Catty 👑🌹💞:

Tá… — 02:41 AM

Ainda vai desafiar a Batalha da Fronteira? — 02:41 AM


PJ:

Vou sim, princesa — 02:41 AM

Pq a pergunta? — 02:42 AM


Catty 👑🌹💞:

Nada… — 02:42 AM

Apenas queria… — 02:42 AM

saber… — 02:43 AM

Vou dormir — 02:43 AM

Também deveria — 02:43 AM


PJ:

Boa noite, princesa 😘 — 02:44 AM

Dorme bem — 02:45 AM

Sonha cmg — 02:45 AM


PJ bloqueou o celular em seguida, deixando-o em cima da escrivaninha. Sua namorada estava um tanto estranha, mas talvez fosse impressão sua, mas não havia razões para ela ser tão ácida em relação a Ren. Depois de ver pela última vez o inventário na mochila e verificar as informações adicionais que precisava no site da Batalha da Fronteira, ele desligara o computador e fora dormir, ele ainda tinha um dia longo pela frente.



Masako Tomoki

Edifício Abandonado, New Bark, Johto

Quarta-feira, 27 de abril

Horas depois…


Ela se sentia como uma bola de tênis sendo arremessada de um lado para o outro. A garota não conseguia sequer dormir, tamanha era a preocupação em saber que Minori estava em algum lugar de Johto, possivelmente sendo torturado ou enfrentando algo ainda pior. Seu coração doía só de pensar nisso.

No prédio abandonado, ela finalmente conseguiu deitar em uma cama, embora mofada, mas ainda assim melhor que nada. Seu irmão gêmeo, por outro lado, permanecia no corredor, também sem sono, procurando por notícias e manchetes de jornais online que pudessem levá-los a pistas sobre seus sequestradores. Mas, infelizmente, parecia ser tudo em vão.

— A duplinha aí não dorme, não? — a voz torrencial de Silver ecoou pelo corredor.

O ruivo estava vestido, aparentemente preparado para sair. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque alto, e nas costas ele carregava sua mochila. Seu olhar severo e mercurial penetrava a alma de Masako, fazendo-a arrepiar-se. O apartamento úmido parecia ficar ainda mais frio com sua presença.

— Não conseguimos dormir — ela disse, coçando um dos olhos, demonstrando um pouco de cansaço.

— Qual a de vocês dois? — perguntou o ruivo — Disseram estar perdidos, mas parece a maior mentira de todas. Ninguém perdido entraria em um prédio abandonado.

— E por que quer saber? — indagou Tenma de volta, devolvendo o coice — É você quem estava nesse prédio abandonado para começar, e parecia mais suspeito que nós. Qual a sua, Silver?

— Língua ferina, hã — impressionou-se ele — Eu estou lidando com algo bastante pessoal. Quero vingança, eliminar certos alguéns...

A voz de Silver expressava um ódio não antes visto por Masako. Era voraz, como uma enchente prestes a varrer tudo o que havia pela frente, mas, por outro lado, o rapaz também parecia tão perdido quanto eles, como se não soubesse por onde começar, para ser honesto.

— Quer se vingar de quem? — Masako disse curiosa, envolvendo-se no cobertor fino e indo até o seu gêmeo.

— De um certo grupo de pessoas — ele respondeu, frio — E vocês, o que tanto querem? Por que, entre todos os lugares em Johto, estão justamente em New Bark?

— Procurar por nosso irmão — ela respondeu, Tenma arregalou os olhos e virou-se — E-ele foi sequestrado.

Nee-san! — ele ralhou — Ele não precisava saber!

Silver ergueu uma das sobrancelhas, e seu sorriso apresentou uma pitada de escárnio e maldade. Ele olhou diretamente nos olhos de Tenma com aquele par argênteo de olhos e, em seguida, para o laptop no colo do garoto, disse:

— Esse é um Silphbook de última geração, não é? — ele indagou — Parece ter sido feito por encomenda, especialmente para você, assim como seu fone sem-fio e seu PokéGear. São ricaços, não são?

Masako ficou boquiaberta, Tenma recuou, descrente, fitando Silver com certa indignação, como se o disfarce de ambos tivesse sido revelado só pelo fato de portarem aqueles dispositivos.

— Os pais de vocês são empresários ou algo do tipo? — ele continuou — Tá, não precisa responder. Vocês sabem que quem quer que tenha tentado sequestrar o irmão de vocês pode muito bem tentar rastreá-los pelos dispositivos, não é? Podem ter instalado algum dispositivo ou aplicativo invisível no PokéGear de vocês ou mesmo nesse Silphbook.

— Você fala como se fosse um gênio da tecnologia.

— Bem, eu não sou — ele deu de ombros e pegou o laptop de Tenma, começando a investigar algo — Mas sei algumas coisas sobre hacking e acho que podemos fazer uma trégua e nos ajudarmos. Que tal?

— E o que você quer? — perguntou Masako, apreensiva, agarrando-se ao cobertor como se quisesse se proteger de todos os males do mundo.

— Só o fim da organização que me causou mal — ele respondeu — E, em troca, eu ajudo vocês a encontrarem seu irmão. Uma mão lava a outra e ambas lavam os pés. Quem sabe os sequestradores estão em conluio com quem eu quero destruir, hã?

A princesa mordeu levemente o lábio. Seu gêmeo levantou-se, alguns centímetros mais alto que o ruivo, apresentando certo furor na face, como se o acordo fosse a coisa mais absurda de todas.

— E o que você ganha com tudo isso? — indagou Tenma de braços cruzados.

— Não pensem que eu quero dinheiro — respondeu o ruivo — Eu só quero que me ajudem, e em troca, eu ajudo vocês. Ficou claro ou não?

— Como posso saber que posso confiar em você, Silver? — Tenma cruzou os braços.

— Bem, Kousei — ele forçou o uso do nome falso do príncipe — Eu posso começar dando uma limpa no seu computadorzinho e em seus outros dispositivos para garantir que os próximos a serem sequestrados não sejam vocês!

— Isso… isso faz sentido — disse Masako — E mais o quê?

— Bem, eu posso providenciar pelo menos identidades falsas para vocês — disse o ruivo — Vocês não parecem ter nenhuma. Se estão escondendo suas identidades, é melhor que sejam ao menos críveis e que não levantem suspeitas.

Tenma massageou as têmporas. Odiava ser contradito, mas tudo que saía da boca de Silver fazia total sentido. Eles estavam sendo burros e ingênuos. Já estavam arriscando muito saindo por aí com o risco de serem reconhecidos. Masako já estava cansada de ter que vagar pela cidade na calada, com medo de ser reconhecida. Além disso, em algum momento, alguém iria pedir a documentação deles. Com ao menos IDs falsas, poderiam continuar suas atividades livremente.

— Droga! — Tenma bateu o pé — Mas que fique claro: a parceria acaba quando ambas as partes tiverem resolvido o que tinham para resolver, okay? Não quero ser conivente com o crime de falsidade ideológica!

— É melhor do que ser conivente com sequestro e tráfico humano, não é? — Silver sorriu, cheio de escárnio.

— Seu… seu… ugh — Tenma desistiu. Não sabia como xingar à altura, apenas entregou os pontos e deixou que Silver fizesse o que tinha que fazer.

— Bem, vamos lá — Silver disse, sentando-se com determinação e começando a trabalhar no laptop do garoto de cabelos azuis. Ele retirou um pen-drive de sua mochila e o conectou com agilidade. — Hora de instalar um programa para garantir que ninguém esteja nos rastreando, ou que aqueles caras que sequestraram o irmão de vocês nos encontrem. Depois farei o mesmo nos celulares de vocês, mas agora me deixem fazer minha mágica aqui.

Como um maestro regendo uma orquestra invisível, os dedos de Silver deslizaram pelo teclado do computador, seus olhos prateados movendo-se com precisão a cada linha de código digitada e clique no trackpad. Era uma sinfonia de hacking, distante dos exageros dos filmes de ação que ele costumava ver na sala de cinema privativa de sua família na villa imperial em Goldenrod. O programa que Silver havia instalado no laptop estava em execução, enquanto ele também invadia o sistema pouco seguro do Planalto Índigo, registrando Masako e seu irmão como treinadores em jornada.


Nome: Harada Kousei

Idade: 16 anos

Endereço: Rua 014-C, Bairro Arisugawa, Cidade de Violet

Filiação: ...


Silver preencheu cada campo com precisão cirúrgica, exibindo suas habilidades como hacker. Masako e seu irmão agora não carregavam os pesados e monótonos títulos de príncipes e princesas imperiais. Eles assumiram novas identidades, mascarando sua verdadeira natureza. Encontrar Minori seria mais simples daqui em diante. Eles não eram mais Masako e Tenma, os sobrinhos-netos do Imperador Kamino. Agora eram Harada Tomoki e Kousei, duas pessoas comuns entre a multidão.

— E voilà! — exclamou Silver, pressionando a tecla "enter" com um sorriso autoconfiante, suas habilidades como hacker evidentes. — Agora só precisamos buscar suas novas identidades no Centro Pokémon de Cherrygrove amanhã de manhã. Se partirmos agora e acamparmos na Rota 29, chegaremos lá por volta das nove da manhã e poderemos aproveitar um excelente café da manhã. Espero que gostem de miso vermelho e doces de sakura.

— Sair agora? — questionou Masako, com incerteza. — Mas são três horas da manhã!

— Não dá para darmos uma descansada? — sugeriu Tenma.

Silver fechou o laptop e o entregou a Tenma, exibindo impaciência e urgência.

— Se vocês querem seguir comigo, é melhor se mexerem e saírem da cidade o mais rápido possível. O tempo é valioso, e quanto mais distantes de New Bark estivermos, melhor. Ou vocês preferem ficar aqui, presos nesta cidade de caipiras?

Os gêmeos negaram com a cabeça.

— Então é melhor vocês se apressarem, arrumarem suas coisas e partirem. Não temos espaço para conforto. Vocês querem encontrar o irmão de vocês, e eu quero minha vingança. Simples assim. Agora, mexam-se e vamos logo!


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{ 2 Comentários... leia-os abaixo ou comente }

  1. E finalmente em dia! kkkkkkkk

    Interessante ver que o Tenma e a Masako agora estarão junto com o Silver. Você reorganizou os grupos de uma forma diferente, e agora são vários grupos menores, o que deve acabar te beneficiando na dinâmica e no trabalho com as personalidades de cada um. No momento que os três se encararam eu tive um pressentimento de que eles iam ficar juntos, mesmo assim foi legal ver como o desenvolvimento foi se dando.

    PJ, essa garota aí que você tá namorando é problema! Alerta vermelho! E cara, o Luca tá de volta! Eu não sei o que foi que me fez pensar nisso, mas por um momento eu achei que ele não estaria nessa nova versão. Mas o PJ precisa de uma criança pentelhando ele na jornada, senão sua vida terá um vazio não preenchido kkkkkkkk

    Cuidado com o Silver! Ele é o Anonymous! Esse aí na época de escola hackeava Orkut dos outros que era uma beleza. Método mais fácil de ser popular, é verdade. Mas cara, nem imaginava que ele pudesse ter uma habilidade dessa. Com certeza vai ser muito útil pra conseguir facilitar a vida deles três, mas eu ainda acho que em algum momento isso vai dar merda. Porque não importa o quanto você consegue camuflar as coisas que você faz na internet, você sempre vai deixar rastros. Basta um bom perito em segurança da informação que ele descobre rápido de onde veio tudo. Então é bom eles andarem na maciota, sem mexer muito nessas coisas pra não correrem o risco de chamar a atenção.

    Mais um ótimo capítulo!

    Até a próxima! õ/

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    1. E finalmente respondi todos os seus comentários, ufa!!

      Foi uma jogada de milhões colocar os gêmeos com nosso ruivo, todos ali escondendo mil e um segredos um do outro, mal vejo a hora da bomba explodir na cara dos três na hora da grande revelação, haha. Mas por ora nada grande vai acontecer. Ou será que vai? Só espere e verá, meu amigo, tenho muitas cartas na manga.

      As red flags tão aí, só não vê quem quer, já digo, essa Catty é encrenca pura, viu. PJ pisque duas vezes se precisa de ajuda.

      E sim o Luca está de volta! Mas ele não é TÃO criança assim, ele já tem seus treze aninhos, uma idade meio tenebrosa, pois todos nós sabemos como são esses recém-adolescentes, haha. Prepare-se para o terror em forma de guri. Eu não queria me livrar dele, ele é um personagem vital e que se eu descartasse assim sem menos eu me sentiria muito culpado, e acho que é a oportunidade perfeita para poder desenvolver ele propriamente, então fique no aguardo, darei um personagem que não será reduzido a apenas a ser o irmãozinho pentelho do PJ.

      Silver saber um pouco de hacking é mais dado ao tempo dele com a Equipe Rocket, mas eu não diria que ele é o melhor nisso, mas que ele sabe das coisas, mas não garanto que não haverá consequências para as ações dele, é como você disse, sempre há rastros por mais que você tente encobrir e eu lhe garanto que por ora o Silver pode dormir tranquilo, mas que logo ele vai perder as noites de sono se ele não se atentar.

      É isto, até o próximo capítulo.

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